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Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe perde mais um do seu depositário da história

CIMI
Autor: Cimi Regional Leste - Equipe Pataxó Hã-Hã-Hãe
07 de Jun de 2006

O povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, localizado no sul da Bahia, perde mais um dos seus tronco velho, depositário da história de luta e resistência deste povo. Foi sepultado ontem 05/06, às 17:00 horas, num clima de muito choro, dor e tristeza, Juvenal Rodrigues dos Santos, Seu Jô, como era carinhosamente conhecido e estimado por todos. O motivo da morte ainda é desconhecido, mas tudo indica que tenha sido um infarto. Seu Jô tinha 69 anos de idade, saúde aparentemente normal. Há cerca de duas semanas atrás sentiu umas dores no corpo, foi hospitalizado e medicado e retornou para casa. Na noite do dia 04/06 por volta das 21 horas, sentiu forte falta de ar, e dores no peito, seus familiares tentaram conseguir um veiculo para transporta-lo para um atendimento urgente no hospital em Pau Brasil, mais foi muito difícil, só após algum tempo conseguiram um veiculo, mas infelizmente seu Jô não resistiu vindo a falecer ainda na estrada antes de receber os cuidados médicos, por volta da 23 horas do dia 04/06.

A história de vida de seu Jô se confunde com a luta de seu povo...

Amigo sereno, acolhedor, liderança tradicional do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe e conselheiro de sua enorme família composta por 13 filhos, e da comunidade, mais de 100 netos, bisneto, tataraneto. Dos 13 filhos, perdeu dois na árdua luta pela reconquista do território. O cacique João Cravim (35 anos), assassinado em 1988, a golpes de facão numa emboscada na estrada que liga a aldeia a Pau Brasil e Galdino (44) queimado vivo em Brasília, em abril de 1997, quando fazia parte de uma comitiva que tinha ido a capital federal reivindicar a agilização no julgamento na Ação de Nulidade Títulos que se encontra no STF para ser julgada. Pai também de Marilene de Jesus (Sir), primeira mulher a assumir o cacicado do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe. Entre os mais de 100 netos, está Wilson de Jesus (Ninho) duas vezes cacique do seu povo, um dos criadores e ex-coordenador da Apoinme e atual chefe de posto da Funai.

Seu Jô sempre se caracterizou pela clareza e determinação na luta pela reconquista do seu território, parceiro de caminhada de lideranças como Samado Santos, Higino Muniz, Desidério, entre outras que sempre tiveram como meta principal e consumiram as suas vidas por este ideal: Queremos nossas terras de volta”. Atualmente seu Jô liderava e motivava as reuniões dos Velhos”, evento que acontecia mensalmente na aldeia e reunia as lideranças velhas do Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe com o intuito de reforçar a luta pela terra.

Nem mesmo a perda de seus filhos (João Cravim e Galdino) conseguiu demove-lo deste ideal. Muito pelo contrário, parece tê-lo motivado muito mais. Ele sempre afirmava que seus filhos serviram de sementes de esperança, plantados no chão de suas terras. Sempre teve ao seu lado D. Minervina, parceira, companheira de todos os momentos, sempre firme e determinada, de aparência frágil mas de uma enorme fortaleza. Todos aqueles que conheceram estas duas figuras sempre se impressionavam com a determinação e a ternura que transmitiam.

Seu Jô parte para uma nova experiência junto ao Pai, deixando para trás, muita saudade e um forte sentimento de perda em seus amigos, netos, bisnetos, filhos, e em nós do Cimi que tínhamos ele como fonte de reabastecimento espiritual. Perdemos um conselheiro, um amigo e colaborador direto do nosso trabalho junto a esse povo. Sabemos como será difícil continuar daqui pra frente sem seu Jô, mas continuamos acreditando que essa nova experiência sem seu Jô será importante para que ele mesmo distante perceba, o quanto ele aqui plantou, na simplicidade, na bondade, e na humildade. Que a presença dele em espírito possa continuar em nosso meio nos dando força sempre.

E como ele mesmo sempre nos dizia: Apesar das percas e derrotas temos que continuar caminhando sempre para frente em busca daquilo que queremos”. Que os sonhos e a determinação de mais esta importante liderança que parte antes da gente, sirvam de ânimo para que possamos juntos com os povos com os quais trabalhamos construir um Novo Mundo Possível.

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