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Projetos sustentaveis ja recebem atencao especial dos bancos

OESP, Negocios, p.B10
03 de Nov de 2004

Projetos sustentáveis já recebem atenção especial dos bancos
Quase a metade do setor bancário brasileiro está hoje comprometido com as diretrizes sociais do Banco Mundial
Priscilla Murphy
O Brasil já tem quase metade de seu setor bancário comprometido com os Princípios do Equador, uma série de diretrizes para a concessão de créditos para projetos acima de US$ 50 milhões organizada pela International Financial Corporation (IFC), divisão do Banco Mundial para o setor privado. Esses créditos são destinados a projetos socialmente e ambientalmente responsáveis. A soma dos ativos do bancos brasileiros signatários do acordo - Bradesco, Itaú e Unibanco - mais os ativos dos bancos estrangeiros que operam no Brasil corresponde a R$ 491 bilhões, ou 41% do total dos 50 maiores bancos, segundo dados do Banco Central.
Proporcionalmente, o envolvimento dos bancos brasileiros supera o dos bancos dos EUA, onde os gigantes Citigroup e Bank of America são signatários dos Princípios do Equador. A soma dos ativos de ambos, mais os do inglês HSBC, que está entre os 50 maiores bancos atuando nos EUA, é de 24% dos ativos totais do grupo, de US$ 4,6 trilhões, segundo dados do Federal Reserve, o banco central americano.
O Unibanco foi o primeiro banco de país em desenvolvimento a aderir, em julho, quando o acordo completava um ano. Foi seguido pelos concorrentes brasileiros Itaú e Bradesco em agosto e setembro, respectivamente. Para os bancos brasileiros, a responsabilidade social deixou de ser meramente filantropia para se tornar um nicho atrativo de negócios, além de um componente importante do conceito conhecido como governança corporativa, que prega maior transparência e profissionalismo nas empresas e respeito aos acionistas minoritários.
"Antes de implantarmos os procedimentos de responsabilidade social, especialmente no caso dos Princípios do Equador, discutíamos muito se esses critérios não reduziriam nossa competitividade, por impor custos de adaptação aos clientes", diz Hugo Assunção, gerente de financimento de projetos do Unibanco. "Mas estamos vendo que é justamente o contrário. O cliente teria aqueles custos um dia de qualquer jeito, e dá mais valor ao banco que possa ajudá-lo a gastar o dinheiro da melhor forma."
Já o Bradesco decidiu assinar o acordo no âmbito da demanda de seus acionistas pela governança corporativa. Desde 2003, o banco vem estudando incluir os Princípios do Equador em sua série de ações de governança corporativa. "Isso não é um modismo, é um processo de evolução", avisa José Luiz Acar Pedro, vice-presidente executivo do Bradesco.
Mas a menina dos olhos do Banco Mundial parece ser mesmo o Banco Real ABN Amro, subsidiária brasileira do grupo financeiro holandês. "A experiência com o Real ABN Amro tem nos ajudado a mostrar a outros clientes que é possível estabelecer padrões de atuação e obter financiamento graças a esses padrões", disse Xavier Jordan, agente de investimentos da IFC, ao anunciar o repasse de uma linha de crédito de US$ 51 milhões destinada a financiar projetos com responsabilidade social para o banco no início de outubro. No mesmo evento, o presidente do Real ABN, Fábio Barbosa, disse que a filial brasileira é referência em responsabilidade social até mesmo para a matriz na Holanda, que ajudou a escrever os Princípios do Equador.
Além de iniciar um projeto nos moldes mais modernos da responsabilidade social antes da maioria dos outros bancos, há cerca de 6 anos, o ABN já conseguiu inserir o conceito no dia-a-dia da instituição, a ponto de ser um exemplo para a própria IFC, disse Jordan. "O objetivo é que o conceito de desenvolvimento sustentável permeie todos os negócios e o relacionamento do banco com seus clientes", diz o superintendente de educação e desenvolvimento sustentável do ABN, Carlos Nomoto. "É um conceito simples, mas não é fácil de aplicar."
Os princípios adotados pelos 28 mil funcionários do banco vão desde o uso de artigos de escritório manufaturados com materiais reciclados até conceitos menos palpáveis, como a valorização da diversidade dentro do quadro de funcionários, diz Nomoto. "Quando a gente começa a colocar o conceito no dia-a-dia, saem ações como a linha de crédito da IFC, o microcrédito", diz Nomoto. "Não são ações de filantropia, são negócios."
Apesar do forte envolvimento dos bancos com a responsabilidade social, há mais demanda por financiamento de projetos sustentáveis no Brasil do que eles conseguem atender. "O mercado está aquecido", diz o superintendente-executivo de sustentabilidade e desenvolvimento de negócios sócio-ambientais do ABN, Victor Hugo Kamphorst. "Todos os setores industriais foram mordidos pela mosca azul. Não faltam projetos."

