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Primaz do Brasil apóia bispo em greve de fome na Bahia

OESP, Nacional, p. A10
05 de Dez de 2007

Primaz do Brasil apóia bispo em greve de fome na Bahia
Há 8 dias, religioso protesta contra obras de transposição das águas do Rio São Francisco

Tiago Décimo

Três quilos mais magro por causa da greve de fome que já dura oito dias, em protesto contra as obras de transposição das águas do Rio São Francisco, o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, recebeu ontem a visita do cardeal d. Geraldo Majella, arcebispo primaz do Brasil, na Capela de São Francisco, em Sobradinho, a 554 quilômetros de Salvador.

Segundo d. Geraldo, o encontro foi apenas para dar apoio ao religioso. "Viemos conversar e rezar um pouquinho com ele", afirmou ele, que estava acompanhado do presidente da regional Bahia e Sergipe da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Ceslau Stanulla.

D. Geraldo e d. Luiz tiveram uma reunião a portas fechadas durante a manhã. Os dois negaram que a conversa tenha sido uma tentativa de convencer o bispo a desistir da greve de fome. "A decisão está a cargo da consciência dele", afirmou o cardeal. "Mas mostramos a ele que é importante que ele permaneça vivo e com saúde."

D. Luiz respondeu que se sente bem, com saúde e "cheio de vida". E brincou: "A visita foi como uma vitamina. Foi uma grande demonstração de solidariedade." No fim da tarde, cerca de mil pessoas, entre religiosos, pescadores e trabalhadores rurais, participaram de um ato público de apoio ao bispo.

O religioso tem recebido demonstrações de solidariedade de todo o País. Anteontem, recebeu a visita de estudantes de São Paulo, Ceará e Mato Grosso. Pessoas ligadas à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e outras organizações católicas de vários Estados estão jejuando temporariamente, por um ou dois dias, como forma de mostrar solidariedade.

Esta é a segunda vez que o franciscano jejua em protesto contra a obra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende inaugurar em 2010. Na primeira vez, em 2005, d. Luiz ficou 11 dias sem comer. Interrompeu o protesto depois da promessa do governo de rediscutir o projeto e promover a recuperação do rio. Ao reiniciar a greve, em 27 de novembro, ele enviou uma carta ao presidente Lula: "O senhor não honrou nosso compromisso."

AGROINDÚSTRIAS

D. Luiz acusa o governo de beneficiar sobretudo grandes projetos agroindustriais na região, em detrimento da população mais pobre. O bispo escolheu Sobradinho, que fica bem distante de sua diocese, justamente por causa da situação da represa - o nível de água, após quase oito meses de estiagem, está assustadoramente baixo, em torno de 14% de sua capacidade. Para ele, mostrar o reservatório quase vazio é um alerta para os riscos que um projeto de exploração inadequada pode acarretar à região.

O governo Lula permanece irredutível. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, qualificou a greve de fome de "ato fundamentalista". Segundo ele, o governo está cumprindo o prometido e já abriu licitações para projetos de recuperação do rio em quase toda a sua extensão. A obra está orçada em R$ 5 bilhões.

OESP, 05/12/2007, Nacional, p. A10

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