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Quando o socorro chega atrasado

CB, Brasil, p. 13
20 de Abr de 2008

Quando o socorro chega atrasado

Durante quatro dias, um bebê tirió agonizou com diarréia e desidratação.O socorro não chegou a tempo. Gian Tirió morreu, aos 18 meses, no mesmo dia em que foi levado num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o Hospital da Criança de Macapá (AP). O desespero da mãe, Francilene Tirió, que carregou junto ao peito o filho inconsciente durante toda a viagem, era visível no olhar distante e sofrido. Inconsciente, Gian só entrou no carro da Funasa 30 minutos depois de desembarcar na capital do Amapá, em 11 de abril.
Na semana passada, outras 35 crianças da tribo sofriam com desidratação - três delas haviam sido encaminhadas às pressas para Macapá. Mas a morte de Gian foi o primeiro caso de óbito registrado na aldeia. Na ausência de médicos da Funasa, o atendimento de emergência é dado pelo enfermeiro do pelotão do Exército, sargento Mauro Lima Baía. "Essas doenças são importadas do Suriname. Muitos índios vão visitar parentes lá e voltam mal. Tem muito turistas nas aldeias do Suriname", argumenta Luzio Katxuyana, agente de saúde, reclamando que ficaram mais de um mês sem receber visitas de técnicos da Funasa. "Há 15 dias estamos sofrendo", completa o cacique Tadeu Simétrio Tirió.
A diretoria regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) diz que encaminhou informes sobre a situação "gravíssima" dos tirió à direção nacional do órgão e também ao Ministério Público Federal (MPF). Explica ainda que a distância e a dificuldade de acesso impedem o órgão de manter médicos na tribo. Em caso de emergência, aeronaves buscam os índios doentes.
Os tirió reclamam que passam fome. Por serem caçadores tradicionais, não recebem cestas básicas. Mas as chuvas intensas nos últimos meses fizeram as águas dos rios subirem. A caça e a pesca ficaram mais escassas e os índios abandonaram a horta que montaram com o frei cearense Paulo Calixto Cavalcanti, há 39 anos catequizando os tirió.
Com brinco e corrente de ouro, adquiridos no Suriname, Moisés Tirió mostra orgulhoso a pele da onça pintada que matou com um único tiro de espingarda. Mas diz que jogou a carne fora, porque não servia para comer. Os menores caçam beija-flores com estilingues. Usam penas para confeccionar artesanato, o resto vira churrasquinho.
"Essa fronteira é estável, não existem ameaças. Estamos vigiando, mas a preocupação maior são as ações sociais. É uma área carente", afirma o general Jeannot Jansen da Silva Filho, que está deixando o comando da Amazônia Oriental para responder pela logísitca do Exército, em Brasília. (FO

CB, 20/04/2008, Brasil, p. 13

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