Febraban financia 10 mil cisternas no semi-árido
Priscilla Murphy
A Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) já superou a meta de financiar a construção de 10 mil cisternas para a coleta de água da chuva no semi-árido brasileiro. No projeto associado ao Fome Zero, do governo federal, a Febraban, em parceria com a organização não-governamental Articulação do Semi-Árido (ASA), já entregou 10.435 cisternas em 11 Estados.
As cisternas são reservatórios de cimento, cobertos e semi-enterrados, que aproveitam a água das chuvas recolhida das calhas dos telhados das casas. Além da construção das cisternas, o projeto também enfoca a capacitação de pedreiros em técnicas construtivas, das famílias em gestão de recursos hídricos e de multiplicadores. O programa envolve a população local na construção das cisternas e ensina as famílias como captar, conservar e usar a água limpa.
Segundo a Febraban, a cooperação técnica com a ASA envolve a mobilização social, permitindo que, ao final do projeto, as famílias beneficiadas e as comunidades tenham um nível de organização que as possibilite obter outras conquistas para seu auto-desenvolvimento. Outro objetivo da parceria é a criação de um sistema de monitoramento, que permite à Asa, às comunidades e aos financiadores acompanhar e supervisionar o programa, aprimorando a gestão e a utilização responsável e idônea dos recursos.

Bovespa terá lista de empresas socialmente responsáveis
Priscila Murphy
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) deve lançar no primeiro semestre do ano que vem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), com 40 empresas comprometidas com a responsabilidade social. O projeto do índice, patrocinado pela International Financial Corporation (IFC), divisão do Banco Mundial para o setor privado, é inspirado no Índice Mundial Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI World), criado nos EUA há 5 anos.
As empresas que compõem esse fundo têm um atrativo adicional para o investidor, dizem especialistas. "As ações de empresas comprometidas com a responsabilidade social têm um desempenho muito bom em relação ao Ibovespa", diz o superintendente de educação e desenvolvimento sustentável do Banco Real ABN Amro, Carlos Nomoto, baseando-se na experiência do fundo Ethical do banco. "Em momentos de queda do mercado financeiro, esses fundos, que existem no mundo inteiro, tendem a cair menos e, em momentos de alta, tendem a acompanhar a alta e muitas vezes se valorizar acima da média das ações", completa.
Segundo Nomoto, a estabilidade maior das ações tem provado que empresas que têm bom comportamento sócio-ambiental também são empresas que apresentam resultados financeiros mais consistentes. Como têm um planejamento mais detalhado e adotam medidas como o combate ao desperdício de matéria-prima e tratamento de resíduos, essas empresas tendem a ser também mais saudáveis financeiramente.
"O índice de responsabilidade social traz um balizamento importante para o investidor", diz o vice-presidente executivo do Itaú, Antonio Matias. O banco está entre as 300 empresas do DJSI World pelo quinto ano consecutivo, principalmente por causa dos seus programas nas áreas de educação e cultura, o Itaú Cultural e a Fundação Itaú Social.

ONGs pedem mais fiscalização
Críticos apontam falhas em projetos realizados pelos bancos
Apesar dos progressos obtidos nos últimos anos, a inserção da responsabilidade social no sistema financeiro não tem acontecido livre de obstáculos. Depois de sofrer críticas de organizações não-governamentais tão conceituadas quanto o World Wildlife Fund (WWF), a International Financial Corporation (IFC), divisão do Banco Mundial para o setor privado, está fazendo uma consulta pública para aperfeiçoar suas diretrizes sócio-ambientais.
Os críticos acusam os bancos e o próprio Banco Mundial de desrespeitar os Princípios do Equador, que eles mesmos criaram, apontando falhas como o vazamento de um oleoduto financiado pela IFC no Cazaquistão, ou projetos como o financiamento do plantio de soja no cerrado brasileiro e de exploração de madeira certificada na Amazônia.
"São táticas empresariais bem-vindas e iniciativas que devem receber apoio", diz Luciana Togeiro, diretora-executiva da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. "Mas há sempre o risco de essas iniciativas se tornarem mera retórica, sem correspondência prática." Por isso, é necessário que os programas sejam constantemente fiscalizados, "principalmente no Brasil, onde ainda há falhas na legislação".
Para o superintendente Mu de educação e desenvolvimento sustentável do Banco Real ABN Amro, Carlos Nomoto, as críticas das ONGs são compreensíveis. "Os bancos estão aprendendo a lidar não só com os Princípios do Equador, mas também com a gestão ambiental em seus negócios", em diz Nomoto. "As ONGs têm ansiedade para que aconteça logo, ou para que do não haja nenhum erro e Cai nós, inclusive, erramos. Os na bancos, por sua vez; têm a cal sua forma de atuar." Apesar dos erros, o importante, conclui, é que o primeiro no passo já foi dado. •P.M.

Know-how brasileiro é destaque na Holanda
O presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, participa, na próxima segunda-feira, da Conferência Européia sobre Responsabilidade Social Corporativa, sediada em Maastricht, na Holanda. O objetivo será mostrar o know-how nacional na articulação entre empresas, governo e organizações no combate às desigualdades sociais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. O exemplo que Oded leva na bagagem é o programa para construção de cisternas no semi-árido nordestino .

Censo
775 Milhões de reais é quanto 61 empresas e fundações pesquisadas pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) reservaram para projetos sociais ao longo deste ano
87% Do total de projetos das empresas pesquisadas são voltados para a área de educação
81% Dos projetos envolvem especificamente a área de ensino fundamental

Empreendedorismo social em pauta
De hoje até sexta-feira um time de gigantes vai discutir o futuro do empreendedorismo social no mundo, durante a reunião global da Fundação Schwab - organização voltada para investimentos sociais - em Campinas (SP). Entre eles, o próprio fundador da organização e do World Economic Forum, Klaus Schwab, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, os ministros Luis Fernando Furlan e Gilberto Gil e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

OESP, 03/11/2004, p. B10

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