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Preservar a ciência

O Globo, Opinião, p. 6
05 de Dez de 2003

Preservar a ciência

Tudo indica que o governo não pretende recuar da sua decisão de criar o Conselho Nacional de Biossegurança. Isso significa que as decisões finais sobre os produtos transgênicos caberão a um órgão político, o que implica um esvaziamento maior ou menor da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), dependendo do texto final do projeto do governo que está tramitando na Câmara dos Deputados.

É de se lamentar a insistência em conferir um tratamento político e ideológico a uma questão eminentemente técnica, que chega a constituir uma ameaça à continuidade do extraordinário progresso da agricultura brasileira nos últimos anos, notadamente no caso da soja.

No entanto, a posição do relator do projeto, deputado Aldo Rebelo - que considera simples atraso a oposição automática aos transgênicos - traz esperanças de que desse atraso seja preservada pelo menos a biotecnologia. Rebelo já deixou claro que é particularmente contrário à criação de entraves ao avanço da ciência e seu principal fruto, que é o desenvolvimento de tecnologia. E entre as propostas contidas nas mais de duas centenas de emendas que já foram apresentadas ao projeto está a manutenção do poder de decisão da CTNBio no que se refere a conceder autorização para pesquisas sobre transgênicos - idéia valiosa que não deve ofender sequer os opositores mais ferrenhos do plantio e comercialização de produtos geneticamente modificados.

É inegável que os resultados da pesquisa da Embrapa têm sido um fator essencial do avanço agrícola brasileiro. Não há como defender qualquer forma de bloqueio desse trabalho tão produtivo - ainda que a visão ideológica da questão não prime pela racionalidade, como o demonstra a injustificada associação que faz da rejeição aos transgênicos com a defesa do meio ambiente e com toda sorte de bandeira social.

Mantida a ciência a salvo do atraso, será possível esperar que mais cedo ou mais a realidade se imponha, sob a forma da necessidade de se preservar mercados importadores e conquistar outros. E então não estaremos inteiramente à mercê das patentes de biotecnologia em mãos de empresas multinacionais.

O Globo, 05/12/2003, Opinião, p. 6

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