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Prefeito amarrado na Bolívia diz que indígenas foram manipulados

R7 https://www.r7.com/
Autor: Beatriz Sanz e Fábio Fleury
02 de Mar de 2018

O prefeito amarrado na Bolívia, Javier Delgado, afirmou em entrevista exclusiva ao R7 que sua punição foi resultado da manipulação do grupo indígena responsável pela decisão de prendê-lo em uma armadilha de madeira. O caso aconteceu na cidade de San Buenaventura.

Delgado afirma que o ocorrido tem ligação com um processo de revocatória, uma espécie de impeachment popular que ele está sofrendo.

O prefeito foi amarrado por moradores da etnia Tacana, que vivem no vilarejo de San José de Uchupiamonas.

As leis bolivianas protegem as tradições indígenas, inclusive a forma como eles resolvem conflitos. No vídeo da prisão, é possível perceber que ele cede de boa vontade e aceita o castigo.

Embora discorde da punição, Delgado não pretende acionar a Justiça contra as lideranças indígenas que decidiram amarrá-lo em praça pública. Na foto que viralizou nas redes sociais, ele inclusive estava fumando um cigarro.

"Falta de informação"

O prefeito diz que a punição foi resultado da junção de "falta de informação e má intenção" de pessoas que são contra seu governo.

"A justiça originária (indígena) foi manipulada. Por isso, não posso ser inconsequente de fazer uma denúncia contra as autoridades originárias", conta. "É preciso entender as idiossincrasias e também a origem simples deste povo que foi manipulado por pessoas poderosas."

A população, por outro lado, garante que o prefeito não cumpriu com as promessas que havia feito. Em entrevista à rádio local Fides Trinidad, Daniel Salvador, um dos moradores que estava presente no momento em que o prefeito foi amarrado contou que as autoridades se recusavam a receber os membros da comunidade de San José de Uchupiamonas, onde o castigo foi realizado.

Após ter sua perna presa na armadilha de madeira, as demandas da comunidade foram sanadas.

O que é a revocatória?

Além do castigo público, Delgado enfrenta uma espécie de processo de impeachment. A lei boliviana permite que ao chegar ao meio do mandato, os cidadãos insatisfeitos possam convocar uma revocatória contra o administrador da cidade.

Delgado afirmou que não está preocupado com o cenário ou a possibilidade de afastamento.

Para que o prefeito deixe o cargo, 30% da população da região que o elegeu precisa assinar um abaixo-assinado pedindo a saída. Ao fim, as assinaturas são levadas para a justiça eleitoral em livros que são enumerados de 1 a 16.

A situação de Delgado neste processo é complicada. Os livros serão entregues neste fim de semana e, segundo uma contagem informal, falta apenas meio livro de assinaturas para que ele seja afastado.

'Castigo' é decisão judicial

A constituição da Bolívia deu grande autonomia para os povos indígenas do país, que constituem cerca de 62% da população total do país.

Um dos instrumentos utilizados para garantir isso foi o direito de que as localidades indígenas resolvam seus problemas judiciais de menor importância segundo sua própria tradição. Isso significa que a prisão do prefeito, que já tinha acontecido outras duas vezes em outro povoado indígena, é uma decisão legal, como se fosse uma sentença proferida por um juiz.

O prefeito, contudo, questiona a maneira como essa decisão é tomada. "Há um respeito à Lei de Culturas Originárias, no entanto, há um vazio legal no que diz respeito a estes elementos de pressão. Não se sabe claramente como se julga um pessoa, qual é o castigo ou qual é o tempo, qual é a forma."

A decisão de amarrar o prefeito foi tomada em uma reunião com membros da comunidade. Eles inclusive assinaram uma ata em que afiram que Delgado não deu atenção às demandas do povoado e que poderia usar o tempo amarrado para refletir.

https://noticias.r7.com/internacional/prefeito-amarrado-na-bolivia-diz-…

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