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Protestos contra usina já mobilizam Baixo Tietê

OESP, Economia, p. B8
01 de Jul de 2007

Protestos contra usina já mobilizam Baixo Tietê
O primeiro foi em Castilho, e outras manifestações já estão marcadas

Agnaldo Brito

O governo federal deverá enfrentar forte resistência se quiser mesmo instalar uma usina nuclear na região do Baixo Rio Tietê. Bastou a indicação de que um reator poderá ser construído na região, conforme disse o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, para que a rede de ONGs ambientalistas iniciasse uma mobilização regional contra o projeto.

O primeiro ato contrário aconteceu quarta-feira em Castilho, município de 18 mil habitantes, no extremo oeste paulista. E não deverá parar por aí. Os próximos estão marcados para esta semana em Ilha Solteira, Andradina e Pereira Barreto e também em Três Lagoas, cidade do lado de Mato Grosso do Sul. Já circula também um abaixo-assinado contra o projeto.

O plano do governo federal surge num momento em que a região do Baixo Tietê passa por grandes transformações econômicas. A área se tornou a nova fronteira da cana-de-açúcar. A cultura ocupa rapidamente as áreas antes destinadas à pecuária. Quem corta a região pela Rodovia Marechal Rondon percebe a mudança de cenário. Nesta safra, a cana já cobre 15% da área total agricultável do Baixo Tietê. A pecuária ainda cobre 65%. A previsão da União dos Produtores de Bioenergia é a de que em 2012 a área de cana atinja 32%. O pasto então baixará para 48%.

O avanço promete tornar a região ainda mais forte na produção de energia elétrica. Hoje, a conversão de bagaço de cana em eletricidade seria o dobro do previsto no projeto termonuclear de 1.000 MW. Em 2012, pode ser de 5,5 vezes.

Mas não são pequenos os problemas ambientais provocados por essa mudança. Segundo Roberto Franco, presidente da Associação Regional de Defesa do Meio Ambiente (Econg), um dos articuladores da mobilização contra a idéia do governo federal de instalar um reator nuclear na região, a cana-de-açúcar tem mudado a geografia regional. Na safra que acaba de começar, 82 usinas deverão colher cerca de 110 milhões de toneladas de cana, um recorde regional.

João Miguel Amorim, presidente da ONG Amigos Associados de Andradina (3A), lembra que o Baixo Rio Tietê é uma região sensível do ponto de vista ecológico e ainda não encontrou um ponto de equilíbrio entre as atividades econômicas e as exigências ambientais. "A construção de uma usina nuclear na área, além de elevar os riscos inerentes a um empreendimento dessa natureza, amplia os problemas."

A região já enfrentou problemas com os alagamentos provocados pelo enchimento dos reservatórios das quatro usinas hidrelétricas instaladas na região. Em algumas, a relação de potência instalada e área inundável é baixa, como o caso da usina de Três Irmãos, que tem capacidade de geração de 1,02 MW por quilômetro quadrado de área inundada. Na usina de Jupiá, a relação é de 4,7 MW por quilômetro quadrado de área inundada.

A reportagem do Estado percorreu um dos principais santuários ecológicos da região, o minipantanal. Formada pelo Rio Aguapeí, a área abriga dezenas de espécies da fauna e da flora. É também um atrativo para o turismo ecológico e de pesca. Segundo os ambientalistas, é mais uma área ameaçada pelo projeto nuclear.

Prefeitos da região querem discutir impactos

Os prefeitos do Baixo Tietê evitaram condenar ou apoiar o plano de construir uma usina nuclear na região a partir de 2015. "Precisamos discutir para conhecer os impactos", declarou Laerte Aparecido Rocha, prefeito de Nova Luzitânia e presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Baixo Tietê. Celso Junqueira, prefeito de Sud Mennucci e presidente da Associação dos Municípios do Extremo Noroeste de São Paulo, afirmou que os prefeitos topam discutir o assunto. "O primeiro ponto para esse debate com o governo é que ninguém vai abrir mão da sustentabilidade (ambiental)", ponderou.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquin, achou "precipitada" a indicação de onde podem ser instaladas as novas usinas nucleares previstas no Plano Nacional de Energia (PNE). As indicações aproximadas de localização dos quatro projetos foram dadas pelo presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro. Além do Baixo Tietê, ele indicou três outros locais para a construção de usinas: próximo a um reservatório hidrelétrico do Rio Grande (divisa SP/MG), na Foz do Rio Doce (ES) e no Nordeste. Segundo Tolmasquin, o cronograma considera a instalação de um projeto entre 2015 e 2020, de dois na primeira metade da década de 20 e de um na segunda metade. A reportagem tentou falar com o presidente da Eletronuclear sobre as indicações de locais, mas não obteve retorno.

OESP, 01/07/2007, Economia, p. B8

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