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Povos da floresta em foco

O Paraense-Belém-PA
04 de Nov de 2002

A fotógrafa Rosa Gauditano retratou a diversidade cultural de oito tribos indígenas do Brasil, em exposição que já passou pelos Estados Unidos e México e agora aporta em Belém

A partir de terça-feira (5) a exposição "Índios, os Primeiros Habitantes" mostrará à população de Belém 20 fotos que revelam a beleza das diversas tribos indígenas do Brasil. O registro foi feito pela fotógrafa paulista Rosa Gauditano. É o resultado de dez anos de pesquisas e documentações sobre a cultura dos primitivos habitantes do Brasil. Oito povos indígenas foram fotografados, entre eles os Kaiapó (sul do Pará), Carajá (ilha do Bananal), Ianomâmi (Rondônia) e Xicrin (sul do Pará).
Tudo começou no I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu em Altamira, em 1989. Rosa, que tinha começado na profissão em 1978, cobria o evento para uma revista de bordo da empresa Transbrasil. Durante o trabalho, ficou encantada com a riqueza dos povos indígenas. Descobriu que a maior parte deles está no Pará. Dos 216 existentes, 58 estão localizados no Estado. Começaram então as constantes viagens por todo o Brasil, sempre divulgando a questão indígena para veículos de comunicação.
Durante essa peregrinação que atravessa uma década, Rosa sempre pautou seu trabalho pelo apuro estético. Para conseguir boas fotos, ela preferia manter primeiro um contato de amizade, deixando os índios bem à vontade. "É melhor quando eles não notam mais a tua presença, quando já te deixaram entrar na tua intimidade. Você se tornou amigo deles. Eles entendem o seu trabalho. Aí sim, acontecem as melhores fotos", opina.
Ter acesso a uma cultura tão diferente é sempre uma aventura. A fotógrafa teve de enfrentar as grandes distâncias da região amazônica nem sempre com bons transportes. "Às vezes tinha de pegar carona em veículos, alugar carro, pegar avião. Mas nem sempre era assim. Eu acompanhei muitos repórteres que produziam antes. Sempre existia uma produção", explica Rosa, comentando que levar comida estava entre as providências necessárias. Outra parte da aventura foi a comunicação com os povos. Só os professores e o chefe da tribo falavam português. Os outros membros falavam línguas indígenas. A alternativa era se comunicar por gestos.
Fotografando e pesquisando, Rosa aprendeu muito sobre a cultura desses povos indígenas, que continuam preservando suas tradições, apesar da modernidade. Eles querem manter principalmente a língua, os costumes e os rituais de passagem. Os rituais dos índios Xavante, do norte do Mato Grosso, por exemplo, já se tornaram parte da educação. Numa certa idade, os meninos saem da casa dos pais para morar com os padrinhos. São estes tutores que ensinam tudo sobre a vida adulta. Na iniciação desta nova fase, eles passam pelo ritual da água durante quarenta dias, uma prática semelhante à hidromassagem. Apesar da preservação, os costumes também vão se modificando. O ritual da água, por exemplo, levava 3 meses. Agora os Xavante passam apenas 40 dias. A essência, entretanto, continua a mesma: educar e fortificar o corpo. Rosa, que já identificou vários aspectos da vida indígena, pretende registrar tudo isso num livro, com fotos e textos, que já está praticamente pronto. Agora, procura patrocínio.
Outro povo que a fotógrafa se lembra com carinho é a tribo Carajá, da Ilha do Bananal, que sofre interferências culturais de fora por causa de estradas e invasões. Eles continuam preservando sua cultura, através da beleza da cerâmica, das pinturas e do artesanato. "Eles são também exímios canoeiros. Cada povo tem ligação diferente com a natureza", explica a fotógrafa. Muitos deles têm na guerra sua filosofia de vida. É o caso dos Kaiapó, que têm uma cultura forte, na opinião da fotógrafa. Tronco da etnia Jê, eles gostam de colorido durante as festas e rituais de iniciação. "É uma cultura extensa, que eu ainda não conheço muito bem', comentou a fotógrafa.
Um pouco do histórico dos povos indígenas poderá ser conferido durante a mostra. A maioria das fotos é grande, algumas até em forma de pôster, com 2,5 metros. Todas são acompanhadas de textos com informações sobre a etnia fotografada. Na abertura, índios da tribo Xicrin, que vivem em Marabá, vão mostrar suas danças típicas, numa promoção da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer.
É a primeira vez que a exposição vem ao Pará. A fotógrafa vem tentando trazer a mostra ao Estado desde 1998. A riqueza cultural ainda não é conhecida entre muitos brasileiros. Quando a exposição esteve no Sul, Rosa viu muita gente se perguntando onde ela tinha fotografado tantas etnias. "E as pessoas ficavam maravilhadas com a nossa própria realidade". Nos EUA, onde a exposição também esteve no ano passado, não foi diferente. Os visitantes ficaram entusiasmados. Para matar a curiosidade dos visitantes, ela fez palestras sobre as tribos indígenas. A mostra, que tinha 58 fotos, ficou seis meses no segundo maior museu norte-americano, o Houston Museum of Natural Science.

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