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Povos do Xingu firmam posição e obra no rio Culuene (MT) é suspensa

Site do ISA-Socioambiental.org-São Paulo-SP
Autor: Bruno Weis.
17 de Nov de 2004

Mais de 200 índios de diversas etnias do Parque Indígena do Xingu compareceram à reunião com o governador do estado do Mato Grosso, Blairo Maggi, no sábado 13 de novembro, em Canarana (MT), para afirmar que não aceitarão a construção da barragem Paranatinga II, situada no Rio Culuene, um dos principais formadores do rio Xingu.

Em Canarana, povos do Xingu protestam contra obras de barragem

As lideranças índigenas presentes ao encontro no dia 13 - entre elas representantes das etnias Yawalapiti, Aweti, Kuikuro, Suyá, Yudjá, Kaiabi, Waurá, Mehinaku, Nafukuá e Kalapalo - informaram ao governador Blairo Maggi que o trecho de rio no qual a obra está sendo erguida é sagrado para os povos do Parque Indígena do Xingu. O local foi palco do primeiro Kuarup , a festa anual em homenagem aos mortos ilustres dos povos do Alto Xingu e é, hoje, importante referência da história cultural de todos os índios da região.

Maggi disse que desconhecia o aspecto sagrado daquela parte do rio Culuene e determinou à empresa Paranatinga Energia Elétrica a paralisação imediata da obra. "Até que seja feita uma avaliação se deve ser definitivamente paralisada ou não", disse o governador. Na reunião, os índios distribuíram uma carta (veja box) na qual reiteram a disposição de lutar sem concessões pelo fim da obra e também expressam preocupação com o impacto ambiental gerado pela mesma. "São obras como essa que acabam com a vida dos rios. Temos que parar com isso antes que não tenha mais peixe no Xingu", alerta Makupá Kaiabi, presidente da Associação Terra Indígena Xingu, uma das organizações que encabeçam a campanha 'Y ikatu Xingu.

No domingo 14, alguns índios ainda visitaram o canteiro de obras e se certificaram que o maquinário estava realmente recolhido. A visita só foi possível após a suspensão pelo Tribunal Regional Federal (TRF) de uma liminar expedida pela Justiça Federal de Cuiabá que impedia os índios de se aproximarem do local da barragem. A liminar havia sido acionada pela empresa Paranatinga.

Na quarta-feira 17, em nova reunião entre o governador Maggi, representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Mato Grosso, membros do Ministério Público Federal e advogados da empresa, ficou decidido que a Funai elaborará o estudo antropólogico/cultural que dimensionará o impacto da barragem sobre as comunidades xinguanas. O levantamento será decisivo para a continuidade - ou suspensão definitiva - do empreendimento. Nos próximos dias, diretores da Paranatinga e da Funai definirão o prazo para a conclusão do relatório. O documento deverá ser anexado ao licenciamento ambiental concedido pelo governo do estado. O licenciamento, bem como toda a documentação que regulamenta o empreendimento, por sua vez, foi remetido à própria Funai e ao Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A barragem está sendo construída a apenas dois quilômetros da Reserva Ecológica Estadual do Rio Culuene, em território histórico dos povos xinguanos. "Os índios sempre estiveram lá", afirma o antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional do Rio de Janeiro. O antropólogo explica que o levantamento dos mitos indígenas já existe - e os respectivos lugares aos quais estão associados - na região do rio Culuene. O território também é rico em vestígios arqueológicos das antigas populações que ali viviam.

Leia a carta distribuída pelos índios durante a reunião em Canarana:

Parque Indígena do Xingu, 28 de outubro de 2004.

Nós lideranças das aldeias do Parque Indígena do Xingu, estivemos na fazenda localizada próxima a vila Couto Magalhães, para verificar a construção de uma barragem no rio Kuluene. Inicialmente nossa preocupação era com a preservação dos recursos hídricos, nossa principal fonte de alimentos. Quando chegamos ao local, agravou-se nossa preocupação. O local onde está sendo feita a barragem, apesar de ficar fora do Parque, é um lugar sagrado para os povos do alto Xingu. Foi lá que aconteceu a primeira festa do KWARYP, realizado por nosso Deus Mawutsinin. Hoje a cerimônia do KWARYP, ainda é cultuada anualmente pelos povos alto xinguanos e tornou-se mundialmente conhecida.

O rio Kuluene é afluente do rio Xingu, que é um dos rios mais preservados do Brasil, graças à presença indígena em todo seu curso, tornando-o assim uma referência nacional de preservação, beneficiando vários povos indígenas, ribeirinhos, pequenos e grandes produtores.

Não admitiremos a destruição de um lugar tão importante. Quando estivemos no local onde está sendo construída a represa exigimos a paralisação imediata da obra e vamos manter a vigilância do local. Estamos muitos preocupados com a preservação do rio Kuluene e de todos os outros rios que formam as nascentes do rio. Contamos com vossa colaboração para nos unirmos pela preservação de um patrimônio cultural e ambiental tão importante para os povos indígenas e toda sociedade nacional.

`Y ikatu Xingu.

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