VOLTAR

Preservação ambiental dá lucro

CB, Economia, p. 11
24 de Nov de 2004

Preservação ambiental dá lucro
De olho no mercado internacional, empresas investem em manejo florestal. Em dez anos, exportações de madeira e produtos derivados devem chegar a US$ 15 bilhões

Arnaldo Galvão
Da equipe do Correio

As empresas brasileiras começaram a despertar para o bilionário mercado da preservação ambiental. Cada vez mais, indústrias que utilizam a madeira como principal matéria-prima têm obtido lucro com a exploração de florestas plantadas. Nessas áreas, o produto é extraído a partir de processos que respeitam o meio ambiente, trabalhadores e comunidades. Com cinco milhões de hectares plantados, o país detém apenas 2% do mercado mundial de florestas, com vendas externas anuais de US$ 6 bilhões. Como base de comparação, o Brasil obtém os mesmos US$ 6 bilhões por ano com exportação de carne. A diferença é que o rebanho nacional ocupa 150 milhões de hectares.
De olho nesse filão, as empresas que compram produtos derivados da madeira passaram a exigir um selo de qualidade da indústria. Hoje, dois sistemas disponíveis no país concedem certificados com reconhecimento internacional. Garantem que as florestas plantadas são sócio-economicamente sustentáveis. São o Conselho de Manejo Florestal, nome em português para o Forest Stewardship Council (FSC), e o Programa Nacional de Certificação Florestal (Cerflor), administrado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).
O potencial de crescimento do mercado de florestas plantadas é enorme. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), Rubens Garlip, o Brasil terá, em dez anos, dez milhões de hectares reflorestados. Isso deve elevar as exportações anuais para US$ 15 bilhões. Outro sinal do grande interesse pelo negócio é o projeto que prevê a concessão de florestas naturais para a exploração sustentável. Sem contar os 16 milhões de hectares degradados sem uso, que podem ser restaurados.
Garlip informa que o Brasil tem cinco milhões de hectares de florestas plantadas, sendo que 1,4 milhão está certificado. A tendência, segundo Garlip, é certificar tudo porque o consumidor está cada vez mais exigente quando compra papel, celulose, madeira, móveis, chapas e carvão vegetal.
Situação confortável
As condições ambientais privilegiadas deixam o Brasil numa situação confortável em relação a outros países na disputa por esse mercado. Segundo o diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Tasso de Azevedo, o corte das árvores aqui é seis vezes mais rápido do que na Finlândia, uma das líderes mundiais do setor florestal.
Na análise do diretor de Sustentabilidade da consultoria PricewaterhouseCooper, Marco Antonio Fujihara, exigir certificação é uma tendência irreversível. As empresas sabem que precisam dela para conquistar novos clientes. O consumidor paga por essa qualidade, mas o produtor ainda não está recebendo esse prêmio. Intermediários estão levando vantagem.
O diretor de Meio Ambiente e Relações Corporativas da Aracruz Celulose, Carlos Alberto Roxo, revela que a empresa terá, em maio de 2005, toda a área de floresta plantada certificada pelo sistema Cerflor. Na Bahia e no Rio Grande do Sul, 134 mil hectares já foram aprovados.
Na Suzano, o gerente de Recursos Naturais, Luiz Cornacchione, afirma que a empresa tem o selo de gestão ambiental ISO 14000 em todas as florestas de eucalipto em quatro estados. A área total da Suzano é de 190 mil hectares.

Klabin obtém certificação
A Klabin, produtora de papéis e embalagens, acaba de obter a certificação do Forest Stewardship Council (FSC) para 104 mil hectares de florestas plantadas no estado de Santa Catarina. A madeira abastece as duas unidades industriais da empresa nos municípios de Otacílio Costa e Correio Pinto, na região de Lages. A madeira serrada também é vendida aos fabricantes de móveis. A avaliação durou aproximadamente um ano e custou R$ 300 mil. A primeira certificação da Klabin foi em 1998, para suas florestas plantadas no Paraná. Segundo a empresa, agora são 333 mil hectares aprovados pelas normas do FSC, o que representa quase 100% de suas florestas.
Segundo o diretor-geral da Klabin, Miguel Sampol, os grandes clientes da empresa querem saber a origem dos produtos, e os mais exigentes são os importadores de madeira e móveis. Já somos exportadores consolidados, mas o selo FSC reforça a qualidade do produto, justifica.
De acordo com Reinoldo Poernbacher, diretor Florestal da Klabin, o primeiro efeito da certificação é reforçar a imagem da empresa. Num segundo momento, é essencial para a conquista de novos mercados — China, Estados Unidos e Ásia — e para a manutenção dos que já são atendidos.
Outro aspecto importante da certificação da Klabin é que as indústrias de móveis de Santa Catarina terão acesso mais fácil e com custos mais baixos ao mercado externo. Isso porque poderão comprar madeira certificada no estado, e não no Paraná. Sem o selo FSC, eles não vendem para a Europa. Segundo essas normas, os móveis devem ter 70% de madeira certificada.
Criada em 1889, a Klabin tem 18 unidades industriais no Brasil e uma na Argentina, Em Santa Catarina, está desde 1961. Exporta para mais de 50 países e tem 32 mil hectares de matas preservados. O monitoramento das florestas plantadas é permanente e a empresa divulga que um estudo concluído em março deste ano confirmou a presença de sete espécies raras de aves e mamíferos em suas áreas. São cinco classes de aves: Papagaio-de-peito-roxo, Urubu-rei, Azulão, Arapaçú-beija-flor e Sabiá-una. As duas classes de mamíferos encontradas são Jaguatirica e Gato-do-mato-pequeno. Segundo as autoridades ambientais, estão ameaçados de extinção o Papagaio-de-peito-roxo, a Jaguatirica e o Gato-do-mato-pequeno. (AG)

CB, 24/11/2004, Economia, p. 11

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.