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Projeto de supergasoduto deve sair em agosto

FSP, Dinheiro, p. B11
27 de Abr de 2006

Projeto de supergasoduto deve sair em agosto
Lula, Kirchner e Chávez consideram investimento de US$ 20 bi viável; obra levaria gás da Venezuela ao Uruguai

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

IVONE PORTES
DA FOLHA ONLINE

Brasil, Argentina e Venezuela concluíram que a construção de um supergasoduto de mais de US$ 20 bilhões que ligaria a Venezuela ao Uruguai e passaria por todo o território brasileiro é viável. Os presidentes dos três países reuniram-se ontem em São Paulo para discutir o projeto. Após o encontro, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse até que o gás venezuelano chegaria a preços baixos ao Brasil.
Chávez foi o único dos presidentes a falar com a imprensa após a reunião de cúpula.
O presidente Néstor Kirchner (Argentina) saiu sem dar declarações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não falou com os jornalistas. Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil, relatou o conteúdo da reunião no final da tarde.
Amorim afirmou que ficou claro durante o encontro de ontem que a construção do gasoduto é viável. "As explicações dadas foram suficientemente convincentes de que efetivamente há gás. Esse é um projeto que precisa evoluir naturalmente", afirmou.
Os ministros de Minas e Energia dos três governos apresentaram estudos técnicos relativos ao projeto ontem. O cronograma inicial prevê a conclusão das obras em 2017. Em 2010, disse Chávez, a primeira fase do gasoduto, ligando a Venezuela a Manaus, já entraria em operação.
O presidente venezuelano estimou o investimento necessário para a construção em US$ 20 bilhões. Ainda segundo ele, a implementação do projeto geraria cerca de 1 milhão de empregos diretos nos países envolvidos.
Para a região, a construção do gasoduto resolveria enormes gargalos energéticos. O Chile hoje importa gás natural liquefeito, mais caro. O país dependia do gás argentino, que parou de exportar o produto devido à crise de abastecimento no mercado interno.
A entrada em operação do gasoduto tornaria as enormes reservas venezuelanas -o país possuiu cerca de 80% das reservas disponíveis na América do Sul- disponíveis para a Argentina, o Brasil e o Uruguai, além de ter o potencial para atender a praticamente toda a América do Sul.
Os planos de implantação do gasoduto devem ficar prontos até agosto. Em setembro, os planos são de reunir representantes dos três países para apresentar o projeto do Grande Gasoduto do Sul, como é chamado, para todos os governos sul-americanos. "Todos os países da América do Sul de alguma maneira terão que ser envolvidos na discussão, porque serão consumidores, ou produtores, ou países de passagem", disse.
Apesar do enorme investimento necessário para levar adiante o projeto, Chávez disse que não faltarão recursos para tanto. Segundo o presidente venezuelano, vários investidores têm procurado autoridades dos três países para pedir informações sobre os planos de construção. "Quando os planos estiverem prontos, vamos fazer apresentação para investidores em todo o mundo", disse.
O presidente venezuelano chegou a dizer que o gás chegaria "barato" à região. Disse que, se fosse apenas o interesse econômico-financeiro o objetivo do governo venezuelano, ele estaria "negociando em Washington". "Se por um passe de mágica vocês pudessem abastecer seus carros em Caracas, veriam como o combustível é mais barato", disse o presidente, indicando que o mesmo aconteceria com o gás exportado para os países da América do Sul.
O cronograma inicial não conta com imprevistos. O projeto do gasoduto deverá sofrer com a oposição de vários setores. Entre os principais problemas, está o fato de ele ter de atravessar a Amazônia, o que pode gerar dificuldades na área ambiental.
O projeto gerou reação dos sócios menores do Mercosul, Paraguai e Uruguai. O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, pediu ajuda ao governo brasileiro, quando esteve em Brasília no mês passado, para evitar que seu país dependa da Argentina no fornecimento de gás.
Mergulhada numa crise energética de grandes proporções, a Argentina foi obrigada a cortar o fornecimento de gás para o Chile e o Uruguai.
O projeto prevê a exportação diária de 150 milhões de metros cúbicos de gás da Venezuela, levando o insumo a importantes cidades brasileiras -Macapá, Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza e outras- por meio de ramais auxiliares que se ligarão à atual infra-estrutura de gasodutos.

FSP, 27/04/2006, Dinheiro, p. B11

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