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Promessas após morte de missionária não foram cumpridas, diz David Stang

O Globo, O País, p. 14
23 de Set de 2005

Promessas após morte de missionária não foram cumpridas, diz David Stang

Ismael Machado

David Stang, irmão da missionária Dorothy Stang, morta em fevereiro em Anapu, no Pará, disse ontem que, apesar de alguns progressos nas questões da luta pela posse da terra no Brasil, as promessas feitas logo após o assassinato não serão cumpridas sem uma reforma agrária mais eficiente. David Stang anunciou também que pretende ir a Brasília cobrar a federalização do caso.
Nem todos os envolvidos foram presos. As investigações precisam ser mais aprofundadas para que não haja impunidade. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está obtendo progressos, qualquer mudança será insustentável sem uma reforma baseada nos direitos da terra - disse David Stang, lembrando que Lula prometeu assentar 430 mil famílias sem-terra mas ainda não cumpriu. - A quem a Amazônia pertence: ao Brasil ou a fazendeiros, a grileiros e a pistoleiros?
Stang chegou a Belém ontem à tarde com uma comitiva que vai acompanhar o processo. Fazem parte da comitiva o advogado da família, Brent Rushforth; o cônsul especial de Washington, Jeffrey Hsu; e o advogado consultor do caso em Washington, Blake Rushforth.
- Há uma preocupação muito grande com questões básicas, como a negativa de federalização do caso, a possibilidade de desmembramento do julgamento e a mudança do local do julgamento - diz Darci Trigo, da Comissão Pastoral da Terra.
Família quer os cinco acusados julgados juntos
A família de Dorothy Stang quer que os cinco acusados sejam julgados juntos, sem que haja um desmembramento, o que poderia fazer com que o processo demorasse mais tempo pra ser julgado. Outra preocupação é com a possibilidade de o caso ser julgado na comarca de Pacajá. Ainda não há parecer do Tribunal de Justiça do Pará sobre isso. A defesa prefere o julgamento em Pacajá. Os promotores argumentam que o município não teria estrutura para um julgamento desse porte.
- Viemos aqui para aprender um pouco mais sobre o caso e para conhecer algumas autoridades que são importantes na questão da terra aqui em Belém - disse Rushforth.
- Não queremos internacionalizar a Amazônia, como dizem. Ao contrário, a Dorothy veio aqui para devolver a Amazônia aos brasileiros - disse Rushforth.
A primeira reunião do grupo foi com o procurador da República Felício Pontes, que acompanha de perto o caso e foi uma das últimas pessoas a ter contato com a missionária. A reunião teve a presença de membros da Congregação Notre Dame, da qual Stang fazia parte; da Comissão de Direitos Humanos da OAB e da CPT.
Para hoje está prevista reunião na sede do Ibama, com representantes do órgão e também do Incra e da CNBB. Na quarta-feira o Incra anunciou que serão liberados R$ 680 mil para a construção de casas para 96 famílias que já estão assentadas nos Projetos de Desenvolvimento Sustentável Virola Jatobá e Esperança. O dinheiro até agora ainda não foi repassado.

O Globo, 23/09/2005, O País, p. 14

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