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Quando o sonho vira pesadelo

A Crítica-Manaus-AM
Autor: Terezinha Patrícia
03 de Mar de 2002

Bernardino Alexandre Pereira, 39, desempregado, mora em Manaus há 15 anos. Deixou a aldeia ticuna, em Umariaçu, Município de Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus), com o sonho de mudar de vida. Aqui foi vigilante, servente de pedreiro e fez outros pequenos serviços. A mulher, Elcilene, também ticuna, trabalha como doméstica. O casal traduz o estilo de vida dos indígenas que moram nos mais diversos bairros da capital, enfrentando preconceitos e inúmeras dificuldades.

De sexta-feira até ontem eles ficaram na Chácara Buscapé, quilômetro 22, da BR-174 (Manaus-Boa Vista), com os seis filhos, a mais velha - Missilene tem 17 anos e os caçulas - Eron e Braz - completam dois meses esta semana. Elcilene fará ligadura de trompas em breve para não ter mais filhos. No encerramento 1o do Encontro dos Índios da Cidade, eles apresentaram a "dança da moça nova", uma tradição ticuna, que marca o fim do período de reclusão de um ano da jovem que passa pela primeira menstruação.

Bernardino luta para fundar uma associação com as 12 famílias ticunas que moram na comunidade Cidade de Deus (Zona Leste), para conseguir recursos financeiros e construir um galpão onde possam fazer artesanato e mostrar um pouco da cultura. Esta será uma forma de aumentar a renda familiar, ao mesmo tempo que preservam e divulgam os costumes aos habitantes da capital.

Quando chegou a Manaus, o casal morou em um quarto alugado, no bairro do Japiim, Zona Sul, sem muito contato com os outros parentes. O primeiro emprego de Bernardino foi numa empresa de vigilância onde ficou por dois anos e oito meses. Trabalhou também na Secretaria Municipal de Obras, como ajudante em asfaltamento de ruas e operação "tapa-buraco", durante seis anos. Depois perdeu o emprego e nunca mais trabalhou com carteira assinada, sobrevivendo de "bicos".

Em ele 1999 participou de um encontro indígena na Secretaria Estadual de Educação (Seduc). A semente estava plantada. As discussões deixaram em Bernardino a vontade de reunir outros ticunas para lutar pelos direitos básicos. No próximo dia 10 acontece a reunião definitiva para a fundação da associação.

Manoel Luís Gil da Silva, 43, é o cacique dos saterés-maués, uma comunidade de 83 pessoas, que moram no bairro da Redenção (Zona Centro-Oeste). Essa etnia é a mais bem articulada. Domingos Sávio Vaz, 41, representou os dessanas, tuiucas, tucanos e baniuas que moram na Praia do Tupé, no rio Negro, e vivem de agricultura e artesanato. Domingos também quer organizar uma associação. Assis Barreira da Silva, 58, da etnia apurinã, avaliou o encontro como positivo, mas ficou triste porque os "parentes" não estão interessados na caminhada que ele empreende para a organização dos apurinãs que moram em Manaus.

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