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Programa no DF prevê construção com verba de compensação ambiental

Valor Econômico, Eu&Estilo, p. D4
16 de Out de 2014

Programa no DF prevê construção com verba de compensação ambiental

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo

Criar novos lugares de convivência e revitalizar parques e praças pode ser rápido e barato. Quem garante é Fred Kent, fundador e presidente da ONG americana Project for Public Space, criada em 1975 para ajudar comunidades a desenvolver e sustentar espaços públicos. "Já implantamos mais de 300 projetos em 43 países", diz Kent, em sua primeira visita a São Paulo, durante o seminário Parques do Brasil.

A lista de ações da Project for Public Space inclui a criação da área de pedestres na Times Square e a revitalização do Bryant Park, em Nova York. A verba para a mudança dos terrenos vem de fundos privados, empresas ou de comunidades vizinhas. Dependendo do local, a transformação pode durar de um mês a dois anos. "É muito difícil criar um espaço que não atraia ninguém", diz Kent, que estudou antropologia com Margaret Mead (1901-1978) e trabalhou com William H. Whyte (1917-1999), um dos pensadores urbanos mais admirados dos Estados Unidos.

Uma das estratégias da organização que ele dirige é a aplicação de um método batizado de "a força dos dez". Consiste em criar dez atrações diferentes, em um mesmo local, para atrair fluxos de pessoas. As ferramentas mais comuns são livrarias ao ar livre, quiosques para a venda de comida e serviços como internet grátis.

Kent sugere soluções ainda mais baratas, como um forno para pães, instalado no parque Dufferin Grove, em Toronto, no Canadá, que reuniu famílias e encerrou a fase de abandono do local. "Vizinhos e autoridades municipais sempre falam que esses projetos não dão certo, mas é a comunidade que terá o poder de decisão", diz o especialista, há mais de 35 anos no setor.

Apesar de ser um entusiasta de ocupações de lazer em áreas públicas, como as "praias" de areia às margens do rio Sena, durante o verão, em Paris, Kent não defende tudo o que vê. Não gosta da High Line, linha férrea suspensa transformada em parque, e do Lincoln Center, ambos em Nova York. "O High Line tem os bancos mais desconfortáveis do mundo e não faz conexão com o comércio das ruas que ficam abaixo", afirma. "Já o Lincoln Center abriga um restaurante feito por um arquiteto famoso, mas com cardápio caro e apenas quatro mesas ao ar livre. É o retrato de um lugar que não serve para reunir gente."

Em São Paulo, foi criado no início do mês o Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking (CBLP), que pretende ser um fórum de iniciativas para a humanização de espaços públicos. O "placemaking", usado como pilar do trabalho da Project for Public Space, bebe na fonte da construção e gestão de áreas que privilegiem a convivência social.

Segundo o presidente do CBLP, Ricardo Birmann, a ação brasileira envolve representantes da iniciativa privada, órgãos públicos, do terceiro setor e meio acadêmico. Birmann é ligado à Fundação Aron Birmann, que administra o Parque Burle Marx, na zona Sul de São Paulo (SP), e preside a Urbanizadora Paranoazinho (UPSA), dona da área residencial conhecida como Fazenda Paranoazinho, próxima a Sobradinho (DF).

Uma das ideias do empresário, em Brasília, é a criação de um manual para a gestão compartilhada de parques entre o governo e atores privados. "O plano é oferecer uma programação cultural e de lazer para os usuários, além de iniciativas que gerem receita para a manutenção dos locais, como restaurantes e quiosques", diz Birmann.

Outra frente de trabalho encampada por Birmann é a construção de parques com recursos obtidos da compensação ambiental, a partir de empreendimentos imobiliários. "O nosso setor sempre sofreu 'bullying' e é visto como o vilão que destrói áreas públicas. Queremos mudar isso."

No Distrito Federal, o programa Brasília, Cidade Parque, que prevê a compensação ambiental e florestal por construções que causam impacto ao meio ambiente, observa um aumento do valor da cobrança do benefício, de R$ 148 mil, em 2010, para R$ 13 milhões, até agora, segundo Nilton Reis, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram-DF). Pelo menos 12 parques já foram entregues no modelo, como o Jequitibás, em Sobradinho, com 11,2 hectares e um investimento de R$ 600 mil. Há outros 24 termos de compromisso formalizados, sendo 19 pagos pela iniciativa privada.

Valor Econômico, 16/10/2014, Eu&Estilo, p. D4

http://www.valor.com.br/cultura/3736754/programa-no-df-preve-construcao…

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