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Primeiros produtos com selo transgênico chegam às prateleiras

OESP, Vida, p. A12
15 de Jan de 2008

Primeiros produtos com selo transgênico chegam às prateleiras
Rotulagem de óleos de soja geneticamente modificada ocorre cinco anos após a publicação de decreto presidencial

Herton Escobar

Os primeiros alimentos rotulados como transgênicos no Brasil chegaram aos supermercados, quase cinco anos após a publicação do decreto federal que exige a identificação de organismos geneticamente modificados (OGMs). Desde novembro, os óleos de soja das marcas Soya e Primor, produzidos pela Bunge, levam no rótulo um triângulo amarelo com a letra "T", acompanhado da frase "Produto produzido a partir de soja transgênica".

A exigência da rotulagem foi confirmada em setembro pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), a partir de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual (MPE). A sentença vale também para a tradicional marca de óleo Liza, da Cargill, mas o produto não está rotulado. Procurada pela reportagem, a empresa disse que "não comenta o assunto".

Segundo a ONG ambientalista Greenpeace, que ontem divulgou comunicado sobre o rótulo do Soya, a ação do MPE foi inspirada em denúncia feita pela organização em outubro de 2005, segundo a qual Cargill e Bunge estariam usando soja transgênica em seus produtos e descumprindo a norma de rotulagem.

O Decreto no 4.680, de abril de 2003, determina que: "Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de 1% do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto."

Nenhum produto até agora havia sido rotulado. Segundo a indústria, porque nenhum ultrapassa o limite de 1% de conteúdo transgênico. O decreto deixa dúvidas se o porcentual se aplica ao produto final ou à matéria-prima usada na confecção. No último caso, qualquer alimento produzido a partir de soja ou milho transgênico deveria ser rotulado. Para as empresas, o 1% refere-se apenas ao conteúdo "detectável" de OGM no produto final.

O juiz Antonio Manssur Filho, em despacho do dia 30 de agosto de 2007 do TJSP, afirma que "pouco importa" a quantidade de ingredientes geneticamente modificados. "Se há utilização de produtos transgênicos na composição dos alimentos colocados no mercado, o consumidor deve ser devidamente informado a esse respeito", afirma.

Segundo a Bunge, a rotulagem dos óleos não tem nenhuma relação com ações judiciais ou com as denúncias do Greenpeace. "Embora a lei só exija a rotulagem acima de 1%, resolvemos agir proativamente, por causa de alguns consumidores que podem achar essa informação importante", disse ao Estado o diretor corporativo de Comunicação da empresa, Adalgiso Telles. "Do ponto de vista legal, não há dúvida de que não seria preciso rotular (os óleos e seus derivados). Seguimos rigorosamente a lei."

O óleo de soja transgênica não contém nenhum produto (DNA ou proteína) resultante da modificação genética da planta. Portanto, é idêntico ao óleo de soja convencional. "Não há absolutamente nenhuma diferença", diz a pesquisadora Alda Lerayer, secretária-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), organização apoiada por empresas do setor.

Segundo ela, é importante que o consumidor entenda o rótulo apenas como uma informação, e não como um "alerta". Além de o óleo não conter material genético, vários estudos no mundo todo comprovam a segurança alimentar dos transgênicos disponíveis no mercado. O rótulo da Bunge destaca que a soja transgênica foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, reconhece que o óleo não contém material transgênico. "Talvez não haja impacto na saúde, mas o impacto ambiental causado pela soja que deu origem ao óleo continua existindo", disse. "O consumidor ambientalmente responsável tem o direito de optar pelo produto não transgênico."

Segundo Alda, cerca de 70% dos alimentos industrializados têm algum derivado de soja. A Bunge, que também produz margarinas e maioneses, disse que não tem planos de rotular nenhum outro produto. Cerca de 65% da soja plantada no Brasil é transgênica, segundo estimativa da consultoria Céleres.

Consumidores não reparam no 'T' dos novos rótulos
Alexandre Gonçalves
Pouca gente reparou no triângulo amarelo com o "T" preto e na mensagem transversal "produto produzido a partir de soja transgênica" na embalagem do óleo Soya. "Só prestei atenção à indicação '0% de gorduras trans'", afirmou a psicóloga Valéria Costa, que fazia compras ontem. "Mas prefiro sem transgênico porque acho mais seguro".

O enfermeiro Raimundo Onófrio também não percebeu a sinalização, mas garantiu que, se tivesse visto, escolheria o produto geneticamente modificado. "Os transgênicos são uma conquista da ciência", disse. "Eles aumentam a produtividade e diminuem o uso de agrotóxicos."

Quando a feirante Maria Tamae reparou no novo rótulo, deu pouca importância. "Levo em conta principalmente o preço."

OESP, 15/01/2008, Vida, p. A12

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