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Projeto "Pemega, Perigara" é aprovado pelo povo Boe Bororo

ICV - https://www.icv.org.br/noticias
14 de Ago de 2023

Projeto "Pemega, Perigara" é aprovado pelo povo Boe Bororo

Autor: Assessoria de Imprensa

A Aldeia Perigara, localizada na Terra Indígena (TI) Perigara, ao sul de Mato Grosso, enfrenta desafios para preservar sua cultura e seu território. Contudo, desde abril de 2022, o projeto "Pemega, Perigara" vem sendo construído pelas lideranças e representantes da aldeia junto ao Instituto Centro de Vida (ICV) e ao Onçafari.

Com o objetivo de fortalecer os saberes tradicionais, a segurança alimentar, a geração de renda, a infraestrutura, a gestão territorial, e a prevenção de incêndios na TI, o projeto foi discutido e elaborado em conjunto com a comunidade para atender as necessidades do povo Boe Bororo.

Na segunda quinzena de julho, as organizações que executam o projeto e instituições parceiras se reuniram com os Boe Bororo para uma consulta sobre a continuidade ou não do projeto na região e para a escolha de atividades prioritárias.

Além do ICV e do Onçafari, participaram da ação a Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI) e a Boitatá Consultoria.

A coordenadora do programa de Direitos Socioambientais do ICV, Stéphanie Birrer, destacou que o projeto é um primeiro passo no apoio ao fortalecimento da Associação Iturakurireu, fundada em 2002, buscando a autonomia da organização.

"A intenção do nosso projeto é permitir que essa associação indígena possa se desenvolver e eventualmente levantar seus próprios recursos, gerir e desenvolver seus próprios projetos, e continuar com a iniciativa de qualidade de vida aqui no território", disse.

Com o aval e avaliação positiva da comunidade, o "Pemega, Perigara" agora entra na fase de planejamento e execução das ações, previstas para acontecer até 2025. O agente federal em Indigenismo da Funai, convidado pelo ICV com o intuito de garantir a lisura e a transparência na execução da proposta, avaliou que a comunidade foi receptiva.

"Viemos formalizar essa consulta para saber a manifestação da comunidade sobre a execução do projeto, que tem como finalidade ações socioambientais que visam melhorar a qualidade de vida dessa população. A receptividade da comunidade foi muito boa, especialmente com relação ao detalhamento de ações que vão ser executadas até 2025", disse.

O cacique Roberto Maridoprado destacou que o projeto é uma experiência nova na aldeia e que vê a comunidade muito interessada em participar, tanto os mais jovens quanto os mais velhos.

"Tá sendo um projeto que vem ajudando, apoiando a comunidade naquilo que a comunidade está necessitando. Algumas pautas que estão na lista vão ser executadas, vai ficar muito mais alegre, né? E, na visão deles, está sendo um projeto muito bom. Uma experiência nova. Alguns estão animados em mexer com artesanato, uma das práticas que vem sumindo", explicou.

O território

A Terra Indígena pertence a etnia dos Boe Bororo, que vive às margens do rio São Lourenço, a cerca de 300 quilômetros da capital Cuiabá (MT) e tem aproximadamente 100 habitantes, segundo o Instituto Socioambiental (ISA).

Ela foi homologada em 1991, mas ainda sofre com a degradação ambiental e as interferências culturais dos não-indígenas, mesmo que para chegar à aldeia seja preciso enfrentar barreiras logísticas. Em alguns períodos do ano, o acesso só é possível por barco. Em outros, é necessário um veículo adequado para percorrer a estrada de terra.

A aldeia faz divisa com a Reserva São Francisco do Perigara, uma área de conservação adquirida em 2021 pelo Onçafari, uma organização que atua na proteção da biodiversidade do Pantanal. A reserva é considerada o maior refúgio das araras-azuis e concentra 15% da população livre da espécie

Coordenadora da frente Social do Onçafari, a bióloga Stephanie Simioni explicou como a organização chegou ao Pantanal mato-grossense.

"Depois dos incêndios que atingiram o Pantanal em 2019 e 2020, não só as araras-azuis, mas toda a fauna e flora da região estavam ameaçadas. Por isso, o Onçafari se interessou em ajudar na proteção dessa área, porque uma das frentes de atuação da organização é adquirir terras que ainda são preservadas e ajudar na administração delas e na elaboração de estratégias para que elas continuem preservadas e gerando renda".

Em busca de uma parceria com a comunidade indígena vizinha, o Onçafari solicitou apoio do ICV para desenvolver um projeto socioambiental na Terra Indígena Perigara.

Preservação

Dentro da TI Perigara, existe uma edificação da 1914 que foi utilizada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), a antiga Funai. Um dos anseios da comunidade é que esse espaço possa ser devidamente reconhecido e revitalizado.

O indígena e historiador Virgilio Kidemugureu, que mora na aldeia, detalhou que a edificação contém parte da história do povo Boe Bororo.

"O prédio foi construído com tijolo feito aqui mesmo na terra indígena, pelos próprios Bororo do passado. Mas hoje precisamos de uma melhoria na estrutura desse prédio, para poder utilizar melhor o espaço, com atividade culturais, reuniões e preservar um arquivo público".

A equipe do Iphan foi convidada pelo ICV pelo interesse do povo pela preservação de seu patrimônio histórico. Na oportunidade, a comunidade escreveu uma carta ao instituto a fim de formalizar o pedido para tombamento da estrutura. A análise prévia do arqueólogo Francisco Forte Stuchi sugere bons resultados.

"Já é possível registrar a área da edificação enquanto sítio arqueológico, encontramos fragmentos cerâmicos e também os machados, material lítico. A depender da análise da instituição é possível fazer um tombamento dessa edificação, que são duas categorias distintas. Registro enquanto sítio é uma medida de proteção e o tombamento é um acautelamento a mais", disse.

Povo Boe Bororo

O povo Boe Bororo é um dos povos indígenas mais antigos do Brasil. Eles têm uma cultura rica, com uma organização social baseada em clãs e são exogâmicos, ou seja, os membros de um clã só podem se casar com membros de outro clã.

Os clãs também têm funções sociais e rituais específicas, como a organização das festas, a distribuição dos alimentos, a condução dos ritos funerários.

Eles têm uma língua própria, chamada Bororo ou Boe, que faz parte da família Macro-Jê de línguas. Para o povo Boe Bororo, Pemega é uma forma de cumprimento. "Pemega, Perigara" seria "como Tudo bem, Perigara".

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