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Povo Yawanawa busca apoio do DRS-BB para movelaria

Página 20 - www.pagina20.com.br
Autor: Flaviano Schneider
11 de Set de 2008

Projeto foi apresentado ontem para representantes do Banco do Brasil

A índia Maíra Yawanawa fez ontem a apresentação de projeto que visa implantar uma movelaria com aproveitamento de madeiras caídas às margens do rio Gregório na terra Indígena do Rio Gregório durante encontro na sede do Banco do Brasil (BB) do qual participaram Gilberto Maia, gerente do programa Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do BB para o Amazonas, Acre e Roraima, Geraldo Gonçalo de Oliveira, gerente do DRS no Acre, Charle Yawanawa, Dinah Rodrigues Borges, da Seaprof e Silvia Monteiro pelo gabinete do senador Tião Viana.

Com desenvoltura, Maíra que é estudante de administração expôs aos presentes o processo de resgate cultural promovido pelos Yawanawa e sua busca incessante de alternativas que visam promover atividades econômicas rentáveis permitindo assim que possam sobreviver de maneira digna em sua Terra Indígena que perfaz um total de 92 mil hectares na região do rio Gregório, afluente do rio Tarauacá. Segundo explicou, o projeto prevê que a movelaria será implantada na aldeia Nova Esperança, a maior das quatro, que compõem o universo Yawanawa. Em Nova Esperança vive quase a metade dos Yawanawa que totalizam uma população de 670 indígenas.

Na Expoacre deste ano, os Yawanawa fizeram exposição de seus móveis, com grande sucesso. O senador Tião Viana em suas viagens pelo rio Gregório observou a quantidade de madeira caída no rio e em suas margens, fenômeno que acontece todos os anos, devido à força das águas durante as cheias e consequente desbarrancamento. Em conversa com o cacique UBiraci Brasil surgiu a idéia do aproveitamento dessa madeira, daí surgindo o projeto de movelaria que envolve o gabinete do senador, a Seaprof, Seplands e agora o DRS do BB.

Maíra contou que a população Yawanawa vem aumentando, ocorrendo de 35 a 40 nascimentos por ano, mas ressalvou que são os únicos representantes de sua etnia e que se eles não preservarem sua identidade cultural e sua vida comunitária, sua etnia estará extinta. Para isso foi iniciado um movimento de resgate e de aglutinação do povo Yawanawa, inclusive com o afastamento de missionários americanos, que tentaram apagar a memória da tradição deste povo indígena.

Desde 1993, os Yawanawa trabalham comunitariamente no Projeto Urucum e fornecem corante natural de urucum com a empresa Aveda Corp. Inc. Em 2002, consolidando o processo de resgate cultural foi fundada a Cooperativa Agroextrativista Yawanawa que ampliou os horizontes em direção à autonomia econômica. Em 2004, foi lançada a grife Yawanawa com lançamento de 12 modelos diferentes de camisetas e vestidos e com estampas dos desenhos e pinturas Yawanawa. Em 2005, a grife participou de desfile no Fashion Mall, no Rio de Janeiro, com grande repercussão. Outra grande realização é o Festival Yawa, que acontece todos os anos e tem repercussão internacional.

Segundo Maíra, seu povo era originariamente nômade, acompanhando os ciclos da floresta. Com a terra indígena eles ficaram circunscritos a uma área de onde precisam tirar sua sobrevivência, através da pesca e da caça. Com 98% de área preservada a terra indígena, inclusive os lagos, são invadidos por caçadores com cachorros, o que aliado ao barulho da motoserra faz com a caça fuja para longe. Para ela o crescimento da população exige novas alternativas econômicas e os Yawanawa as estão buscando, mas tendo em mente sempre o valor de sua cultura tradicional e a preservação da natureza.
Projeto atende requisitos do DRS

O gerente do DRS, Gilberto Maia gostou do que ouviu e entendeu a importância do DRS participar do projeto Yawanawa, o que ele diz que vai acontecer seja de forma direta ou de forma indireta colocando outros parceiros na empreitada. Segundo ele, não interessa ao DRS o projeto movelaria com unidade independente, mas pelo que ele representa dentro de um contexto social, comunitário, ambiental cultural. Segundo ele, o DRS não enxerga a floresta como algo intocável e se os índios Yawanawa decidem por conta própria explorar esta madeira de maneira sustentável, já que isto serve de um suporte a mais para todo um processo de desenvolvimento cultural e econômico e que beneficia um expressivo número de pessoas, os requisitos para implantação de um projeto de DRS estão atendidos. Ele fez dois alertas, em relação à certificação da madeira a ser utilizada na movelaria e em relação à energia utilizada nas atividades da terra indígena, sugerindo pesquisa de novas formas de energia a partir de recursos renováveis, entre eles o açaí - abundante na terra indígena - e de cujo caroço pode ser obtida energia através de um processo de gazeificação - projeto piloto já em execução em Manacapuru, no Amazonas.

Gilberto Maia recebeu uma cópia detalhada do projeto, o qual considerou que tem viabilidade econômica, e um cd com imagens do Festival Yawa, do qual ele provavelmente participará no próximo mês, quando certamente trará boas notícias para o projeto de movelaria.

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