VOLTAR

Presença de onça indica que trecho da Mata Atlântica está saudável

O Globo, Rio, p. 16
09 de Ago de 2018

Presença do animal indica que trecho da Mata Atlântica está saudável

ANA LUCIA AZEVEDO

RIO - A onça-parda que perambulou por Cachoeiras de Macacu assustou os moradores, mas, para pesquisadores, trouxe também boas notícias e um raro privilégio. Um sinal de que a Mata Atlântica que abraça o município abriga razoável biodiversidade, motivo de orgulho.
A onça, por mais medo que provoque, atrai ecoturistas e indica que as florestas estão saudáveis e prestam serviços essenciais, como fornecimento de água, regulação do clima e proteção do solo.
A onça é a senhora da mata. Só vive em florestas robustas o suficiente para abrigar animais selvagens, como pacas, que possa comer. Mas há coisas que a ciência e a história ensinam e o medo teima em nos fazer esquecer.
O fato de onças-pardas ou suçuaranas normalmente não atacarem pessoas é uma delas. Rodolpho von Ihering já garantia no "Dicionário dos Animais do Brasil", de 1940, que a onça-parda "não ataca o gado, e muito menos o homem, do qual sempre foge".
O biólogo André Lanna, cuja tese de doutorado investiga a fauna da Serra do Mar justamente nas cercanias de Cachoeiras de Macacu, diz que, na verdade, é um privilégio observar um animal deste, levado quase à extinção pela caça e a perda de habitat. Ele próprio só as viu em imagens captadas por armadilhas fotográficas e drones.
- Você pode passar a vida toda na floresta e não ver uma só onça. Elas não querem saber de nós - diz ele.
Paulo Amaral, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), em Atibaia (SP), diz que uma onça-parda só ataca o ser humano se for acuada ou ficar em pânico. Se, por exemplo, ficar presa num quarto ou garagem. Respeitada a distância, não há problema.
Manter onças distantes tampouco é difícil. Elas se assustam com facilidade. Não gostam de luzes e menos ainda de sons fortes, como os de fogos e buzinas.
Segundo Amaral, só existe um registro no Brasil de ataque de onça-parda a pessoas, em Carajás, no Pará, há mais de 30 anos, e mesmo assim porque havia lixo espalhado por um ajuntamento humano cercado por densa floresta amazônica. Lixo pode atrair um animal faminto.
CÂMERAS JÁ FLAGRARAM 8 ONÇAS
O biólogo André Lanna, coordenador de uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que monitora os mamíferos que vivem no Parque Estadual dos Três Picos, unidade de conservação ambiental na Serra de Friburgo, instalou 45 câmeras no parque para acompanhar os mamíferos, entre eles as onças. Na terça-feira, foram captadas imagens de uma onça que ele acredita ser a mesma que assustou os moradores da localidade de Japuíba, em Cachoeiras de Macacu. As câmeras já flagraram oito onças-pardas, entre adultos e filhotes, além de macacos muriquis, porcos do mato e outros animais.
O Parque Estadual dos Três Picos tem 65 mil hectares, o equivalente a 65.000 campos de futebol, e fica próximo a Cachoeiras de Macacu.

O Globo, 09/08/2018, Rio, p. 16

https://oglobo.globo.com/rio/presenca-de-onca-indica-que-trecho-da-mata…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.