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Projeto nao garante agua para o Sertao

JB, Pais, p.A4
05 de Dez de 2004

Projeto não garante água para o Sertão
Especialistas no Semi-Árido afirmam que a transposição das águas do São Francisco pode não resolver os problemas de abastecimento no Sertão.
O geógrafo Aziz Ab'Sáber, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), acredita que plano de transposição só é viável ''se houver recursos e se não for feita demagogicamente, como se fosse resolver os problemas da região''.
Para Ab'Sáber, os estudos de impacto ambiental do projeto são restritos e foram feitos ''apenas por obrigação administrativa''. O geógrafo afirma que o plano de transposição deve respeitar as necessidades da populações mais pobre. Ab'Sáber cita o caso do rio Jaguaribe, no Ceará, em que existe um grande número de produtores vazenteiros, que plantam nas margens dos rios, aproveitando-se da irrigação natural das cheias anuais. Os vazenteiros plantam sobretudo mandioca, feijão e milho, garantindo o abastecimento das feiras do sertão. Ab'Sáber explica que eles se utilizam de áreas públicas para essas culturas, e que se for liberada mais água dos açudes no Jaguaribe, como o Castanhão, eles não poderão continuar produzindo.
Segundo especialistas, o projeto de transposição do governo federal beneficiará diretamente apenas 5% da superfície do Semi-Árido. O professor de Hidrologia e Irrigação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Abner Guimarães Filho, afirma que o abastecimento de água não resolve os problemas causados pela pobreza. Segundo Abner, cada piauiense tem uma disponibilidade per capita de água cinco vezes maior que a de um paulista.
- O fato do Piauí ser um Estado pobre é um problema político. Ter água não explica a solução da seca e pobreza. Há muita miséria na beira do São Francisco. Existem comunidades há dez quilômetros do rio que são abastecidas por carros-pipa.
Estudo realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) concluiu que 70% dos açudes públicos do Nordeste não estão disponíveis para a população. Segundo técnicos da CPT, a influência das elites locais que já controlam as terras pesará na distribuição da água trazida pela transposição.
Para Roberto Malvezzi, o Gogó, membro da coordenação nacional da CPT, o abastecimento da população excluída não é prioridade no atual plano de transposição do São Francisco.

JB, 05/12/2004, p. A4

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