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Protesto interdita ferrovia

CB, Brasil, p. 12
11 de Mar de 2008

Protesto interdita ferrovia
Integrantes da Via Campesina e de outros movimentos sociais bloqueiam estrada de ferro em Minas Gerais e suspendem transporte de minério pela Vale. Viagens de passageiros também foram prejudicadas

Daniel Antunes
Do Estado de Minas

Resplendor (MG) - Cerca de 800 integrantes da Via Campesina e dos movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), dos Sem Terra (MST) e dos Pequenos Agricultores (MPA) interditaram, ontem de manhã, a estrada de ferro que liga Vitória (ES) a Minas Gerais. O bloqueio ocorreu na altura do município de Resplendor (MG), no Vale do Rio Doce, prejudicando o transporte de passageiros e de minério pela Vale. A manifestação durou até as 16h30, quando a ferrovia foi novamente liberada. Os manifestantes pediam a reestatização da empresa e o assentamento de mil famílias, que, segundo eles, foram desapropriadas para a construção da usina hidrelétrica de Aimorés. A ocupação faz parte da jornada de luta nacional das mulheres da Via Campesina, cujo lema é Mulheres em defesa da vida e contra o agronegócio.

Por volta das 5h, o grupo bloqueou a ferrovia com pneus e levantou acampamento. Um trem de carga que saiu de Vitória com destino ao Vale do Aço, em Minas, foi interceptado próximo ao local da manifestação. Segundo a Vale, o maquinista Pedro de Jesus Simões, 63 anos, foi mantido refém ao longo de toda a ocupação, fato negado pela coordenação da manifestação.

"Queremos que a Vale cumpra o acordo feito com as famílias atingidas pela construção da barragem no município de Aimorés, que trouxe passivo ambiental e social enorme para os municípios da região. Aqui em Resplendor, por exemplo, a barragem diminuiu a vazão de água do Rio Doce, acumulando lixo e esgoto, trazendo desconforto aos ribeirinhos. Armamos nossas barracas e só vamos sair depois que conversarmos com a Vale", disse Edite Prates, da Via Campesina.

Em um informativo que distribuíram no local, os integrantes da Via Campesina alegam ainda que a hidrelétrica inviabilizou o sistema de esgoto em Resplendor. O plantio de eucalipto em larga escala também teria provocado desequilíbrio ambiental. "Além disso, queremos que a Vale volte a ser patrimônio do povo brasileiro. E que haja controle popular sobre a extração e apropriação do nosso minério", defendeu Edite.

O bloqueio da ferrovia paralisou todo o transporte de minério da empresa para o Porto de Tubarão (ES), que é de aproximadamente 300 mil toneladas por dia. O trem de passageiros que sairia de Vitória para Belo Horizonte e a composição que deixaria Itabira para seguir até Nova Era foram cancelados, prejudicando cerca de 3 mil passageiros.

Justiça
A assessoria de imprensa da Vale informou, por meio de nota, que a empresa recorrerá à Justiça para obter a reintegração de posse. "A Vale não vai negociar com os manifestantes, entendendo que quem faz isso é o governo. Além das medidas judiciais, já informamos aos governos estadual e federal sobre a ocupação. A Vale está surpresa e se sentindo ameaçada com essa invasão", disse o gerente-geral da ferrovia, Paulo Curto. Segundo ele, a empresa vem mantendo o diálogo com líderes dos movimentos sociais, por meio do consórcio (Vale e Cemig). "Esse tipo de manifestação não vai adiante e não resolve a situação, só paralisa uma série de atividades da empresa", afirmou. No fim da tarde, os manifestantes saíram em passeata pelas ruas da cidade até chegar à antiga rodoviária, às margens da BR-259, onde fizeram novo protesto.

Semana agitada

A ocupação dos trilhos da ferrovia pertencente à mineradora Vale foi apenas mais uma da extensa lista de manifestações encabeçadas pela Via Campesina, em ocasião do Dia da Mulher, comemorado no último dia 8. Desde a semana passada, elas já organizaram protestos em 16 estados e no Distrito Federal, envolvendo cerca de 7 mil pessoas de todo o país. Veja os principais:

4/3 - Grupo de 900 militantes da Via Campesina ocupam a Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul (RS), para protestar contra a empresa sueco-finlandesa Stora Enso. Na desocupação, uma das mulheres fica ferida. O movimento acusa a Polícia Militar de atos violentos

7/3 - Em Xanxerê (SC), camponesas e integrantes de movimentos urbanos fecham a rodovia BR-282 para protestar contra a compra de sementes da empresa Agroeste pela Monsanto, transnacional que faz pesquisas genéticas com alimentos

7/3 - Em Santa Cruz das Palmeiras (SP), mulheres da Via Campesina ocupam uma unidade da Monsanto e destroem um viveiro e o campo experimental de milho transgênico

7/3 - Cerca de 1,5 mil mulheres fazem protestos no Paraná contra a transnacional suíça Syngenta Seeds. Elas acusam a empresa de ser responsável pelo assassinato do trabalhador Valmir Mota de Oliveira, no ano passado

7/3 - Mulheres da Via Campesina ocupam a Superintendência Regional de Agricultura no Rio de Janeiro, para denunciar a liberação de duas variedades de milho transgênico pelo governo federal. Elas também fazem um ato em frente ao Consulado da Suíça no Rio

7/3 - Em torno de 400 mulheres do movimento protestam em Brasília contra a Sygenta Seeds, em frente à Embaixada da Suíça

8/3 - Um grupo de 300 sem-terra, em Dourados (MS), realizou ato público em frente à Cargil, empresa do setor agrícola, contra o avanço do agronegócio

8/3 - Cerca de 900 mulheres protestam em frente à carvoaria industrial da Vale em Açailândia (MA). Elas alegam que a queima de eucalipto plantado pela empresa na área contamina o ar do Assentamento Califórnia, a 800m do local

CB, 11/03/2008, Brasil, p. 12

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