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Professor defende cultura indígena

Paraná On Line-PR
Autor: (Anselmo Meyer)
09 de Nov de 2001

Em 1990, a educação indígena deixou de ser responsabilidade da Funai, passando para o Ministério da Educação (MEC). No entanto, atualmente 30% dos professores em escolas indígenas não são índios, o que traz sérios problemas de incompatibilidade cultural e ideológica.
Segundo o professor de sociologia da Universidade Federal de Santa Catarina e membro do Comitê Nacional de Educação Escolar Indígena do MEC, Júlio Wiggers, esta situação já foi pior. Há sete anos, a porcentagem era invertida, sendo 70% de professores não-índios. "Os `brancos' não sabem, não conhecem e não convivem com a cultura dos índios", ponderou, lembrando que há 1.500 escolas indígenas no Brasil. Hoje existem mais de 1.500 professores índios em formação ou já formados. "É melhor ter um professor índio não formado do que um professor formado não-índio", afirma Wiggers.
Hoje há no País duzentos povos indígenas, com 180 línguas diferentes, a maioria somente oral. Atualmente os professores com o apoio das universidades estão colocando os fonemas e estruturando a gramática destas línguas". Já há cerca de cinqüenta destas línguas estruturadas e com gramática. "O índio não quer se privar de nossos conhecimentos, mas contanto que eles não percam suas identidades, que sem a língua não existe. Ele só quer incorporar o conhecimento a sua realidade".
As escolas indígenas têm laboratórios de informática, aulas de inglês entre outros itens, além das disciplinas tradicionais das escolas comuns. O índio tem uma situação jurídica e cultural diferente da população em geral. Ele não é registrado em cartório, sendo tutelado pela Funai. "Isso é que temos que entender: o índio é diferente de nós, necessitando uma educação distinta da nossa. Mas, mesmo assim, o índio quer ter o mesmo nível de ensino do nosso. Inclusive, já há membros deles nas universidades com mestrado e doutorado, sem perder suas raízes", explica Wiggers.
Passado
O professor diz que antes da Constituição de 1989 o panorama da educação indígena era caótico, pois um decreto do ex-presidente Getúlio Vargas proibia que escolas ministrassem aulas se não fosse em português. Devido a isso muitas línguas indígenas desapareceram. "Por isso que é importante que os estudos com estas línguas sejam rápidos. Alguns casos são urgentes. Como por exemplo alguns povos indígenas que só têm duas ou seis pessoas que falam", alerta Wiggers.

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