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Protagonismo feminino é destaque nas tribos

Diário do Nordeste http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
28 de Ago de 2018

Diferentes em suas funções e etnias, mas iguais em seu propósito. Fortalecer a figura feminina dentro dos povos indígenas ou quilombolas, prestar total serviço e apoio à sua aldeia sem ser limitada pelo fato de ser uma mulher. "Não é fácil", é a frase compartilhada por todas elas. Como conseguiram conquistar um lugar de liderança? "Lutando e se impondo".

Aos 74 anos, a cacique Pequena, do povo Jenipapo Kanindé, é pura força. Inspiração por onde passa. Não é para menos: a mulher é a primeira - e única - cacique do Ceará. Assumiu a representação oficial de seu povo há 23 anos. Rejeitou o pedido por três vezes. Até que aceitou. "Viajei a Brasília. Lá teve uma grande reunião. Um encontro de todos os caciques do Brasil. Eram 39 caciques homens, 40 caciques comigo", relata. "Quando levantei a voz e disse que era cacique, os homens do Sul e do Norte só faltaram me comer crua. Disseram que mulher jamais podia pegar nesse cargo e que só servia para cama e pé de fogão".

Com orgulho, Pequena conta a resposta que deu aos homens, afirmando que a mulher tem direito a se igualar ao homem. Conquistou o cargo de cacique depois de 11 anos de trabalho, sendo reconhecida pelo próprio povo. "Sempre digo às mulheres: sejam fortes. Tenham talento, coragem e sabedoria", aconselha a líder da tribo Jenipapo Kanindé.

Para a presidente da Associação de Professores Indígenas dos Tapebas e única juremeira (conhecedora dos segredos da árvore Jurema) do Ceará, Margarida Teixeira, o papel de destaque desempenhado por ela e por outras mulheres nas tribos é resultado das novas gerações que estão chegando. "Está tendo outra forma de enxergar o papel da mulher. Ela se reconheceu, chegou junto, discutiu de igual para igual e ocupou esse espaço que antes era só do homem", afirma Margarida. Contudo, a missão de manter as tradições em uma sociedade tecnológica se revela como um desafio, conforme relatou a juremeira. Especialista na medicina tradicional indígena, ela revela que a cultura está sendo engolida pela cidade. "Isso acontece em vários aspectos, como da medicina tradicional. Sabemos que a nossa medicina cura, mas hoje eles sentem uma dor e vão ao médico. Às vezes não adianta, porque a doença é espiritual", conta Margarida.

Representação

Dezenas de mulheres com representação de liderança se encontraram no VIII Sesc Povos do Mar. Além de indígenas, o evento contou com quilombolas, rendeiras, entre outras. Para o coordenador estadual de desenvolvimento comunitário do Sesc, Paulo Leitão, esse momento é riquíssimo para elas. "As mulheres assumem um grande papel (nas tribos) de serem guardiãs dos saberes, das práticas comunitárias e rituais. Elas estão cada vez mais assumindo lideranças e realizando diversas formas de educação diferenciada nas comunidades", destaca o coordenador.

Para a vice-coordenadora estadual do Movimento Quilombola, Isabel Cristina, estar nessa posição é construir e fortalecer o protagonismo das mulheres quilombolas. "Estamos quebrando os tabus porque, se não valorizarmos a nossa cultura e nos empoderarmos dentro da comunidade, fora dela a gente não consegue", afirma.

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