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Produtor pede MP para algodao transgenico

FSP, Agrofolha, p.B10
24 de Ago de 2004

Polêmica
Agricultores querem ação mais rápida do governo, que afirma já ter feito sua parte, ao enviar projeto ao Congresso
Produtor pede MP para algodão transgênico
Mauro Zafalon
Da redação
A produção de algodão, que sofreu forte baque a partir do final da década de 80 no Brasil, voltou com força nos últimos anos. Neste ano, a safra deverá superar em 310% o baixo volume de apenas 306 mil toneladas de pluma em 1997, quando o país teve a pior colheita das últimas décadas.
Dois problemas, no entanto, preocupam os produtores para a próxima safra: um externo, outro interno. O externo é a previsão de queda nos preços internacionais devido à alta da safra mundial.
Já no mercado interno a nova instabilidade vem da descoberta de algodão transgênico em algumas fazendas de Mato Grosso. O plantio é proibido, e o governo promete agir contra esse cultivo.
Para os produtores, são necessárias definições mais rápidas do governo nesse setor. Já o governo diz que fez sua parte, enviando o projeto da Lei de Biossegurança para o Congresso e que agora é com os deputados e senadores.
Hélio Tollini, diretor-executivo da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), diz que falta lógica no procedimento público, que não aceita o resultado de pesquisas de outros países mas também não faz pesquisas internas.
A verdade é que os produtores de algodão caminham pela mesma trilha dos de soja: o plantio de transgênico sem uma regulamentação específica. Diante dessas indefinições, os produtores querem uma medida provisória permitindo o plantio para a safra 2004/5.
Maçao Tadano, secretário da Defesa Agropecuária, diz, no entanto, que "não é intenção do governo editar novas medidas provisórias". Segundo ele, "até o final de setembro o Senado deverá votar o projeto, que será sancionado imediatamente pelo governo Lula, ainda em tempo de o produtor efetuar o plantio."
O setor agrícola não conta, no entanto, como certa essa votação devido ao apertado calendário do Congresso neste ano eleitoral.
Essa indefinição preocupa o produtor e presidente da Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), João Luiz Ribas Pessa. Os produtores estão indo às compras de sementes e outros insumos e não podem entrar no plantio com o perigo de ter a lavoura interditada, diz ele.
Sem uma regulamentação nesse setor, Pessa diz que o Brasil pode perder a auto-suficiência na produção novamente. E o que é pior, vai importar algodão transgênico.
Redução de custos
Três fatores recolocaram o Brasil no cenário mundial do algodão: queda nos custos de produção, qualidade do produto e mudança de região de plantio. No final da década de 80, o bicudo, praga que atacou os algodoais brasileiros, elevou tanto o custo que inviabilizou o plantio.
Nesse período, a participação do governo foi desastrosa, na opinião de Tollini, ao liberar as importações. Essa liberação provocou forte redução na área plantada. A recuperação veio na metade da década passada, com a mudança de plantio do Sul e do Sudeste para o Centro-Oeste.
A produção se profissionalizou, os investimentos aumentaram e a atividade passou a ser exercida por grandes produtores. Com essa mudança, foi possível elevar a qualidade do produto, que hoje tem completa rastreabilidade.
Para manter competitividade no mercado externo, o país tem de continuar a trabalhar com custos baixos, e o transgênico é o caminho a ser seguido, diz Tollini. "Ou o país adota o transgênico ou está fora do mercado no caso do algodão. Foi o caminho seguido pelos nossos concorrentes."
Mas os produtores têm outro desafio pela frente: safra mundial recorde, recomposição dos estoques e queda nos preços. Djalma Fernandes de Aquino, analista da Conab, diz que o produtor deve ficar bem atento a esses dados internacionais, principalmente porque quando for semear a safra 2004/5, as lavouras no Hemisfério Norte já estarão definidas.
Um dos sinais da desaceleração no setor são os contratos de vendas externas, que ainda somam 165 mil toneladas. Nesse ritmo, o país deve exportar o mesmo volume (440 mil toneladas) deste ano.

FSP, 24/08/2004, p. B10

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