JB, Internacional, p.A11
03 de Dez de 2003
Protocolo de Kioto se esvazia
Não adesão da Rússia a acordo que pede redução de gases poluentes afasta ação contra aquecimento global
MOSCOU - A Rússia, que pode decidir o futuro do Protocolo de Kioto, anunciou ontem que não vai assinar o documento ambiental, por considerar que ele prejudica seu desenvolvimento econômico. A declaração foi feita pelo conselheiro de economia do Kremlin, Andrei Illarionov, após uma reunião com o presidente russo, Vladmir Putin, e empresários europeus.
- Em seus termos atuais, o protocolo não pode ser assinado, porque significa limitações ao desenvolvimento econômico da Rússia - opina Illarionov.
Apesar da declaração do conselheiro econômico de Putin, as Nações Unidas preferem não tratar o assunto como uma recusa oficial prévia.
- Esse é um conselho, não uma rejeição formal como vimos com os EUA - disse Michael Williams, porta-voz da ONU. - Continuamos otimistas, achando que a Rússia vá assinar o protocolo.
Até o dia 12, a ONU realiza em Milão, na Itália, uma conferência sobre clima, com a participação de 180 países, para tratar do Protocolo de Kioto. Para se tornar uma meta efetiva contra o aquecimento global, o documento precisa da assinatura de 55 países, incluindo muitos Estados industrializados, responsáveis por 55% da poluição que provoca o efeito estufa. Desde o início da coleta de assinaturas, em 1997, o protocolo recebeu o equivalente a 44% de apoio destes países.
A assinatura russa é crucial porque representa um acréscimo de 17% na adesão, o que garantiria com folga a meta de 55% e, conseqüentemente, a queda até 2012 de 5,2% na emissão de dióxido de carbono e outros seis gases, mesmo sem a assinatura dos maiores poluentes mundiais, os EUA. O país chegou a firmar um anexo do protocolo em novembro de 1998, mas deixou de se comprometer com o documento após a posse do atual presidente, George Bush.
Muitos cientistas, no entanto, duvidam da eficácia do Protocolo de Kioto. Eles argumentam que a queda de menos de 10% na emissão de gases poluentes é pouca. Seria necessário cair 60% a 70% até 2050 para evitar uma forte mudança climática no planeta.
Para o secretário-executivo da conferência climática da ONU em Milão, Joke Waller-Hunter, é ''errado dizer que o protocolo fará tão pouco que será insignificante''.
- É um primeiro passo importante que vai levar a um longo e vital caminho - defende.
Alguns analistas, no entanto, dizem que a decisão do presidente Bush de não ratificar o documento por si só já o teria condenado à irrelevância.
Ironicamente, o anúncio feito pelo conselheiro de economia do governo russo coincidiu com a publicação de um relatório da ONU sugerindo que esquiar se tornará impossível em breve em muitas das estações de inverno européias, por causa do aumento das temperaturas, que levará ao desaparecimento da neve em muitas regiões.
Neste ano, a Terra sofreu muitas provas das rápidas transformações e desestabilizações climáticas. A Índia, o Sri Lanka e os Estados Unidos registraram recordes de temperatura, de chuvas e de tornados. A Europa foi vítima de fortes ondas de calor e incêndios florestais sem precedentes, principalmente em Portugal e na França.
Na Europa, poucos avanços
BRUXELAS - Treze dos 15 países da União Européia (UE) não vão baixar suas produções de gases poluentes como ficou acertado no Protocolo de Kioto.
- A não ser que haja um esforço enorme, a UE como um todo e a maioria de seus membros não vão atingir as metas de emissão de gases poluentes - disse a comissária de Ambientalismo do bloco europeu, Margot Wallstrom.
A UE tem a meta de reduzir, até 2012, 8% da quantidade de gases poluentes lançados na atmosfera, em relação aos níveis de 1990. Desde que o protocolo foi assinado, em 1997, só baixou 2,3%.
Sem novas medidas, as emissões de poluentes na UE este ano serão apenas 0,5% menores que em 1990, segundo Wallstrom. Mesmo que o bloco se torne mais rígido na questão do aquecimento global, a previsão é de que a queda seja pequena até o prazo de 2012: 7,2% menor que o nível registrado há 13 anos.
Os únicos países que estão dentro da meta de redução de poluição do ar na Europa são a Grã-Bretanha e a Suécia. A pior performance é da Espanha, que não só deixou de reduzir, como aumentou a emissão de poluentes para 30% acima da meta. Áustria, Bélgica e Irlanda também poluem 20% a mais que no início da década de 90.
A comissária ambiental acredita ainda que a Rússia vá assinar o Protocolo de Kioto, apesar da avaliação de que as metas seriam prejudiciais à economia do país. ''Estamos na expectativa'', acrescentou
JB, 3/11/2003, p. A11
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