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Pupunha e Camu-camu: espécies amazônicas com grande potencial para o agronegócio

INPA-Manaus-AM
21 de Ago de 2003

O solo ácido, pobre em nutrientes para o crescimento dos frutos é uma barreira capaz de desestimular qualquer produtor do Amazonas certo? Errado. Pelo menos para o pesquisador Kaoru Yuyama, da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA) do INPA, o quadro pode ser modificado se o setor primário utilizar as tecnologias disponíveis em instituições de pesquisa como o próprio INPA, por exemplo. Para chegar a uma agricultora de qualidade, além da colaboração das unidades de pesquisa, também são necessários investimento financeiro, garra e paciência, pois os resultados só surgem a médio e longo prazo. "Existe muito potencial no Amazonas, mas, geralmente, os empresários são imediatistas, querem que os lucros apareçam rapidamente. O que não cabe nessa atividade",observa o pesquisador.
Há mais de 20 anos pesquisando o potencial dos frutos amazônicos, o Dr. Kaoru Yuyama participará da Amazontech, evento do Sebrae-Amazonas que acontecerá no período 24 a 27 de setembro e terá participação ativa do INPA. Sua palestra terá como público alvo agricultores e empreendedores da agroindústria de palmito, sucos, fármacos, cosméticos, corantes e alimentos. A intenção é apresentar o potencial do palmito de pupunha; o aproveitamento do fruto e suas sementes. O potencial do camu-camu como alimento rico em vitamina C, e o seu potencial para o uso em fármacos e cosméticos também será enfocado em sua conferência.
Tomando como exemplo a pupunha e o camu-camu, o pesquisador enfatiza que esses frutos podem trazer um importante potencial econômico se o solo, pobre em nutrientes, for corretamente adubado. "Já temos estudos que demonstram isso. Uma pupunheira que está com oito anos não ultrapassa a altura de 30 centímetros. Por outro lado, a espécie adubada está com 10 metros", exemplifica.
Analisado a situação do Amazonas, o Dr. Kaoru explica que as atividades do setor primário precisam do máximo de dedicação como acontece no Sul do Brasil, onde pela própria necessidade, o produtor é forçado a encontrar soluções para escoar sua produção, sob pena de até passar fome se isso não ocorrer. Para ele, no Amazonas ainda falta despertar os agricultores para essa mudança de mentalidade. "Aqui os empresários ainda não se sensibilizaram de que cuidar bem do solo representa lucros, mas é necessário investir em tecnologia, ou seja, desembolsar recursos financeiros. O que geralmente acontece é que eles têm outras atividades e não priorizam a agricultura e em muitos casos, acabam desistindo", se queixa.
Mas sem perder o otimismo, Yuyama aposta que conseguirá despertar o interesse dos participantes por meio de sua palestra. Empolgado, ele exemplifica que o camu-camu tem um mercado fantástico. Pode ser utilizado para a produção de sucos e sorvetes, por exemplo, sem perder o seu alto teor de vitamina C. Além disso, ainda existe o setor farmacológico, no qual as cápsulas de camu-camu, podem suprir muito bem a carência de vitamina C.
Existe ainda outro aspecto interessante nesse fruto: nenhum outro produto já processado mantém o teor de vitamina C. "Desenvolvemos um projeto em parceria com empresários e constatamos que em cada 100 gramas de sorvete de camu-camu, cerca de 450 miligramas eram de ácido ascórbico (vitamina C)." A geléia também mostrou uma performance fantástica: cada 100 gramas do produto acumulava 710 miligramas de vitamina C. Comparando esse desempenho com outras frutas ácidas, estas últimas perdem feio para o camu-camu.
A cultura da pupunha, cujo fruto é rico em pró-vitamina A, é recente no Amazonas. Kaoru Yuyama calcula que de uns 10 anos para cá é que pesquisadores e agricultores passaram a trabalhar juntos no plantio, o que deu bastante fôlego ao setor. "Nós praticamente distribuímos sementes de pupunheira sem espinhos para todo o Brasil. Mas depois de algum tempo os produtores foram desistindo de explorar tanto o fruto, quanto o palmito da pupunheira. Daí novamente eu enfatizo a importância de ter paciência e não desistir na primeira dificuldade".
Segundo o pesquisador outro fator essencial que além do consumo interno, pode abrir caminhos para mercados externos é a união dos produtores. Com um trabalho conjunto, afinado, reunindo o máximo de empreendedores, atingir esses objetivos é só uma questão de tempo. Kaoru Yuyama relata que muitos empresários estrangeiros gostam do sabor dos frutos amazônicos, mas se desmotivam com a falta de quantidade para abastecer os mercados de seus países. "Poucas pessoas produzem, isso também é outro problema". Aliado a esse entrave existe ainda a questão do preço alto para o consumidor interno. É possível encontrar frutas amazônicas vendidas nos principais cruzamentos da cidade, mas os preços são, em muitos casos, impraticáveis. "Às vezes as frutas daqui são mais caras do que a maçã e a pêra que vem lá do Sul", exemplifica.
A data de sua apresentação na Amazontech ainda será definida pelo Sebrae-Amazonas.

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