PV, do ministro Gil, abandona o governo

PV, do ministro Gil, abandona o governo
Descontente com a política ambiental, bancada de sete deputados não apoiará mais
o Planalto. Não houve uma gota d'água - 'foi um oceano', justificou Gabeira
João Domingos
Depois de assinar o requerimento da CPI dos Correios, a bancada de sete deputados do Partido Verde (PV) deu mais uma contribuição ontem para agravar a crise político-parlamentar do governo, ao abandonar a base aliada e anunciar que a partir de agora agirá com independência. Num ato coletivo, a bancada verde anunciou o rompimento, dizendo que "o governo Lula representa um retrocess o na política ambiental brasileira".
A gota d'água, para o depu tado Fernando Gabeira (RJ) "foi um oceano". "Ou esses 26.130 quilômetros quadrados de desmatamento não são um oceano?", comentou Gabeira, levantando a suspeita de que esses números impressionantes ainda podem estar maquiados: "Temos indícios de que o desmatamento é muito maior", assinalou o deputado fluminense.
Os motivos do descontentamento do PV com o governo, no entanto, não se resumem ao problema do desmatamento, o segundo maior da história, anunciado anteontem pelo governo. Os deputados enumeraram entre o que consideram equívocos ambientais do governo Lula a importação de pneus usados, a legalização do plantio e comercialização de transgênicos, o projeto de transposição do Rio São Francisco, a morte por desnutrição de 38 crianças guarani-caiovás, a retomada das obras da Usina Nuclear de Angra 3. Eles protestam ainda contra "o isolamento a que foi submetida a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva".
Os deputados do PV disseram que a saída deles da base de apoio do presidente Lula não obrigará o ministro da Cultura, Gilberto Gil, também do PV, a pedir demissão. "A escolha de Gil foi do presidente Lula. O ministro não foi indicado pelo partido", disse o líder da bancada, deputado Marcelo Ortiz (SP). Ele adiantou que não conversou com Gil, que está no exterior. Mas tentou antecipar o rompimento ao ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que estava ontem no Rio Grande do Sul; como não conseguiu, deixou recado com a assessoria do ministro.
O aviso de que o PV saiu da base foi dado ao líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), por volta do meio-dia, "para que ele não soubesse pela imprensa", explicou Ortiz. Mas àquele momento a notícia já havia sido divulgada pela Broadcast, da Agência Estado.
Ortiz disse que Chinaglia procurou saber os motivos do afastamento do PV. A explicação de Ortiz foi singela e direta: "A política ambiental do governo Lula". Segundo ele, Chinaglia disse que lamentava a debandada do aliado.
Na mesma nota em que comunicaram a decisão de deixar a base parlamentar do governo, os sete deputados do PV anunciaram que vão manter suas assinaturas de apoio à CPI dos Correios. "Apoiaremos também outras CPIs para melhorar a imagem do Legislativo", disse Gabeira, que foi eleito pelo PT, mas rompeu com o partido em 2003.
Os sete deputados do PV, no universo de 513 que a Câmara abriga, representam 1,3% do total. Os sete parlamentares verdes são eles: Marcelo Ortiz, Fernando Gabeira, Edson Duarte (BA), Leonardo Mattos (MG), Jovino Cândido (SP), Vittorio Medioli (MG) e Sarney Filho (MA).

OESP, 20/05/2005, p. A6