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Produtos orgânicos, além de corretos, criativos

O Globo, Economia, p. 41
09 de Jul de 2006

Produtos orgânicos, além de corretos, criativos
Setor expande produção, com aumento de vendas a taxas de 50% ao ano e exportação de US$ 100 milhões

Eliane Oliveira

A produção e o consumo brasileiros de alimentos e bebidas orgânicos - frutas, hortaliças, carnes, tubérculos, frutos do mar e bebidas cuidadosamente cultivados e preparados sem aditivos químicos - representam menos de 1% da agropecuária brasileira. Porém, embora o setor ainda seja pequeno, tem mostrado expansão acelerada.

De acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) e do Ministério da Agricultura, as vendas, que chegaram em 2005 a US$350 milhões, estão crescendo a uma taxa anual de cerca de 50%. Depois do "politicamente correto", a criatividade é o maior motor deste mercado.

O Brasil já tem, por exemplo, a primeira ostra orgânica do mundo, cultivada no Rio Grande do Norte, e já se aventura na seara da cerveja orgânica, a primeira do país, produzida em Santa Catarina.

Trata-se de um segmento do agronegócio que garante exportações em torno de US$100 milhões anuais. A demanda internacional cresce cerca de 25% ao ano e os principais compradores são europeus, americanos e japoneses.

O governo já tem pronta uma minuta de decreto presidencial regulamentando relações de consumo, qualidade, produção e certificação dos alimentos orgânicos. O objetivo é facilitar ainda mais a expansão das vendas domésticas e externas.

Decreto que regulamenta o setor ainda não foi editado

A assinatura do decreto, no entanto, que chegou a ser uma promessa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ainda não ocorreu. A nova legislação está parada no Palácio do Planalto.

O aumento da garantia da procedência do produto é fundamental para que os negócios deslanchem. A clientela é exigente, quer consumir algo seguro que, no entanto, só é acessível a pessoas com condições de comprá-lo. A diferença de preços entre o alimento orgânico e o convencional é grande. Para o Ministério da Agricultura, o custo chega a ser 40% maior, mas há casos em que a diferença supera 100%.

Expectativa de queda de preço com mais oferta
País produz cerca de 30 variedades de itens atualmente

Cerca de 30 tipos de alimentos orgânicos são produzidos no Brasil atualmente, segundo especialistas. Mas a expectativa do presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos Oliveira, é que a oferta de itens cresça ainda mais. Além disso, com o aumento da produção e da oferta, o preço tende a cair.

- Ainda estamos aquém de outros mercados. Enquanto nos Estados Unidos o segmento fatura cerca de US$21 bilhões por ano, no Brasil as vendas anuais chegam a US$300 milhões - diz o presidente da Abras.

Mas, no geral, quem trabalha com esses produtos só tem a festejar. É o caso da cervejaria Sudbrack, que lançou a cerveja orgânica Eisenbahn.

- Estamos abrindo mercados novos e nossas vendas sobem cerca de 20% ao ano - diz o diretor de Marketing da empresa, Juliano Mendes.

Culinária também ganha fatia de mercado

No Rio Grande do Norte, há a primeira ostra orgânica do mundo. Segundo o proprietário da Primar, Alexandre Wainberg, a empresa está entrando agora na fase de comercialização e produz 500 dúzias de ostras por semana.

Há 20 anos atuando como produtor de orgânicos, Joe Valle, proprietário da fazenda Malunga, no Distrito Federal, lembra que, no início, o nome dado a essa atividade era agricultura alternativa.

- Muita coisa mudou desde então. Hoje já conseguimos ver um horizonte nesse mercado - afirma Valle.

- A demanda está crescendo muito. As pessoas querem qualidade de vida - confirma Cristina Roberto, dona do único bufê orgânico de Brasília, mostrando que as oportunidades de lucrar neste mercado vão além do cultivo dos produtos.

Segmento também estimula a integração social

Essa atividade se estende à área social. Em várias cidades, entidades públicas e privadas se unem na produção de hortas coletivas de vegetais orgânicos, cultivados por famílias de baixa renda.

- São ex-catadores de lixo, sem-teto, moradores da periferia, que aproveitam espaços coletivos, como escolas, e até fundos de quintal. Cria-se uma mentalidade ambiental com aumento de renda, e ainda é garantida uma alimentação saudável - diz Maria Leonice de Freitas, coordenadora de Planejamento da Emater, no Rio Grande do Norte, que atende a 425 famílias.

O coordenador-geral de Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Agricultura, Rogério Dias, destaca que, com a regulamentação que está para sair, será possível, por exemplo, saber que insumos foram utilizados na produção.

- É preciso garantir qualidade ao produto e dar segurança ao consumidor - ressalta Dias. (Eliane Oliveira)

O Globo, 09/07/2006, Economia, p. 41

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