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Projeto ja quer mudar Lei de Biosseguranca

OESP, Vida, p.A15
10 de Jan de 2006

Projeto já quer mudar Lei de Biossegurança
Texto em estudo na Câmara propõe liberar, para produção de remédios, a reprodução de plantas geneticamente modificadas proibida pela lei
Cristina Amorim
Um projeto de lei de autoria da deputada federal Kátia Abreu (PFL-TO) visa a mudar o trecho da regulamentação da Lei de Biossegurança que impede o trabalho com plantas geneticamente modificadas estéreis.
O governo federal acertou o que não viu com a regulamentação, válida há menos de dois meses. Ela proíbe o uso de plantas transgênicas que não se reproduzem: a vantagem é que os agricultores podem aproveitar as novas sementes e não depender do fornecimento de grandes empresas. A desvantagem é que, com isso, impediu também outras tecnologias que trariam benefícios ao País.
Para tentar reverter a situação,o projeto 5.964/2005 sugere que a atividade seja liberada "quando o uso da tecnologia comprovadamente constituir numa medida de biossegurança benéfica à realização da atividade", ou seja, que cada caso seja analisado isoladamente. Permitiria dessa maneira que os cientistas fizessem frutos sem semente com engenharia genética e produzissem remédios em grãos, por exemplo, mantendo a independência do agricultor.
"Às vezes é preciso impedir a reprodução por uma questão de segurança", explica o pesquisador Marcelo Menossi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O caso mais óbvio é o dos biofármacos, como a soja que produz pró-insulina para ser usada no tratamento de diabéticos. Ela tem o gene de reprodução desligado para que não se corra o risco de cair na cadeia alimentar. Uma vez que a regulamentação agora proíbe plantas transgênicas inférteis, o projeto - em fase avançada na Unicamp - volta para a gaveta.
Segundo Menossi, esse tipo de restrição atrapalha a pesquisa de transgênicos em geral. "Algumas mudanças nos genes até obtemos com outras técnicas, mas elas são absurdamente aleatórias. Com a engenharia genética é menos complicado", afirma. "Esse texto foi feito por baixo dos panos pelo Ministério do Meio Ambiente."
O secretário de Biodiversidade e Floresta do ministério, João Paulo Capobianco, lembra que o conteúdo da regulamentação é resultado do consenso de um grupo interministerial. "Refuto veementemente a acusação leviana. O texto é responsabilidade de todos que montaram a lei."
A despeito da discussão, trabalhos científicos são deixados para escanteio, diversos deles que aplicam verbas federais ou estaduais, como as da Fapesp, e são conduzidos em instituições públicas, como a Embrapa, ligada ao Ministério de Agricultura.
O cientista Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos, acabou de depositar a patente de uma técnica para fazer alimentos sem sementes. Ele bloqueia a expressão do gene do ácido fítico, composto antinutricional que remove elementos como cálcio e ferro dos alimentos e impede sua absorção pelo corpo. Quando a ação do gene é nocauteada, o embrião não se desenvolve e, por conseqüência, não tem o ácido. Aragão esperava testar a técnica em breve em mamão e melancia. "Agora o trabalho está parado."
CHANCES
O projeto de lei foi levado ao Comitê de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Porém, ele pode não ser aprovado.
Acontece que, no texto, a deputada pede a revogação do artigo que impede o plantio de soja transgênica em unidades de conservação e seu entorno. "Nada justifica vedar o plantio de sementes de soja geneticamente modificada nas áreas de unidades de conservação", escreve.
A posição certamente encontrará resistência de setores do governo, a começar pelo Ministério do Meio Ambiente, alongando o problema, diz o advogado Ricardo Azevedo Sette. "Esse é um texto para início da discussão, que ainda passará por comissões dentro do Congresso, e que precisa de mais rigor na questão ambiental", diz ele. "Não podemos plantar transgênicos do lado de mananciais. Temos de preservar o futuro."

OESP, 10/01/2006, p. A15

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