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Presidente da Sodiurr afirma que ministro veio incendiar conflitos

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: WIRISMAR RAMOS
24 de Nov de 2004

O que muita gente temia aconteceu. Como parte das manifestações das entidades indígenas que defendem a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol em ilhas, os acampamentos montados pelos índios do Conselho Indígena de Roraima (CIR) há seis meses no Município de Normandia foram desmanchados ontem de manhã de forma violenta.
Os oito acampamentos instalados ao longo da estrada que liga a comunidade de Placa à balsa do Passarão e nas fazendas de arroz (em Normandia) foram queimados pelos índios ligados à Sociedade dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr) à Associação dos Índios dos Rios Kinô e Cotingo (Arikon), entre outras entidades indígenas.

A informação foi confirmada ontem à tarde pelo presidente da Sociedade dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr), Silvestre Leocádio.
"Além do fechamento da estrada no Contão (na estrada que dá acesso ao Uiramutã) por tempo indeterminado, decidimos pedir que eles acabassem com aquela situação e fomos recebidos com violência. Revidamos e o acampamento foi queimado", afirmou, ao confirmar que houve conflito corpo-a-corpo entre índios que defendem posições contrárias quanto à reserva.

Silvestre Leocádio disse que 500 homens estão na barreira do Contão, onde ninguém passa, seja índio ou não índio. Ele voltou a afirmar que a barreira permanece até que o presidente Lula decida de vez sobre a homologação da reserva.
O líder indígena criticou a declaração do ministro Márcio Thomaz Bastos, quando afirmou ontem que a reserva Raposa/Serra do Sol será mesmo demarcada de forma contínua. Leocádio afirmou que Thomaz Bastos veio ao Estado somente para "colocar lenha na fogueira" da questão Raposa. "Tudo o que acontecer daqui para a frente, o sangue que for derramado em conflitos entre os índios, será culpa dele (Thomaz Bastos). Não admitimos que alguém que mora em Brasília venha aqui impor suas vontades.

Quem mora lá na área de Raposa a Serra do Sol somos nós (índios) e nós é que sabemos o que é melhor para as comunidades indígenas", desabafou.
Silvestre Leocádio alertou também que o próximo ataque será na comunidade de Pedra Branca, onde o CIR também mantém uma barreira de fiscalização. "O nosso próximo passo será desmontar a barreira da Pedra Branca. A nossa vontade era que tudo se resolvesse pacificamente, mas se não for possível, eles terão que sair de lá por bem ou por mal", enfatizou.

Contra o supremo
O presidente da Sodiurr afirmou que, ao declarar que a reserva Raposa/Serra do Sol, com 1,7 milhão de hectares, será mesmo demarcada de forma contínua, foi contra o Supremo Tribunal Federal (STF) que, no dia 28 de outubro, anulou todas as decisões tomadas até aquela data a respeito da reserva. "Ele foi contra até a decisão do Supremo", destacou.

Segundo a decisão do ministro Carlos Aires Brito, somente o STF tem poderes para determinar de que forma a reserva será demarcada definitivamente. A decisão do STF anulou também a determinação do juiz federal Hélder Girão Barreto, um dia antes, para que os índios do CIR desmontassem os acampamentos nas fazendas de arroz em Normandia.
Na reserva Raposa/Serra do Sol habitam 15 mil índios das etnias Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Patamona e Taurepang.

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