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Prefeito de Anapu e grileiro de terras da Uniao

O Globo, O Pais, p.12
02 de Mar de 2005

Prefeito de Anapu é grileiro de terras da União
Evandro Éboli
Enviado especial
Apontado pelos assassinos como um dos envolvidos na trama que levou à morte da missionária americana Dorothy Stang, o prefeito de Anapu (PA), Luiz dos Reis Carvalho (PTB), é um grileiro de terras no Pará. Ele admitiu ontem ter se apossado, há oito anos, de uma área de cem hectares da União. O lote fica a três quilômetros da rodovia Transamazônica e, nele, o prefeito cultiva arroz, milho e feijão:
— De fato, a terra não está documentada e pertence à União. Desde que me envolvi na política, há quinze anos, não tive tempo de fazer outra coisa na vida. Por isso, não regularizei a área.
Prefeito diz que terras já eram área invadida
Em depoimento ao delegado da Polícia Civil Waldir Freire, o prefeito afirmou que se tratava de uma área invadida e que, depois, ele "foi ficando" e nunca ninguém o incomodou.
— Nem chamaria aquela terra de fazenda — afirmou.
Em depoimento ontem à Polícia Civil, em Altamira, os pistoleiros Rayfran Neves Sales e Clodoaldo Batista voltaram a acusar o prefeito de estar envolvido num suposto esquema de rateio de dinheiro para pagar seus advogados. Com isso, repetiram o que disseram anteontem a uma comitiva de senadores: que o prefeito fora citado pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, como uma das pessoas que ajudaria a pagar advogados para libertá-los.
O prefeito se disse vítima de calúnia e afirmou que está indignado com o envolvimento de seu nome. Ele acrescentou que os pistoleiros foram orientados a envolvê-lo no crime.
— Não aceito essa acusação e vou buscar a verdade até o fim — disse Carvalho.
Em Montevidéu, o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que é muito cedo para dizer se o prefeito tem algum envolvimento:
— Estabelecer relação de mandantes é difícil, é preciso outros elementos.
Carvalho também negou a acusação feita pela senadora Ana Júlia (PT-PA), presidente da comissão externa do Senado que investiga a morte de Dorothy Stang, segundo a qual ele teria incluído entre suas promessas de campanha expulsar a freira do município.
— Isso não é verdade. Ela era ligada ao PT e foi o PT que a escondeu durante a campanha. O partido exigiu a saída dela do município. Eles achavam que ela atrapalharia a campanha e ia tirar votos dos petistas — afirmou Carvalho.
O prefeito admitiu que não concordava com a implantação na região do Programa de Desenvolvimento Sustentável (PDS), uma modalidade de assentamento apoiada pela freira.
— Não concordo com esse tipo de assentamento. Os próprios colonos reclamava. Diziam que nunca teriam o título definitivo da terra — disse.
PT teria interesse em incriminar petebista
O prefeito disse que conhecia Bida de vista e que nunca reuniu-se com ele. Sobre quem teria interesse em incriminá-lo no caso, Carvalho respondeu:
—- Tenho muitos inimigos. O PT é um deles.
O deputado José Geraldo (PA) disse ontem, na página do PT na internet, que Carvalho sempre foi inimigo de Dorothy:
— Dorothy era um dos alvos. Ele particularmente fazia uma ofensiva muito grande contra ela. É um prefeito que não merece confiança.
Altamira amanheceu com faixas com ataques e críticas ao governo federal e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. As mensagens eram apócrifas. Uma delas dizia: "Marina Silva: um poder que paralisou o desenvolvimento da Transamazônica". Outra, afirmava: "Governo federal e Greenpeace, responsáveis por milhares de desempregados na Transamazônica".
As faixas foram expostas na estrada que liga o aeroporto ao centro da cidade. Os três envolvidos na morte da missionária presos em Altamira devem ser transferidos ainda hoje para Belém.

O Globo, 02/03/2005, p. 12

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