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Quadrilha de grileiros presa em Tocantins

JB, Pais, p.A3
18 de Fev de 2005

Quadrilha de grileiros presa em Tocantins
PF vai investigar se bando está ligado à morte da missionária Dorothy Stang

BRASÍLIA - A Polícia Federal prendeu ontem, em Tocantins, 16 pessoas envolvidas com uma quadrilha de grilagem de terras, ameaças a posseiros e vários outros tipos de crime. A PF vai investigar possível ligação do bando com o assassinato da missionária americana Dorothy Stang, morta a tiros na cidade de Anapu (PA), sábado.

A Operação Terra Nostra, que mobilizou 150 policiais federais, prendeu fazendeiros, pistoleiros, policiais, um advogado e uma tabeliã de cartório, nas cidades de Colina do Tocantins, Bandeirantes, Presidente Kennedy, Guaraí e Tupiratins. A quadrilha vendeu várias glebas e fazendas utilizando-se de documentação forjada. Os pistoleiros ameaçavam e expulsavam os posseiros de terras sem título de domínio para vender as glebas.

O cabeça da quadrilha é Luiz Carlos Fagundes, segurança do candidato derrotado à prefeitura de Bandeirantes, Josafá Camilo. Outro líder do bando é o advogado Ronaldo de Sousa Assis, dono de um hotel e principal agiota de Colinas do Tocantins, a 270 quilômetros da capital Palmas. Na casa dele foram recolhidos 6 veículos.

O advogado recolhia o dinheiro da grilagem de terras e depositava em suas contas. A documentação era forjada no Cartório de Registros de Imóveis de Tupiratins, onde a tabeliã Lucinete de Souza da Silva Araújo, também presa, fazia as transferências fraudulentas dos imóveis para fazendeiros. Na cadeia dominial do imóvel eram incluídos ''laranjas'' e pessoas da quadrilha.

Pelos cálculos da PF, o grupo lesou pelo menos 15 fazendeiros do Paraná e do Rio Grande do Sul, que compraram terras em Tocantins com a intenção de expandir lavouras de soja. A quadrilha tinha seis pistoleiros para expulsar posseiros de áreas sem título de domínio definido. Estão presos Hernandes Adair Coutinho, o ''Lando'', Cláudio Pereira Barbosa, o ''Vô'', Emanuel Arruda Brito, o ''Manoel'', e Nicolau Tavares de Serqueira. Os outros dois estavam foragidos até ontem.

Ao todo, a PF recolheu cinco revólveres calibre 38, uma pistola ponto 40, uma espingarda e uma carabina. Também foram presos o agrimensor Hélio Miguel de Oliveira, o corretor Juldivam Pereira do Nascimento e os policiais Benício Antônio Chaim, Vamberto dos Santos e João Filho dos Santos. Estão presos também os fazendeiros Valdir Gris e Alberto Gris.

Os policiais são acusados de ajudar os pistoleiros a expulsar e ameaçar famílias de posseiros, além de pagar propinas para que os inquéritos ficassem parados. A PF já ouviu oito testemunhas lesadas pela quadrilha, que podem reconhecer os membros da organização criminosa. Além dos dois pistoleiros foragidos, a PF procurava ontem outro corretor envolvido com as fraudes, o que eleva para 19 o número de pessoas incriminadas.

Os presos estão sendo indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato, ameaça, extorsão, falsidade ideológica, falsificação de documentos, esbulho possessório e corrupção, entre outros crimes. As escutas realizadas pela PF mostram integrantes da quadrilha conversando sobre os negócios fraudulentos.

Só uma das fazendas, de mil hectares, em Tupiratins, foi vendida pela quadrilha, por R$ 400 mil, a um fazendeiro da Região Sul. As famílias de posseiros foram expulsas da terra. Posteriormente, os criminosos ameaçaram o fazendeiro, e o teriam obrigado a vender a mesma fazenda por R$ 85 mil.

A PF realizou várias operações de busca e apreensão e, ao final, indiciou por formação de quadrilha e porte ilegal de armas o agente da Polícia Civil do Tocantins Sakai Simonsen de Oliveira. Também foi indiciado pelos mesmos crimes o oficial de Justiça Hermes Lemes da Cunha Júnior.

A PF já solicitou a quebra do sigilo bancário dos integrantes do bando. O esquema de grilagem foi investigado durante um ano. Nos últimos três meses, a quadrilha parou de realizar negócios e a PF esperou que a maioria estivesse em Tocantins para deflagrar a operação. A delegada Andréia Cristina de Vasconcelos Canal, que coordenou a operação, afirmou ontem que vai investigar eventual participação da quadrilha no assassinato de irmã Dorothy, mas antecipou que até agora não apareceu nenhuma indicação nesse sentido.

A investigação teve início com uma denúncia do deputado estadual José Santana (PT), que depois foi ameaçado de morte e recebeu proteção policial. O Tribunal de Justiça de Tocantins concordou que a investigação fosse feita pela PF, devido à suspeita de envolvimento de policiais locais.

JB, 18/02/2005, País, p.A3

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