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Projeto Sossego já altera rotina na região dos Carajás-PA

O Paraense-Belém-PA
Autor: Raimundo José Pintol
30 de Abr de 2002

FHC vai lançar dia 2 a pedra fundamental do primeiro projeto do cobre da região de Carajás, fazendo com que o Brasil passe de importador a exportador do minério

Nos primeiros três meses de 2002, o pequeno município de Canaã dos Carajás, localizado no sudeste do Pará, a cerca de 830 quilômetros de Belém, recebeu mais de 40 novos postos comerciais. É o sinal mais visível das mudanças que começam a ocorrer nesse jovem município, criado em 1994, com uma extensão territorial de 3,8 mil quilômetros quadrados e uma população de 10.922 habitantes, de acordo com o Censo de 2000, embora alguns dados extra-oficiais garantam que hoje já teria ultrapassado os 20 mil.
A exemplo do que ocorreu com a exploração do ferro, do manganês e do ouro, o início dos trabalhos da Companhia Vale do Rio Doce para a exploração do cobre do projeto Sossego começa a mobilizar a população de Canaã, de todo o entorno de Carajás, de várias partes do território paraense e até de outros estados, em busca de trabalho. A próxima quinta-feira, dia 2 de maio, representa um marco para a Vale. Será lançada a pedra fundamental do Sossego, o primeiro dos cinco projetos da empresa voltados para a exploração do cobre, e que, juntos, farão com que o Brasil saia da condição de importador para a de exportador desse metal.
A pedra fundamental será lançada às 11 horas, em Canaã, com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador Almir Gabriel e do presidente da CVRD, Roger Agnelli. Em seguida haverá uma cerimônia, às 13 horas, no Ginásio Tae Joon Park, em Carajás. FHC e Almir deverão pernoitar em Carajás no dia 1o, como convidados da Vale. Além de Canaã, onde estão localizadas as reservas de cobre do Sossego, pelo menos outros dois municípios paraenses já estão enfrentando influência direta do Sossego. Um deles é Água Azul do Norte, com seus 22 mil habitantes, mais de 19 mil dos quais instalados na área rural, de acordo com o último Censo. É uma situação semelhante à de Cannã, onde a maioria de seus moradores está também na área rural. Mas a tendência, com o novo empreendimento da Vale, é seguir o exemplo do terceiro município no entorno do Sossego, Parauapebas, onde mais de 59 mil de seus 71 mil habitantes estavam na área urbana em 2000.
Por apresentar melhor infra-estrutura, implantada graças aos recursos oriundos da exploração da rica reserva de ferro da Vale em Carajás, Parauapebas acaba atraindo também uma leva de potenciais trabalhadores para o Sossego. Em entrevista em março ao jornal "Gazeta Mercantil", a prefeita Bel Mesquita afirmava que todo o planejamento do município deverá ser revisto a partir das perspectivas surgidas com o projeto Sossego. Só com o anúncio do novo empreendimento, a cidade sofreu duas invasões de terrenos urbanos, o que não ocorria, de acordo ainda com a prefeita, há quatro anos..
Brasil se tornará o quinto maior produtor
Apesar dessas preocupações com os efeitos negativos que projetos desse porte possam causar, as perspectivas para esses e outros municípios em áreas de influência da Companhia Vale do Rio Doce são positivas. Depois de uma reunião realizada no início de abril em Belém com o governador Almir Gabriel (PSDB) e com alguns de seus secretários de Estado, o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, anunciou que nos próximos seis anos a empresa deverá investir algo em torno de US$ 5 bilhões no Pará, a serem aplicados em empreendimentos ligados ao ferro, alumínio, caulim, cobre e níquel, incluindo também o setor elétrico, com a implantação da hidrelétrica de Santa Isabel, no rio Tocantins.
Desses US$ 5 bilhões, cerca de metade será destinada apenas à área do cobre. São ao todo cinco projetos nessa área: além do Sossego - o primeiro deles a entrar em operação, o que está previsto para 2004 -, estão programados o Salobo, o Corpo Alemão, o Cristalino e o Alvo 118, num total estimado de 400 milhões de toneladas de minério de cobre. O maior de todos será o Salobo, que ainda está em fase de estudos de pré-viabilidade. Só nele o investimento será de mais de US$ 1 bilhão, para a produção de 200 mil toneladas anuais de cobre, além de oito de toneladas de ouro como subproduto, enquanto o Sossego deverá produzir 150 mil toneladas de cobre por ano e 3,5 toneladas de ouro.
No Sossego deverão ser investidos cerca de US$ 390 milhões. De acordo com informação da Vale, os negócios do cobre deverão gerar em torno de R$ 8 milhões anuais em impostos para o município de Canaã de Carajás, além de outros R$ 4,9 milhões para o Estado do Pará. Na fase de implantação do Sossego, deverão ser gerados 1,5 mil empregos no primeiro ano, três no segundo e mil no terceiro ano das obras. E na fase de operação serão 667 empregos diretos e outros 1.500 indiretos. Informações divulgadas pela assessoria de imprensa da Vale no final do ano passado, quando do lançamento do projeto em Belém, revelavam que o Sossego provocaria também a aplicação de R$ 73 milhões na construção de estradas interligando a área de exploração às cidades de Canaã e Parauapebas e outros R$ 15 milhões numa linha de transmissão de energia de 230 kva, além de R$ 125 milhões em salários diretos, R$ 118 milhões em serviços contratados e R$ 1 bilhão na compra de produtos e serviços de fornecedores locais.
A parte de serviços inclui setores como transporte de pessoal, alimentação, limpeza, segurança patrimonial, aluguel de veículos e manutenção predial. E a demanda por fornecedores passa pelo óleo diesel, lubrificantes, energia elétrica, frete concentrado rodoviário, frete concentrado ferroviário, peças e sobressalentes e materiais diversos.
O projeto Sossego está sendo tocado exclusivamente pela Companhia Vale do Rio Doce, depois que a ex-estatal brasileira adquiriu, através de sua subsidiária Itabira Rio Doce Company Limited, por US$ 42,5 milhões, em novembro do ano passado, a participação da mineradora Phelps Dodge, representada por sua subsidiária Camelback Corporation, que detinha metade das cotas ordinárias da Mineração Serra do Sossego. A transação foi aprovada no início de março deste ano pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Segundo o geólogo e consultor mineral e ambiental Alberto Rogério Benedito da Silva, com a entrada em operação dos cinco projetos em Carajás, a previsão é que até 2006/2007 a produção de cobre no Pará alcance 650 mil toneladas. "E com isso, só com a performance paraense, o Brasil entrará no seleto grupo de produtores mundiais de cobre, disputando com o Canadá, baseado no cenário atual, a quinta posição no ranking".
Hoje, o País é dependente do mercado internacional para atender sua demanda de consumo desse minério estratégico, utilizado em várias atividades, como condutor de energia elétrica, na informática, na arquitetura e nas indústrias automobilística, química, naval e da construção civil.

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