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"Preservação da água deve ser prioridade"

FSP, Cotidiano, p. C3
25 de Jul de 2004

"Preservação da água deve ser prioridade"

"Preservar as áreas de mananciais deveria ser uma prioridade para o poder público tão grande quanto combater a violência, afinal a água é indispensável à vida e às atividades produtivas."
A afirmação de Samuel Barrêto, coordenador do Programa Água para a Vida do WWF Brasil, pode até parecer ingênua, mas resume o que ambientalistas e especialistas em recursos hídricos disseram à Folha ao avaliar o aumento nos custos de tratamento da água na Grande São Paulo mesmo depois de se terem investido milhões no Programa Guarapiranga.
"Não adianta mais o poder público fingir que protege, a população fingir que acredita e a água ficar cada vez mais cara e pior", afirma Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica.
Para ele, são os governos os principais indutores das ocupações ilegais nos mananciais porque tomam decisões que não levam em consideração a necessidade de proteger as fontes de água. A opinião é compartilhada por Barrêto. "Falta o olhar integrado da administração e do planejamento. Estamos sempre remediando. Tratamento é isso."
"Historicamente sempre existiu conivência entre políticos locais e grileiros de terras nas áreas de mananciais. A corrupção e o clientelismo são cardápios suculentos para a degradação ambiental", diz Pedro Roberto Jacobi, vice-presidente do Procam (Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental) da USP.
"Os grandes beneficiados com as invasões estão, em anos como este, com placas e faixas por todos os bairros", afirma, fazendo uma alusão aos candidatos a vereador.
Para Jacobi, o poder público foi muito paternalista em relação a ocupações e precisa mudar de postura. "Houve, sim, paternalismo, mas é difícil medir o quanto isso levou à ocupação e o quanto foi necessidade mesmo por falta de uma política de habitação", rebate Ricardo Araújo, da Sabesp.
"Tecnicamente é possível recuperar represas degradadas. Isso foi feito em lagos nos Estados Unidos, mas a um custo altíssimo, que não precisamos pagar", diz Mônica Porto, professora de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP.
Ela diz que se deve "acenar com a cenoura" para os municípios se motivarem a preservar as áreas de mananciais. Uma forma seria dar uma compensação financeira, nos moldes do ICMS ecológico.
Alto Tietê está na "fila da degradação"
Depois do Guarapiranga, o próximo sistema de abastecimento da Grande São Paulo na "fila da degradação" é o Alto Tietê. A piora da qualidade da água armazenada, principalmente na represa Taiaçupeba, já preocupa a Sabesp, a Cetesb, o Dusm (Departamento do Uso do Solo Metropolitano) e especialistas do assunto.
Para a empresa de saneamento, o Alto Tietê passa, ao menos desde 1998, por um processo de deterioração semelhante ao enfrentado pelo Guarapiranga no fim dos anos 80, que culminou, em 1991, com a uma proliferação tão intensa de algas, que se formou uma crosta verde sobre a represa.
As diferenças no caso do Alto Tietê são duas: a existência hoje de um sistema de tratamento mais avançado do que nos anos 90, que facilita por um lado lidar com as algas; e a diversidade das fontes de poluição, o que não ocorre na Guarapiranga e dificulta atacar a raiz do problema.
Além do esgoto doméstico, vão parar nas represas também solo e nutrientes agrícolas -na região está o Cinturão Verde de São Paulo, reduto da produção de hortaliças- e efluentes industriais.
Isso sem falar na especulação imobiliária já desencadeada pelos dois novos reservatórios do sistema, Biritiba e Paraitinga, que estão sendo implantados. "As pessoas querem ter um sítio em cima da represa e temos de ficar atentos contra desmatamentos", diz José Abilio de Gouveia Teixeira, que coordena o Dusm na região.
A área de mananciais do Alto Tietê é a maior da Grande São Paulo, mas tem o menor número de agentes do Dusm: cinco pessoas para fiscalizar 1.332 km2 (quase a cidade de São Paulo).
Teixeira afirma que o órgão intensificou o trabalho com a Casa da Agricultura de Mogi das Cruzes para melhoramento das técnicas agrícolas.

FSP, 25/07/2004, Cotidiano, p.C3

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