Projeto federal quer preservar o Cerrado

Projeto federal quer preservar o Cerrado
Bioma é ameaçado pelo crescimento do agronegócio
Gisele Teixeira
Óleo de pequi, castanha de baru, semente de sucupira, paçoca de buriti. Estes são alguns dos produtos que podem ser encontrados no portal Cerrado Brasil, lançado ontem, em Brasília. O objetivo é divulgar informações sobre a importância ambiental, social e econômica do bioma, cujo dia nacional é comemorado hoje. O site apresenta legislação, informação científica e dados sobre a cultura, como danças, artesanato e folclore, dos povos que habitam a região.
Nesta semana, foi realizada em Brasília uma série de manifestações para chamar a atenção sobre a necessidade de proteção do Cerrado, que está presente em 11 Estados brasileiros. Segundo Manoel Santos, da Rede Cerrado de Organizações Não Governamentais, o bioma sofre um processo de desertificação provocado, principalmente, pelo avanço desordenado do agronegócio.
Ontem, o Grupo de Trabalho do Cerrado, formado por diversas entidades, entregou à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado - Programa Cerrado Sustentável. O objetivo é buscar condições para reverter os impactos socioambientais por meio da conservação, restauração, recuperação e manejo sustentável de ecossistemas naturais e agropecuários.
Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a preservação tem que ser vista como um fator positivo para os investimentos e negócios que envolvem recursos naturais.
- O Cerrado é uma espécie de guardião das águas desse país - disse.
Segundo ela, os investimentos do agronegócio podem ser prejudicados se não houver uma preocupação com a preservação dos recursos hídricos.
- A preservação não é oposição ao desenvolvimento, nem o desenvolvimento tem que ser oposição à conservação - defendeu Marina Silva.
Além de promover a criação de unidades de conservação de uso sustentável, especialmente reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, o programa Cerrado Sustentável quer estimular o uso da biodiversidade.
Serão incentivados o ecoturismo, turismo rural, criação de abelhas, plantas medicinais e frutas nativas, manejo de animais silvestres e outras atividades de pouco impacto ambiental que também promovam a inclusão social. Prevê, ainda, a formação de corredores ecológicos e a elaboração de planos de ação específicos para a recuperação de espécies ameaçadas de extinção.
Marina Silva adiantou que irá sugerir ao governo a convocação de um grupo interministerial para traçar uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o Cerrado. A proposta é que o governo trabalhe da maneira como está sendo feito com o Programa Amazônia Sustentável, que reúne 15 ministérios, e o programa de desenvolvimento sustentável para o semi-árido, que começa a ser traçado pelo ministério da Integração Nacional. Segundo o ministério do Meio Ambiente, também já estão disponíveis R$ 5 milhões do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) para assistência técnica a pequenos agricultores e à população local.

JB, 11/09/2004, p. A3