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Pré-sal pode tirar Brasil do rumo certo, diz Lester Brown

OESP, Especial, p. H4
Autor: BROWN, Lester
30 de Out de 2009

Pré-sal pode tirar Brasil do rumo certo, diz Lester Brown
Para guru ambientalista, País deve manter aposta em energias renováveis

Andrea Vialli

O americano Lester Brown, um dos principais pensadores da chamada economia ecológica, é um homem de fala mansa e semblante sério. E gosta de dar conselhos. Para o Brasil, onde esteve na semana passada para divulgar seu novo livro, Plano B 4.0 - Mobilização para Salvar a Civilização, o recado foi claro.

O País não deve se perder nas brumas das promessas do petróleo do pré-sal e manter firme sua aposta nas energias renováveis, opção que deve ganhar peso depois da Cúpula do Clima de Copenhague, em dezembro. "Encontrar mais petróleo agora pode ser um indicador de progresso. Mas, até conseguir tirá-lo do fundo do mar, talvez ele já faça parte da história."

Fundador do Worldwatch Institute (WWI), em 1974, e atual presidente do Earth Policy Institute, entidade de pesquisas interdisciplinares com sede em Washington, Brown também gosta de matemática. Fez as contas e chegou à conclusão de que são necessários US$ 187 bilhões anuais (só 13% do que é gasto hoje com armamentos) para colocar em prática o que ele chama de "plano B" da humanidade: estabilizar o clima e a população, erradicar a pobreza e restaurar sistemas que dão suporte à vida na Terra, como água, solos e ar.

A proposta dá nome ao novo livro, no qual Brown reuniu dados mostrando que ainda é possível colocar o planeta nos trilhos. Mas o tempo é exíguo. "A principal razão para o plano B é que o plano A, ou o "business as usual", não está funcionando muito bem", afirmou ele ao Estado. "Se continuarmos no caminho atual, chegaremos ao colapso climático e também das economias, porque não haverá sustentação para a atividade econômica com a destruição das florestas, erosão dos solos e colapso dos oceanos."

Na avaliação de Brown, as mudanças estão sendo feitas. "Mas estão ocorrendo na velocidade necessária?" Ele é pragmático. Para poupar tempo, propõe que o plano B comece pela economia. O caminho seria uma revolução tributária, para fazer o preço dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, expressar danos que eles causam à atmosfera e à saúde.

"Nos Estados Unidos, a gasolina custa US$ 3 o galão, mas o preço honesto seria de US$ 12, se refletisse os custos dos combustíveis fósseis para a sociedade", diz. Brown propõe um aumento anual nos impostos de US$ 0,12 por litro de combustível, para estimular a adoção de fontes renováveis de energia.

A reforma global no sistema de tributos favoreceria países como o Brasil. A liderança brasileira em energias limpas pode ser uma vantagem competitiva na busca por investidores. "Vocês fizeram a transição primeiro. O Brasil tem vasto litoral, ideal para parques eólicos, reservas de água, sol o ano todo. É o território ideal para uma economia de baixo carbono."

Uma das dificuldades apontadas por Brown para a adoção do plano B é o fato de os governantes, ao tomarem decisões, só olharem indicadores econômicos, como emprego, renda e produção. "Não vemos atenção similar para indicadores como erosão do solo, disponibilidade de água ou espécies em extinção, que na minha avaliação são muito mais importantes para as civilizações do futuro."

OESP, 30/10/2009, Especial, p. H4

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