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Povos indígenas pedem respeito à medicina de pajé nas aldeias

Gazeta de Alagoas - Maceió - AL
30 de Mar de 2001

Lideranças indígenas de todo o Estado se reuniram, extraordinariamente, no Conselho Distrital para os Povos Indígenas, na manhã de ontem, para elaborar um documento relativo à assistência à saúde dos índios de Alagoas, após uma liminar da Justiça determinar que este atendimento não poderia mais ser prestado através das prefeituras municipais, conforme vinha procedendo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Após uma consulta às comunidades indígenas ficou determinado, entre outras coisas, que seja respeitada a medicina alternativa do pajé. Na proposta de seleção das novas equipes multidisciplinares que irão atuar nas comunidades indígenas, cobra-se humildade e respeito aos procedimentos utilizados na cura, e que elas repassem informações sobre cada índio atendido ao pajé, disse a liderança Jeripankó, Agamenon Nascimento. Segundo ele, só o curandeiro sabe diferenciar as doenças dos brancos e as doenças espirituais não tratáveis com medicamentos. Eles também querem uma maior participação na definição de critérios, a exemplo da carga horária dos profissionais, e solicitam plantões de fins de semana. As equipes formadas por médico, odontólogo, psicólogo, enfermeiro, agentes de saúde indígena, auxiliar de odontologia, auxiliar de enfermagem e agente de saneamento devem assistir apenas os índios, porque os recursos federais são específicos para eles, ao contrário da condução que vinham sendo dada pelos prefeitos.

Índios denunciam que vivem situação de miséria

Sem sementes e sem terras para plantar os poucos hectares disponíveis e produzir alimentos, os índios alagoanos continuam passando fome. A situação é mais crítica entre os povos kalankós, geripankós e karuazus, do alto sertão, nos municípios de Pariconha e Água Branca, onde até a chuva chegou, mas não reduziu as condições de miséria dessas comunidades. Nenhuma dessas terras pertencentes aos índios foi demarcada e os kalankós e karuazus nem sequer foram reconhecidos como povos indígenas, disse a liderança Agamenon Nascimento, dos geripankós, povos reconhecidos como índios há 20 anos, após uma luta intensa e mobilização. O processo de reconhecimento de um povo obriga o governo federal, através da Fundação Nacional do Índio (Funai) a demarcar terras, daí a demora do processo. As famílias, extremamente necessitadas, não recebem cestas básicas de alimentos. Segundo informações de Agamenon, os técnicos agrícolas disponibilizados pela Funai estão de braços cruzados por falta de estrutura para exercerem suas funções. A região tem tradição na plantação de milho, feijão e mandioca. Outros povos indígenas de Alagoas também enfrentam problemas similares, a exemplo dos kariri-xocós que moram na periferia de Porto Real de Colégio, por falta de terras para plantar. Eles presenciam vivendo às margens do São Francisco, seus problemas e prevêem a morte do rio, que já foi fonte de sobrevivência.

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