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Autor: Valéria Macedo
06 de Mai de 2001
Amanhã, 7 de junho, 16 índios voarão do Parque do Xingu até São Paulo para comemorar sua formatura no primeiro Curso de Auxiliares de Enfermagem Indígenas, empreitada pioneira da Unifesp/Escola Paulista de Medicina em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso.
O curso de auxiliares de enfermagem, iniciado em julho de 1997, faz parte da proposta de capacitação de profissionais indígenas iniciada em 1990 pela Unifesp/Escola Paulista, em convênio com a Funasa para atuar no DSEI (Distrito Sanitário Indígena) do Parque do Xingu. A iniciativa atende a uma antiga reivindicação dos índios para que gradativamente os profissionais não índios que atuam na região sejam substituídos.
Em janeiro de 2001, concluíram o curso sete índios da etnia Kaiabi, um Suiá, dois Juruna, um Ikpeng, dois Kamaiurá, um Nafukuá, um Waurá e um Kuikuro. Todos são do sexo masculino, têm idade máxima de 20 anos e já possuíam experiência de trabalho como agentes de saúde. Segundo Lavínia Santos de Souza Oliveira, enfermeira e coordenadora pedagógica do projeto, a participação de mulheres nessa área iniciou-se em 1998 e será a próxima prioridade de formação.
Atualmente, existem cerca de 40 profissionais indígenas trabalhando como agentes de saúde, auxiliar de serviços gerais, pilotos de barco e auxiliares de administração. O passo seguinte é que os formandos sejam contratados como auxiliares de enfermagem do DSEI Xingu.
As perspectivas futuras é que alguns dos alunos venham a ser professores nas novas turmas. Lavínia Oliveira conta que eles já estão atuando como monitores nos treinamentos dos agentes de saúde na área, tanto teóricos como práticos, com excelentes resultados. Também há possibilidades de se estender as áreas de profissionalização para odontologia, saneamento, laboratório e especializações de nível técnico para os auxiliares recém- formados. Esperamos que em breve os cursos de nível superior em saúde também sejam acessíveis a esses profissionais, diz Lavínia.
Médicos, pajés, professores
Lavínia Oliveira relata que os próprios alunos levavam em conta a sua realidade, abordando as chamadas doenças do índio, diferentes das doenças do branco. E reportavam-se ao conhecimento da medicina tradicional praticada dos pajés, rezadores e raizeiros. Os alunos são de etnias diferentes e tiveram oportunidade de trocar experiências sobre o conhecimento tradicional de cada um, seus tabus alimentares e os cuidados de cada povo nas diferentes etapas vida, explica. Além disso, pajés fizeram palestras sobre o conhecimento indígena da história dos povos e das doenças. Pesquisas foram feitas nas aldeias junto aos mais velhos para conhecer o caminho e origem de algumas moléstias
Os profissionais de saúde da Unifesp, que atuam no Distrito Xingu, foram os professores do curso. Eles receberam capacitação pedagógica na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, seguida de várias oficinas de trabalho e reuniões temáticas para preparação dos módulos realizadas com a Escola de Saúde de Cuiabá. Para o ensino fundamental foram contratados professores específicos das áreas de português, matemática, ciências naturais e ciências sociais.
Módulos e parceiros
O curso foi composto por sete módulos teóricos - seis no Xingu (cinco no Posto Indígena Diauarum e 1 no PI Pavuru) e um na cidade de Lins/SP - e foram dedicados ao estudo das doenças emergentes em áreas indígenas, como diabetes, hipertensão e alcoolismo. A parte prática se desenvolveu na Casa do Índio de Canarana/Xingu, assim como em visitas a hospitais e serviços de saúde no Mato Grosso e em São Paulo.
A ATIX (Associação Terra Indígena do Xingu), parceira do Instituto Socioambiental (ISA), teve papel fundamental ao viabilizar os locais para os cursos, discutir os conteúdos e apoiar o trabalho prático nas aldeias. O conselho de saúde do DSEI Xingu também acompanhou o processo. Lavínia destacou o apoio de outras instituições como a Funai e a Funasa, que ofereceram suporte financeiro, e o ISA, com a participação ativa de Maria Cristina Troncarelli (Bimba) e Estela Würkre.
Para cumprir a exigência legal do ensino fundamental foi formalizada uma parceria com a Seduc (Secretaria de Educação do Mato Grosso), que realizou um processo especial de exames supletivos, no qual os alunos obtiveram excelentes resultados.
A cerimônia de formatura terá início às 20hs, na Unifesp/Escola Paulista, em São Paulo (Teatro Marcos Lindenberg, R. Botucatu, 862). Na ocasião, será apresentado um vídeo feito pela TV-Unifesp com depoimentos e momentos desse processo de formação. A mesa será composta por várias personalidades como Orlando Villas Boas, Prof. Dr. Roberto G. Baruzzi e lideranças indígenas, entre outros. Após os discursos, haverá uma apresentação com cantores do Xingu e um coquetel de encerramento.
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