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Procura-se lar para 68 leões sem teto

OESP, Vida, p. A21
18 de Ago de 2006

Procura-se lar para 68 leões sem teto
Proibidos de apresentá-los em seus espetáculos, circos abandonam animais selvagens pelo caminho.

Ricardo Westin

O rei dos animais perdeu a majestade. Pelo menos no Brasil. Os leões, outrora a estrela maior dos circos, estão sendo abandonados pelo caminho. Um levantamento recém-concluído do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) revela que existem 68 leões sem teto no País.

Um dos últimos abandonos ocorreu no fim do ano passado, quando a polícia recebeu a denúncia de que havia um bando de leões na beira de uma estrada de Uberaba (MG). No lugar de feras, os policiais encontraram cinco melancólicos animais.

A rejeição é resultado do surgimento de leis municipais e estaduais que proíbem os animais em circos. Há pelo menos 15 projetos de lei no Congresso para estender a proibição a todo o País.

A justificativa está no fato de que a maioria dos circos, sem dinheiro, não oferece tratamento adequado aos animais. Fora dos holofotes, os leões são confinados em pequenas jaulas e a alimentação é insuficiente - a dieta deveria incluir ao menos 6 kg de carne por dia.

"O pobre do leão só tinha pele e osso. Era raquítico. Sofreu uma infecção e o pêlo todo caiu", lembra Maria do Carmo Brígido, do Ibama do Pará, referindo-se a uma recente ação contra um circo "de última categoria" na região de Belém.

Não é raro que domadores serrem os dentes e arranquem as garras dos animais, os queimem ou espanquem. Por fim, os leões acabam abandonados quando ficam velhos ou fracos.

Sem emprego, são resgatados por prefeituras e pela polícia. Até que o Ibama lhes dê um abrigo definitivo, ficam em jaulas improvisadas e até em delegacias. Não podem simplesmente ser soltos na natureza, pois, além de perigosos, não fazem parte da fauna brasileira. Restam, então, três opções: mandá-los para zoológicos, entregá-los a criadores particulares ou embarcá-los de volta para a África. Até a hipótese de sacrificá-los já foi cogitada.

A Prefeitura de São Francisco do Itabapoana (RJ) ficou meses sem saber o que fazer com um casal de leões descartado por um circo. Acomodados num campo de futebol, viraram atração na cidade. Por fim, o Ibama conseguiu transferi-los para o zôo de Brasília. No entanto, nem todos os zoológicos têm espaço sobrando.

Os criadores credenciados também estão no limite. Um deles é o Rancho dos Gnomos, em Cotia (SP). O último dos 13 chegou em dezembro, resgatado no subúrbio do Rio. "Saiu da carreta desesperado. Parecia que queria abraçar a terra", conta Sílvia Pompeu, diretora do Rancho. Ela diz que só consegue manter os animais porque recebe doações.

No ano passado, dez leões foram repatriados. O Ibama os enviou a um zôo da África do Sul. Entidades de defesa dos animais suspeitam que estejam mortos hoje, abatidos em campos de caça - fracos, são alvos fáceis.

Para evitar a reprodução, o Ibama pretende criar normas que obriguem circos, zoológicos e criadores a fazer vasectomia nos animais. A importação também deve ser proibida. "Já não permitimos a importação, mas não existe marco legal", diz João Moreira Jr., um dos coordenadores de fauna do Ibama.

Para a diretora no Brasil da entidade de defesa dos animais WSPA, Elizabeth MacGregor, o ideal é que não haja nenhum leão no País. "Lugar de animal selvagem é no hábitat de origem."

Isso, segundo ela, vale também para outros "estrangeiros", como tigres, ursos, lhamas e elefantes.

OESP, 18/08/2006, Vida, p. A21

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