VOLTAR

Prefeitura e Estado trocam acusações em meio à crise do Sistema Cantareira

OESP, Metrópole, p. A16
17 de Abr de 2014

Prefeitura e Estado trocam acusações em meio à crise do Sistema Cantareira
Secretário de Haddad diz que falta 'transparência' à Sabesp e confirma a ocorrência de racionamento noturno de água na capital; auxiliares de Alckmin lamentam declaração de petista, que seria mentirosa e 'irresponsável'

Fabio Leite e Rafael Italiani - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado trocaram acusações nesta quarta-feira, 16, em meio à crise hídrica do Sistema Cantareira. Após o Estado revelar ofício da gestão Fernando Haddad (PT) sobre racionamento de água entre meia-noite e 5 horas, o secretário municipal de Governo, Chico Macena (PT), disse que falta "transparência" à estatal. O secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, rebateu dizendo ser "mentira" do petista a ocorrência de rodízio.
O diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, também reagiu e classificou de "irresponsável" a declaração de Macena. Em nota, ele afirmou que é "no mínimo lamentável que gestores públicos usem uma reunião de natureza técnica para deturpar declarações com objetivos político-eleitorais". O encontro entre os gestores foi realizado na segunda-feira.
Macena afirmou nesta quarta que a Sabesp tem feito racionamento noturno. A empresa nega, mas, segundo ele, a medida foi anunciada na reunião do Comitê Gestor dos Serviços de Água e Esgoto da capital. Macena é o presidente do comitê que acompanha o contrato de concessão de 30 anos dos serviços de saneamento à Sabesp.
"O que Massato disse, e está registrado em ata, é que houve uma diminuição da pressão da água em período noturno e admitiu em reunião, com testemunhas, que, em locais mais altos, bairros localizados em morros distantes, a água não chega. Se não quer chamar de rodízio, de racionamento, pode dar o nome que for, o fato é que falta água", disse Macena.
O secretário de Haddad negou caráter eleitoral no ofício encaminhado às repartições municipais, conforme noticiado pelo Estado ontem. "Apenas comuniquei a rede pública para ficar atenta ao que eles chamam de manobra operacional", afirmou o petista.
Macena disse que encaminhou a informação sobre o racionamento de água a hospitais, postos de saúde e escolas. "Na reunião do conselho gestor, que assumi a presidência na segunda-feira, foi pautado isso (falta d'água), e a Sabesp apresentou um relatório. Tem de fato uma redução da pressão. O pior de tudo é não ter essa transparência", disse Macena.
O secretário Mauro Arce afirmou que rodízio não foi tema da reunião. "É lamentável. Esse assunto não foi tratado lá. Quando ele disse que a Sabesp fala que está fazendo rodízio, ele criou uma coisa que não foi discutida", disse Arce. "É mentira dele (que haja racionamento). O representante da Sabesp que estava lá sabe que esse assunto não foi levantado. O assunto foi a avaliação da situação."
Massato também negou a implementação de rodízio. "Nunca foi dito por mim nem por nenhum funcionário da Sabesp que a companhia pratica qualquer tipo de rodízio ou racionamento. Por uma única razão: não há rodízio nem racionamento nos municípios em que a Sabesp atua. Se houvesse, principalmente a hospitais e escolas, como teria declarado de forma irresponsável o secretário Chico Macena, a Sabesp seria a primeira a informar", afirmou.
De acordo com Macena, a Sabesp teria reduzido na madrugada a pressão da água em 75%, de 40 metros de coluna d'água (m.c.a) para 10 m.c.a. A medida diminui desperdícios com vazamentos, mas afeta o fornecimento de bairros em regiões mais altas.
Políticos. Nesta quarta, Haddad disse apenas que repassou as informações que recebeu da empresa à rede da Prefeitura. "Não vou entrar em uma discussão semântica. O que nós fizemos foi informar a rede de serviços públicos da medida para que todos possam se programar. Um hospital, uma escola e um posto de saúde precisam estar informados. Nós fizemos um mero repasse da informação que foi oficialmente recebida", afirmou o prefeito.
Por duas vezes, Alckmin não comentou as informações reveladas pelo Estado. Pela manhã, ele deixou uma coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, sem responder a perguntas sobre racionamento. À tarde também evitou comentar sobre o rodízio noturno.

Cortada à noite, água no Butantã volta suja e com cheiro de cloro
Bairro em parte alta da cidade está há um mês com problemas; Sabesp nega que região passe por racionamento

Rafael Italiani - O Estado de S. Paulo

No Butantã, na zona oeste, bairro abastecido pelo Sistema Guarapiranga, os moradores convivem há pelo menos um mês com o corte de água durante a noite. Quando o serviço é reestabelecido pela manhã, a água vem com cor escura e forte cheiro de cloro.
"Não dá para beber essa água que parece estar morta. Tenho amigos que vivem em Minas Gerais e pego água mineral com eles", afirmou a curadora Daniela Castro, de 38 anos, moradora da Rua Capitão Frederico Pradel.
A rua dela fica em uma parte alta do bairro às margens da Rodovia Raposo Tavares. Segundo o ofício da Prefeitura, é nesse tipo de região que o fornecimento pode ser prejudicado pela falta de pressão. Daniela também afirmou que espera mais "transparência" das autoridades.
O vizinho dela, o aposentado Alessio Tadeu Mautone, disse que as torneiras com água da rua secam durante a noite há cerca de um mês. Além de não ter água durante a noite, a que vem pela manhã faz com a família tenha de limpar a vela do filtro a cada dois dias. "Fica escura, com um cheiro forte muito ruim. Como a água passa por ali, precisamos limpar sempre. O pior é que percebi que o filtro fica sujo por causa da água há uma semana", afirmou. Ele também disse que os banhos estão sendo mais curtos "para não faltar água na caixa à noite".
Na Rua Albino Tanganelli Neto, o mecânico Paschoal Oliva Junior, de 47 anos, mudou a rotina nas tarefas de casa após perceber que as torneiras secam todos os dias a partir das 21h. "Estou guardando a água da máquina de lavar, que já tem produtos de limpeza, para lavar a garagem. Só lavo as roupas quando há um monte grande de peças e posso encher a máquina de uma só vez", afirmou.
"Eu acredito que a falta de água durante a noite é uma forma, sim, de racionamento. Só acho que nós, moradores que pagamos a conta, precisávamos ser avisados dessa medida antes", disse o mecânico.
Como Paschoal faz a manutenção de veículos na garagem, a água reservada da máquina é usada para limpar a área.
Procurada, a Sabesp negou que a região esteja sofrendo racionamento de água. De acordo com a concessionária, "poderão ser constatados eventuais momentos de intermitência no fornecimento de água por causa das manobras técnicas operacionais e pontuais para a transferência de vazões dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê".

Câmara quer ouvir chefe de estatal

A Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo aprovou ontem um convite para que a presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Dilma Pena, explique o racionamento de água no turno adotado pela empresa, segundo aponta documento da Prefeitura revelado ontem pelo Estado.
"A Câmara tem a obrigação de investigar se houve quebra do contrato e violação da lei que permitiu a celebração do contrato de fornecimento", afirmou José Police Neto (PSD), autor do requerimento. Ele disse que a empresa precisa esclarecer ainda o uso do chamado "volume morto". Não há data definida. A Sabesp não comentou o convite./F.L

OESP, 17/04/2014, Metrópole, p. A16

http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,prefeitura-e-estado-trocam-a…

http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,agua-no-butanta-e-cortada-a-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.