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Povo tem consciência ambiental

A Crítica-Manaus-AM
03 de Fev de 2002

Quem sai da sede de Tabatinga para Santa Rosa vai descer o rio Solimões e passar por vários igarapés e igapós até chegar ao igarapé Tacana, onde vivem 26 famílias, num total de 148 pessoas. Eles não sabem desde quando habitam no lugar, só que "faz muito tempo", e estão certos que é preciso preservar a terra, que tem um significado muito especial para os indígenas.

Assim como a terra, a água também faz parte da vida deles. É ela que permite o acesso a esse mundo tão peculiar. Nas "estradas de rio" se o visitante for de deslizador a viagem dura pouco mais de três horas de ida e quatro de volta, porque a embarcação estará subindo o rio, no sentido contrário da correnteza. No caminho já não há tantas canoas. São muitos os deslizadores e motores de popa, que encurtam as distâncias e não exigem o esforço de antes.

O espetáculo das águas, ora negras, ora barrentas torna prazerosa a viagem. Por vezes o caminho fica estreito, depois mais largo, às vezes o espelho d'água está perfeito, revelando a paisagem invertida das margens. O barulho da lancha rompe a tranqüilidade espantando as aves, que fogem pintando a passagem com suas plumagens multicoloridas.

No porto, uma placa do Ministério da Defesa/Governo Federal indica que Santa Rosa está na área do Projeto Calha Norte - de vigilância das fronteiras - mas além da placa não há presença militar por aqui. As crianças são as anfitriãs. Sorriem barulhentas, mas excluem os visitantes, preferindo conversar na língua-mãe. As mulheres também falam pouco. Com alguma dificuldade, Eva Maximiano, 29, conta que é mulher do agente de saúde, Salvador. Tem seis filhos, um deles é Romário, de sete anos, uma herança da televisão que trouxe os jogos de futebol.

No início do ano os dias costumam ser nublados, mas isso não preocupa os ticunas. Eles pescam, caçam e cuidam das plantações. A banana não é tão exigente, ou seja, a melhor época para cultivá-la é todos os dias. Também come-se banana todos os dias. Na casa do capitão a mulher dele, Melita, brinda os visitantes com pupunha cozida, das melhores que se cultiva em Santa Rosa. Outro morador, Valdo Jonas, também se preocupa em mostrar a hospitalidade do povo e oferece mapati, fruta conhecida como "uva da Amazônia".

Entre várias comemorações eles festejam o dia da padroeira, Santa Rosa, em 29 de agosto e a festa da moça nova. No ano passado homenagearam Nanci, uma das filhas do capitão, que completou 13 anos. Foi escolhido um dia de lua cheia para as danças, com muita comida - frutas, carne de caça e peixe - e a participação de convidados de comunidades ticunas vizinhas. Os vizinhos moram a quilômetros de distância nas comunidades de Água Limpa, Novo Cruzador, Nova Extrema, Monte Sinai, Pena Preta e Nossa Senhora Aparecida. Os nomes mostram a influência da Igreja Católica. Santa Rosa é uma das menores comunidades ticunas dessa área. Tem 39 eleitores e não costuma receber visitas de políticos, conta o capitão. Talvez isso seja até bom para eles.

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