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Principal líder Yanomami cobra autoridades para fim de ataques a indígenas: 'a situação é grave, garimpeiros querem nos matar'

G1 - https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia
18 de Mai de 2021

Principal líder Yanomami cobra autoridades para fim de ataques a indígenas: 'a situação é grave, garimpeiros querem nos matar'
Davi Kopenawa Yanomami, que há 48 anos luta pelo povo Yanomami e Yekuana, disse que acompanha com preocupação conflitos em Palimiú, comunidade alvo de garimpeiros armados desde o dia 10.

Por Valéria Oliveira, G1 RR - Boa Vista
18/05/2021

"Estou com muita raiva, revoltado. Porque os garimpeiros nunca saíram e as autoridades não estão preocupadas em retirá-los. O que pode acontecer é eles matarem muitas pessoas em Palimiú".
O desabafo em tom de preocupação é do líder Davi Kopenawa Yanomami, conhecido internacionalmente e uma das mais respeitadas lideranças no país, sobre os recentes ataques de garimpeiros contra indígenas da comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, em Alto Alegre, Norte de Roraima.

Davi Kopenawa Yanomami está na comunidade Demini, onde vive, e conversou com o G1 nesta terça-feira (18) por radiofonia. O contato, feito em Boa Vista, foi intermediado pelo filho de Davi e vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa.

"Quero que as autoridades façam a retirada dos garimpeiros, que tomem as providências para a retirada deles da Terra Yanomami [...]. A situação é grave, garimpeiros querem nos matar'.

Desde o dia 10 os yanomami de Paliminú enfrentam dias tensos, rodeados pelo medo de morrer, diante dos ataques e intimidações constantes de garimpeiros armados. Em sete dias, foram registrados confrontos armados entre os invasores e indígenas e até agentes da Polícia Federal. Na noite de domingo, a comunidade foi alvo de bombas de gás.

Sempre em barcos pelo rio Uraricoera, os garimpeiros têm aparecido em maior grupo no período da noite -- é o que relatam os indígenas de Palimiú tanto para a Hutukara, quanto para o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna (Condisi-Y), órgão que também acompanha a situação.

"Meu povo precisa de ajuda agora! Os garimpeiros são homens foras da lei. Nós, Yanomami, somos conhecidos mundo a fora. Por isso, não quero garimpeiro atacando meus parentes em Palimú."
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro. O território também tem um povo indígena isolado, além de seis outros reportados em estudo, segundo a Funai.

A Justiça Federal já determinou que a União envie tropas de segurança para Palimiú, o que ainda não ocorreu, segundo os indígenas.

Nessa segunda-feira (17), a Polícia Federal informou que está com uma tropa do grupo de pronta intervenção nos garimpos adjacentes à Palimú e que o foco é desintrusão de garimpeiros. O Exército informou que aguardava a chegada de uma aeronave para se deslocar à comunidade. Procuradas nesta terça, as duas corporações ainda não enviaram atualização.

O líder indígena afirmou que tem acompanhado a tensão e disse que vai pressionar o governo federal pela retirada dos invasores. "Vamos fazer pressão para que o presidente da república, Jair Bolsonaro (sem partido), retire os garimpeiros. Ele tem que retirar os garimpeiros imediatamente".

Davi Kopenawa Yanomami foi para a comunidade Demini após as gravações da série "Falas da Terra", especial da Rede Globo. Ele ainda não sabe quando viaja a Boa Vista, mas reforçou a necessidade do envio de segurança para região Palimiú: "Eles estão tirando a paz da Terra Yanomami."

Ataques em Palimiú

A comunidade fica às margens do rio Uraricoera, onde garimpeiros exploram o ouro ilegalmente. Na última segunda-feira (10), um conflito armado na região resultou, segundo o Condisi-Y, na morte de três garimpeiros e cinco feridos, além de um indígena baleado de raspão na cabeça. A PF, no entanto, não confirma esses óbitos.

Um vídeo compartilhado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) mostrou a correria de mulheres e crianças no momento em que tiros foram disparados. Conforme a HAY, duas crianças foram encontradas mortas no rio Uraricoera dois dias após o ataque.

Na terça (11), garimpeiros atiraram contra policiais federais que estavam no local para levantar informações sobre o conflito. O tiroteio durou cerca de cinco minutos. Segundo a PF, não houve feridos.

No dia seguinte, a comunidade sofreu mais ataques, horas depois que o Exército esteve na região.

Nesse sábado (15), lideranças viajaram de Palimiú até Boa Vista, com a ajuda da Hutukara, e denunciaram novas intimidações.

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/18/principal-lider-yano…

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