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Preventivo e sustentável

O Globo, Opinião, p. 15
Autor: SOARES, Cristiana Nepomuceno
05 de Set de 2016

Preventivo e sustentável
Tragédia de Mariana não ocorreria se tivesse havido esforço de reciclagem

Cristiana Nepomuceno Soares

Em meio à crise econômica, torna-se importante destacar o gigantesco potencial da mineração. O Brasil é o quinto maior país em território e dispõe de incomensuráveis reservas minerais, que já caminham para esgotamento na maioria das nações. Apesar dessa perspectiva altamente favorável, a situação está se complicando no setor.
Diz o IBGE que, no segundo trimestre deste ano, a maior queda na indústria, em relação aos três meses anteriores, ocorreu exatamente na extrativa mineral: redução de 1,1%. E a indústria de transformação, resultante da extração mineral, recuou 0,3%, e no sexto trimestre consecutivo. Ante o mesmo período de 2015, o setor industrial teve retração de 7,3%, a oitava seguida, e a indústria de transformação caiu 0,5%, enquanto a extrativa mineral recuou 9,6%.
Portanto, há uma recessão na indústria extrativa mineral, em relação a 2015, e o IBGE diz que "a queda maior foi do minério", embora o principal peso do setor seja a área do petróleo.
Como a extração mineral é estratégica e não depende exclusivamente de investimento externo, torna-se necessário rediscutir o setor, duramente atingido pelo acidente em Mariana, com o rompimento da barragem da Samarco, associação da Vale com o grupo anglo-australiano BHP Biliton.
Anuncia-se que a BHP está disponibilizando 1,2 bilhão de dólares para assumir custos do maior desastre ambiental do país, que matou 19 pessoas e destruiu um patrimônio ambiental incomensurável. Este repasse de 1,2 bilhão de dólares, contabilizado no balanço do segundo trimestre, representa a metade da indenização que o maior grupo minerador do mundo se comprometeu a pagar ao Brasil, para indenizar as famílias atingidas e compensar os danos causados.
Essa tragédia, que tem valor incalculável, provoca reflexões sobre o futuro da mineração no Brasil, setor com extraordinário potencial em geração de riquezas e empregos e arrecadação.
Nessa discussão, um fator da maior importância é que, diante da possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, o mundo, enfim, está entrando na era da reciclagem de materiais, e essa nova realidade precisa ser incorporada pela mineração.
As empresas do setor e os especialistas em defesa do meio ambiente têm de encontrar soluções criativas para os problemas que se apresentam. No caso da Samarco, por exemplo, o acidente foi causado por excesso de rejeitos, mas a tragédia jamais ocorreria se tivesse havido um esforço de reciclagem.
Por resultar numa espécie de massa argilosa, os rejeitos da mineração em Mariana poderiam ter sido usados para fabricar tijolos, telhas, placas de laje, pisos, manilhas, pré-moldados e outros produtos. E a custo irrisório, porque a matéria-prima é abundante e gratuita.
Milhares de residências, escolas e postos de saúde poderiam ter sido construídos com os resíduos da Samarco, sem falar em obras de saneamento e melhoramentos urbanos, com geração de grande número de empregos de baixa qualificação.
O setor de mineração tem um encontro marcado com a reciclagem dos resíduos, para evitar acidentes ecológicos, aumentar a lucratividade e ampliar a distribuição de renda. Por isso, esse assunto é importante e preciso ser amplamente debatido, aqui e agora.
Cristiana Nepomuceno Soares é presidente da Comissão de Energia do Conselho Federal da OAB

O Globo, 05/09/2016, Opinião, p. 15

http://oglobo.globo.com/opiniao/preventivo-sustentavel-20048438

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