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Projeto busca resgatar cultura e língua Sateré-Mawé

Radiobrás
Autor: Amanda Mota
06 de Out de 2007

Manaus - Depois de participar da oficina de tecelagem para aprender a fazer o que seus avós e bisavós já faziam, o adolescente Valdenildo de Oliveira Batista, de 14 anos, se mostra animado com o resgate da cultura indígena. Ele faz parte da etnia Sateré-Mawé e vive na aldeia Simão, entre os municípios de Parintins e Barreinha, no Amazonas. Valdenildo é um dos integrantes do grupo de 250 jovens indígenas atendidos atualmente pelo projeto Revitalização da Língua e de Práticas Culturais Tradicionais Sateré-Mawé.

"Na oficina de tecelagem aprendi a fazer peneira, abano e tipiti (uma espécie de espremedor de palha trançada usado para escorrer e secar a mandioca ralada. É fabricado artesanalmente pelos povos indígenas). Para mim, esta atividade é ótima, no futuro vai me beneficiar na parte econômica. Mas entendo que a tecelagem indígena também é muito importante, pois ajuda na valorização da minha cultura, para que os Sateré não sejam deixados de lado como se seus costumes não valessem nada. Devemos valorizar os dois lados, pois não adianta só saber a cultura indígena, pois temos também que defender os nossos direitos lá fora", declara o adolescente.

O projeto, que conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), foi elaborado pela Organização dos Professores Sateré-Mawé dos Rios Andirá e Waikurapá (Opisma), com assessoria técnica da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Durante as oficinas, que duram cerca de 15 dias cada, os jovens aprendem a fazer rede, cerâmica, tecelagem e conhecem histórias mitológicas, que são contadas pelos representantes mais antigos das aldeias. Buscando o resgate de saberes tradicionais, os indígenas também participam de encontros para discussão, planejamento e avaliação do desenvolvimento do projeto e para revisão de material didático em língua Sateré-Mawé. Além disso, eles contam com oficinas de formação pedagógica e de revisão de material didático em língua Sateré-Mawé.

De acordo com o coordenador da Opisma, José de Oliveira dos Santos da Silva, a qualificação dos professores indígenas se deu anteriormente, por meio de outro projeto, o Pira-Yawara, desenvolvido pela Secretaria do Estado de Educação (Seduc), em parceria com prefeituras municipais do Amazonas. Silva conta que a construção e a avaliação do projeto contaram com o envolvimento de homens, mulheres, jovens e idosos da comunidade. Para ele, o fundamental é que as aulas práticas contribuam para a fixação dos conhecimentos aprendidos.

"Hoje oferecemos uma aula e uma educação diferenciada. É o fortalecimento da cultura Sateré-Mawé. As crianças e os jovens participam da prática de cursos. É diferente de quando eles aprendiam a desenhar e a escrever em Sateré, mas quando iam falar da prática da cultura não sabiam de nada", explica.

O coordenador do escritório do Unicef em Manaus, Halim Girade, afirma que as atividades tiveram início há um ano e, segundo ele, contribuem para a recuperação da auto-estima dos adolescentes e jovens indígenas por meio da valorização de suas tradições. Girade avalia que a desvalorização dos saberes e a perda das identidades culturais indígenas provocam na juventude indígena conflitos existenciais e de auto-desvalorização, o que por sua vez, contribui para a geração de outros problemas.

"Alguns dos maiores problemas entre adolescentes indígenas hoje na Amazônia são questões relacionadas ao alcoolismo, violência, abuso e exploração sexual e suicídios. E a proposta do projeto é importante porque vem não só revitalizar, mas também trazer mais vida aos jovens, que começam a sentir um pouco de orgulho da sua cultura", diz.

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