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Projeto apoia seringüeiros em Resex da Terra do Meio

ICMBio - www.icmbio.gov.br
Autor: Priscila Galvão
25 de Mai de 2009

Os seringais da Reserva Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio, no Pará, estão gerando renda para a comunidade por meio do projeto "Renascer da Seringa", desenvolvido pelo governo e entidades não-governamentais nas Resex da Terra do Meio. Pelo projeto, a borracha produzida pelos extrativistas é vendida a terceiros e a empresas privadas, entre elas a fábrica de pneus francesa Michelin.

Dezoito seringüeiros da Resex do Riosinho do Anfrísio já fazem a revitalização de seus seringais. Eles receberam apoio para a compra de utensílios, como facão, tijelas, botina e combustível e ainda para a aquisição de comida que para as suas famílias.

De acordo com o projeto, a comercialização do látex fica a cargo dos próprios extrativistas, que fazem a venda do produto ao preço de R$ 1,60 o quilo de borracha prensada para os "regatões" que já compram deles ou para comerciantes e empresas direto na cidade.

Os representantes da Michelin se interessaram pela compra da seringa produzida na resex depois de fazer uma análise de amostras da borracha prensada do Riozinho do Anfrísio. Eles consideraram boa a concentração de elastano. E até deram apoio, bancando um treinamento para alguns moradores da resex sobre as técnicas atuais de extração do látex.

Um técnico foi contratado para acompanhar as atividades de reabertura das estradas, de extração de borracha e fazer o monitoramento das atividades. De início, foram colhidos 1.700 quilos de borracha e vendidas ao representante da Michelin, em Altamira (PA), com um valor pequeno em volume (R$ 1,30 o kilo), mas bastante significativo para a Resex Riozinho do Anfrísio e para outras regiões com presença de populações tradicionais na região.

CONHECIMENTO - De acordo com a gestora da Resex Riozinho do Anfrísio, Patrícia Greco, esse projeto é muito importante para os serigueiros. Serve como um incentivo para eles retomarem as atividades de extração da borracha, uma atividade sobre a qual a comunidade local detém muito conhecimento e que estava se perdendo.

Ainda segundo ela, a extração da seringa traz outras vantagens. Permite, por exemplo, trabalho o ano todo e uma renda fixa para as comunidades extrativistas, ao contrário da pesca, que tem os períodos de defeso e fazem as pessoas ficarem dias longe da família. "Com a seringa, os extrativistas podem estar em casa todos os dias, cuidando mais da família, de suas criações de animais e da roça", diz Patrícia.

A gestora afirmou ainda que o preço da seringa é mais alto que o do peixe e que um serigueiro pode calcular exatamente o quanto produz por dia, semana, mês e ano, tendo uma garantia de renda, diferentemente de outras atividades que são incertas como a extração do óleo da copaíba e a pesca de peixes. "Agora o nosso objetivo é buscar qualificação para o produto, parceria mais estreita com a Michelin ou outra empresa e ao mesmo tempo entrar na política de preços mínimos", conclui Patrícia.

PROJETO - O projeto "Renascer da Seringa" é coordenado pelo Instituto Socioambiental (ISA) e tem a participação do Instituto Chico Mendes, que administra as resex, da Fundação Viver Produzir e Preservar (VPP), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do WWF.

Os extrativistas consideram a borracha como uma atividade complementar. Não pode ser desenvolvida nem analisada separadamente de outros produtos da floresta, que, juntos, podem compor uma "cesta" de produtos e serviços interessantes. Dependendo das condições a serem divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), a seringa será incluída na política de preços mínimos, aumentando o valor por quilo comercializado.

Está prevista ainda uma visita ao Acre, onde a experiência da seringa está ativa para colher experiências e passar ao comunitários nas oficinas a serem realizadas nas Resex. A proposta é a retomada da seringa e depois investir tempo na comercialização de castanhas e copaíba, outros produtos que existem com abundância nas Resex.

O objetivo com essa experiência é gerar exemplos locais de formação, comercialização, técnicas de extração. A partir daí buscar qualificação para o produto, parceria mais estreita com a Michelin ou outra empresa e ao mesmo tempo entrar na política de preços mínimos, conforme é feito por alguns seringüeiros do Acre.

Para que os serigueiros tenham acesso ao programa do preços mínimos, eles precisam ser cadastrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e obter a Diretoria de Assistência ao Pessoal (DAP). Já foram escritos projetos para o CONAB, mas não foi possível o acesso ao programa, devido a ausência da DAP.

Conheça mais sobre a história da Borracha no Brasil:

- Em 2007 a indústria brasileira consumiu 340 mil toneladas de borracha. Desse total, 230 mil toneladas foram importadas e custaram ao País US$ 484 milhões. Das 110 mil toneladas produzidas no Brasil apenas quatro mil vieram das comunidades tradicionais que vivem da prática extrativista.

- Entre 1990 e 2003, a produção de borracha teve uma forte queda da borracha extrativista. Dois fatores contribuíram para essa queda: o preço baixo praticado pelo mercado de R$ 1,60 a R$ 2,70 o quilo e a dificuldade de competir com os custos da borracha cultivada, mais próxima dos mercados consumidores.

- Um dos fatores que pode contribuir para reverter esse quadro é o estabelecimento do preço mínimo da borracha R$ 3,50 por quilo atribuído com garantia do governo. O preço mínimo da borracha natural foi um dos quatro primeiros fixados pelo Conselho Monetário Nacional dentro de uma lista de dez produtos extrativistas da sociobiodiversidade que passarão a ser garantidos pelo governo.

- Durante a execução do projeto ocorreu uma crise financeira com queda em bolsas do mundo inteiro, gerando uma recessão em diversas indústrias, incluindo a automobilística mundial, principal demandante de borracha. Aumentou a disponibilidade de borracha no mercado fazendo cair mais o preço.

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