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Quem foram os povos indígenas no Brasil?

Carta Educação- http://www.cartaeducacao.com.br
Autor: Antonia Terra de Calazans Fernandes
28 de Mar de 2016

Para estudar a história dos povos indígenas no Brasil é necessário estabelecer diálogos com diferentes áreas de pesquisa. Contribuem as descobertas feitas por arqueólogos, a partir da localização e análise de objetos de cultura material - fogueiras, cerâmicas, restos de alimentos, urnas funerárias; os estudos de registros feitos pelos europeus, que aqui estiveram ao longo de cinco séculos, e que escreveram, desenharam, pintaram e fotografaram aldeias, famílias e atividades cotidianas dos nativos; e as memórias preservadas pelos ancestrais indígenas, que contam suas histórias aos seus filhos, netos e bisnetos.

Observe o desenho acima. Ele foi feito por um francês chamado Hercules Florence (1804 - 1879), integrante de uma expedição científica durante os anos de 1824 a 1829, comandada pelo Barão de Langsdorff (1774 - 1852). Esse artista retratou, nesse desenho, os índios Guaná. Encontrou-os em Albuquerque, antiga vila portuguesa fundada em 1778, instalada na margem direita do Rio Paraguai. A história da vila remonta à disputa de território entre portugueses e espanhóis na região. Atualmente, Albuquerque é a cidade de Corumbá, no estado Mato Grosso do Sul.

O desenho é uma fonte de informação histórica. Registra, por exemplo, as embarcações dos Guaná naquela época. Outras fontes indicam, por exemplo, que um dos grupos Guaná foi ancestral do atual povo Terena, que atualmente fala a língua Chané-Guaná, da família linguística Aruak. Os Terena têm habitado a região próxima aos afluentes do Rio Paraguai (Aquidauana e Miranda) há centenas de anos.

Diversos outros povos indígenas viveram próximos do Rio Paraguai. E remontando a história de ocupação desse território, os arqueólogos identificaram vestígios de que foi habitado há cerca de 5 mil anos por populações de caçadores-coletores-pescadores, que utilizavam ferramentas líticas (feitas de pedra). Ao longo do tempo, esses povos atuaram no ambiente em que viveram, fazendo manejo de várias espécies vegetais (palmeira acuri, arroz do pantanal...) e iniciando uma agricultura simples. Por volta de 3000 anos atrás, a região era efetivamente ocupada por diferentes populações que construíam aterros nas planícies inundáveis, produzindo cerâmicas e praticando agricultura.

Ao longo dos séculos, outras fontes indicam a presença dos Guaná nessa região. Pelo relato do padre Diogo Ferrer, de 1633, sobre a missão jesuítica do Itatim (nome Guarani dado à região onde fica hoje o estado do Mato Grosso do Sul), na margem direita do Rio Paraguai, viviam os Gualacho, que compreendiam os Guaná, Tunu, Baya, Guaramo, Guaycuru ou Guaycuruti, Guayarapo, Payagua, Charaye e Orejone. Segundo esse jesuíta, esses povos eram lavradores, plantavam arroz e eram grandes pescadores.

O naturalista português Alexandre Rodrigues Ferreira, em 1791, também esteve nesse território. Em carta ao governador Albuquerque Pereira, escreveu sobre os costumes dos Guaná, contando que casavam com os Guaicuru, de quem eram vizinhos, amigos e aliados. Suas casas eram em forma oval, com cumeeiras altas e cobertas de sapé. Plantavam milho, feijão, batatas, canas, mamões, bananas, abóboras, melancia e arroz plantado em lagos e pântanos. Eram ainda criadores de cavalos, como os Guaicuru.

No século XIX, as expedições científicas europeias também registraram algumas características dessas culturas. Observe esse desenho de Hercules Florence.

Repare nos detalhes e procure identificar elementos culturais dos Guaná. Observe as roupas e os cabelos. Estão usando grandes panos enrolados no corpo, alguns com cabelos curtos, uma mulher com trança e um menino com calça e um chapéu. Compare com esse outro desenho, também feito por Hercules Florence.

Os tecidos de algodão, com fios tingidos, aparentam um trabalho artesanal laborioso. Florence escreveu que foram feitos no tear pelas mulheres Guaná. Eram considerados panões (panos grossos), usados para vestimentas e redes. E conta:

Cifram-se as roupas dos Guanás para os homens num pano que enrolam como tanga e atado à cintura, caindo, quando muito, até os joelhos; e num pedaço de fazenda quadrado, retangular ou puxado mais para o comprido, o qual tem no meio uma abertura por onde enfiam a cabeça e que não lhe resguarda mais que os ombros, peitos e espátula.

A partir do século XVIII, os Guaná passaram a ser aliados dos portugueses e quando os paraguaios invadiram o território brasileiro, no episódio conhecido como Guerra do Paraguai (1864 - 1870), eles integraram as tropas nacionais e abasteceram o Exército de alimentos. Mas, com o fim da guerra, seu território foi disputado por fazendeiros, impondo a perda das terras onde viviam, que foram só parcialmente recuperadas com os processos de demarcação das terras Terena no século XX.

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