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Autor: Ionice Lorenzoni
09 de Jun de 2008
Ter dentes bons para cantar e tocar flautas. Ter saúde para dançar. Ter saúde para estudar... Este é um trecho do Livro de Saúde Bucal criado por professores ticunas, habitantes das aldeias do Alto Solimões, no Amazonas, para ensinar os alunos como e por que cuidar dos dentes. A obra integra uma série de 42 livros produzidos por professores nos cursos de formação, que serão distribuídos pelo MEC nas escolas.
A primeira remessa tem 17 livros que serão entregues em junho e julho em escolas públicas dos povos calapalo, nahukua, matipu, mebengocre, panará, cuicuro (aldeias de Mato Grosso), ianomâmi, baré, ticuna (Amazonas), uajapi (Amapá), trucá (Pernambuco) e caapor (Maranhão). As outras obras estão em fase de produção com entrega prevista para o segundo semestre. Os livros em línguas maternas, português ou bilíngüe abordam diferentes temas, entre eles, mitologia, lendas, histórias, meio ambiente, literatura, matemática, atividade econômica, modelos de construção de casa, calendários.
De acordo com a coordenadora da Comissão Nacional de Apoio à Produção de Material Didático Indígena (Capema), Márcia Blanck, os livros valorizam a cultura, a identidade e as línguas indígenas, conforme o determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Os dentes O livro elaborado e ilustrado pelos professores ticunas conta como a planta wotcha era usada pelos antepassados para limpar os dentes e como usavam o fio de tucum na função de fio dental. Aborda a importância dos alimentos e da mastigação para a boa saúde, traz informações detalhadas sobre a dentição, a troca de dentes, como deve ser feita a limpeza da boca desde quando a criança nasce, o uso da escova, as doenças como a cárie e a placa bacteriana. O livro termina dizendo que a saúde é um direito de todas as pessoas. A saúde é um direito do povo ticuna. A obra é em língua portuguesa para alunos do ensino fundamental.
As escolas públicas de cinco povos do Parque Indígena Xingu, em Mato Grosso, vão receber o livro bilíngüe Esta é a terra que nós plantamos, que será usado no ensino fundamental e médio. A obra aborda a classificação cuicuro dos tipos de ecossistemas da região onde vivem, com a vegetação a ela associada e a relação entre ambiente e cultura. Traz o calendário tradicional cuicuro, fruto da observação das estrelas e constelações, os períodos de secas e chuvas, os recursos naturais e a atividade econômica. O livro será usado em três escolas cuicuro, quatro escolas calapalo, matipu, nahukura e carib, todas do Parque Indígena Xingu, falantes da mesma língua.
O povo panará, do município de Colíder (MT), produziu um livro de matemática em língua materna para ser usado na alfabetização das crianças. A matemática é abordada dentro do universo das crianças da aldeia: árvores, animais, objetos de caça e pesca e de produção de alimentos.
Tiragem -- Márcia Blanck diz que a tiragem dos livros varia entre mil e dez mil, segundo as matrículas registradas pelo censo escolar. Em 2006, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) recebeu de professores indígenas e suas organizações 64 projetos de livros, dos quais a Capema selecionou 42. A produção gráfica das obras selecionadas é de responsabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A partir do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado em abril de 2007, os livros para as escolas indígenas continuam sendo selecionados e custeados pelo Ministério da Educação, mas a responsabilidade pela reprodução passou a ser das secretarias estaduais de educação. Dos 24 estados que têm população indígena, 18 tiveram recursos aprovados nos Planos de Ações Articuladas (PAR) para a reprodução de livros. O repasse do ministério para essa finalidade soma R$ 6,3 milhões, em 2008.
A Capema, que é uma comissão da Secad, tem 16 membros: um da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, um da Fundação Nacional do Índio (Funai), quatro da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, quatro de organizações indígenas, dois de universidades, dois de organizações não-governamentais, um do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e um da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
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