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Preservacao do ambiente e parte da paz

JB, Ciencia, p.A12
09 de Out de 2004

Preservação do ambiente é parte da paz
Queniana é a primeira ecologista a ganhar prêmio pacifista

OSLO - O Comitê do Prêmio Nobel da Paz causou surpresa ontem ao anunciar que a vencedora deste ano é a ambientalista queniana Wangari Maathai, que luta pelo reflorestamento da África e em 30 anos plantou 30 milhões de árvores com a ajuda de seus colegas da ONG Cinturão Verde, que dirige.
- Ampliamos o conceito de paz para incluir a ecologista porque acreditamos que uma boa qualidade de vida na Terra é necessária para promover a paz a longo prazo - justificou o presidente do comitê, Ole Danbolt Mjoes.
No entanto, a explicação não salvou a escolha de críticas.
- Não se dá o Nobel de Química a um professor de Economia - comparou Carl Hagen, líder do opositor Partido do Progresso, da esquerda da Noruega. - Um prêmio de paz deveria homenagear a paz e não o meio ambiente.
Esta foi a primeira vez, desde 1901 - quando o Nobel da Paz foi criado - que um ambientalista recebe o prêmio. Mas a possibilidade já havia sido acenada em 2001, quando o comitê norueguês disse que no futuro poderia homenagear outros tipos de trabalho, como o de ecologistas, artistas de rock e até jornalistas.
Neste ano, foram recebidas mais de 160 indicações para o Nobel da Paz. Entre elas a tradicional, para o papa João Paulo II, e as polêmicas: para o presidente dos Estados Unidos, George Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ''por terem derrubado o ditador iraquiano Saddam Hussein'', segundo o deputado norueguês Jan Simonsen, que formalizou a indicação. Zackie Achmat, que luta pelo controle da epidemia de Aids na África do Sul, também tinha sido indicado. Já a proposta de homenagear o alto comissário da ONU, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello - morto em um atentado no ano passado em Bagdá - foi recusada porque o comitê não concede prêmios póstumos.
Para os ambientalistas, a premiação de Maathai, de 64 anos, foi correta. Eles afirmam que o aquecimento global é uma das maiores ameaças à humanidade, já que pode causar inundações pelo aumento do nível do mar e desertificação de áreas verdes, devido à mudança climática.
- Precisamos entender a relação entre o meio ambiente e a segurança global - disse Klaus Toepfer, chefe do Programa de Meio Ambiente da ONU.
Mas para o pesquisador do Instituto Norueguês de Relações Exteriores, Espen Barth Eide, que indicou o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, para o Nobel da Paz, a escolha de um ecologista pode tornar o prêmio menos relevante:
- Expandir o conceito de segurança pode representar a diluição do significado da premiação, um distanciamento muito grande da idéia original.
Outros críticos duvidam ainda que a vitória de Maathai esteja de acordo com o espírito do fundador do prêmio, Alfred Nobel. Em 1895, ele afirmou que a homenagem deveria ser feita ''à pessoa que tenha feito o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução das armas e pela promoção de congressos de paz''.
No olho do furacão, Maathai defende sua láurea, dizendo que proteger o meio ambiente pode evitar conflitos.
- Muitas guerras no mundo são na verdade causadas por recursos naturais. Ao administrá-los, plantamos a semente da paz - disse a premiada, que vai receber 1,1 milhão de euros em 10 de dezembro.
- É possível que o Comitê esteja querendo dizer ao mundo que há uma relação entre conflito armado e fatores ambientais. Mas não houve um esclarecimento explícito da questão - ponderou Stein Toennesson, no Instituto de Pesquisa de Paz, em Oslo.

JB, 09/10/2004, p. A12

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