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Preconceito afasta índios de escola

Correio do Estado-MS
16 de Mar de 2002

Grupo de 14 indígenas que estudava no distrito de Panambi faz várias acusações e pede transferência para estabelecimentos de Dourados
Fábio Dorta

O permanente clima de tensão entre colonos e índios que lutam desde dezembro de 1995 pela posse de 1.138 hectares no distrito de Panambi - a 20 km de Dourados - fez com que 14 indígenas que cursavam o ensino fundamental na Escola Estadual Dom Aquino pedissem transferência para estabelecimentos de ensino de Dourados.

O grupo alega ser vítima de discriminação por parte dos colegas e até da direção da escola. Os alunos estavam fora da sala de aula desde o início da semana. Em uma reunião realizada anteontem na Aldeia Panambizinho entre as lideranças indígenas, alunos, Funai e a secretária municipal de Educação, Maria Dilnéia Fernandes, ficou definido que a partir de segunda-feira os 14 índios passarão a estudar em Dourados.

De acordo com Maria Dilnéia, a solução foi tomada de forma emergencial para que os indígenas não fiquem sem estudar. A prefeitura providenciou um ônibus para o transporte diário do grupo da aldeia até Dourados. "São alunos de 5ª a 8ª série que foram matriculados em algumas escolas aqui da cidade até que nós possamos reformar a escola da aldeia, que hoje abriga apenas alunos até a 4ª série", disse a secretária.

Preconceito

As lideranças da Aldeia Panambizinho denunciaram que os alunos indígenas estariam sofrendo vários tipos de preconceito dentro da escola, como por exemplo serem obrigados a utilizar copos e pratos diferentes dos alunos não índios e ouvirem provocações por parte dos colegas, sendo chamados de "bugres" de forma pejorativa.

De acordo com uma das lideranças indígenas locais, o caiuá Daniel Aquino, alguns indígenas reclamaram até terem ouvido que comem e bebem em pratos e copos diferentes dos não índios porque seriam portadores de doenças. "Os alunos decidiram que não queriam mais continuar na escola da vila por causa desse tipo de discriminação", afirmou Aquino, que é professor.

O chefe do núcleo da Funai de Dourados, Jonas Rosa, afirmou que, em virtude de todos os problemas ocorridos entre os dois lados por causa da luta pela posse da terra, a transferência dos alunos pode ter sido a melhor saída no momento para evitar a possibilidade de ocorrer novos conflitos entre índios e colonos.

Escola nega

O diretor da Escola Dom Aquino, Odair Marques, não foi encontrado pelo Correio do Estado na tarde de ontem para comentar o fato. Uma secretária da escola informou que ela teria vindo a Dourados. Ela não quis se pronunciar sobre o assunto, limitando-se a informar que duas alunas índias estavam em sala de aula ontem. O diretor da Associação de Pais e Mestres (APM) da escola, Dionésio Marques Rosa, que também é um dos principais líderes dos colonos, nega qualquer tipo de preconceito. Segundo ele não há qualquer problema para que os índios continuem estudando no local. "Não tem nenhum problema. A escola está à disposição", afirmou.

Dionésio questiona, no entanto, o fato de alunos índios de 1ª a 4ª séries estudarem na escola do distrito, enquanto na aldeia existe uma escola com professores para atender estas crianças. "Se na aldeia tem escola até a 4ª série, acho que eles só deveriam estudar aqui a partir da 5ª série", afirmou o presidente da APM.

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