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Potencial eólico do país supera o hidrelétrico

O Globo, Economia, p. 41
24 de Jul de 2011

Potencial eólico do país supera o hidrelétrico
Segmento atrai investimentos e projeção de geração de energia salta de 143 GW para pelo menos 300 GW

Vivian Oswald

BRASÍLIA. Em menos de uma década, a energia que vem dos ventos conquistou espaço no mercado brasileiro, atraiu investimentos bilionários e tem hoje potencial superior ao hidrelétrico. Levantamento inédito da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base nas informações recebidas pelas empresas, está redimensionando de 143 gigawatts (GW) para pelo menos 300 GW o potencial de geração de energia eólica no país. No caso da hidreletricidade são estimados 261 GW.
Os dados farão parte de um sistema que já está pronto, mas que só deve se tornar público no fim do ano. A ideia é garantir ao mercado o maior número de informações sobre os ventos e as localidades de maior incidência em tempo real, segundo o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim.
Brasil é o 12 mercado mais atrativo do setor
É atrás desses bons ventos que grandes multinacionais estão desembarcando no país. O Brasil tornou-se o 12 mercado mais atraente do mundo para negócios em energia renovável e pode subir para a 10ª posição até o fim deste ano, no ranking da Ernst & Young Terco para 35 países, segundo antecipou ao GLOBO o sócio da área de transações da consultoria, Luiz Claudio Campos.
- Esta é a melhor posição que o Brasil já atingiu no ranking, que não inclui as hidrelétricas por não considerá-las tão verdes - disse.
A China se mantém na liderança, sendo seguida dos Estados Unidos.
As companhias do setor já não esperam nem sequer os leilões realizados pelo governo e começaram, este ano, a negociar energia eólica no mercado livre, o que também é inédito. É o caso da belga Tractebel Energia. A Eletrosul, que deve aumentar de 15 para 45 torres o número de aerogeradores - como são chamados os imensos ventiladores que produzem energia eólica - no parque de Cerro Chato, no Rio Grande do Sul, se prepara para entrar no mercado livre também.

Cresce aposta dos estrangeiros no Brasil
Eletrosul prevê exportar energia para o Uruguai

BRASÍLIA. O diretor de Engenharia e Operação da Eletrosul, Ronaldo Custódio, diz que, neste momento, todos os esforços da companhia estão concentrados no leilão que será realizado nos dias 17 e 18 de agosto.
- Estamos inscritos com 120 MW. Já estamos nos formatando para o mercado livre depois do leilão - afirmou o diretor, lembrando que, em breve, a empresa poderá exportar energia para o Uruguai a partir de acordo negociado entre os governos brasileiro e uruguaio.
Só em 2011 o Brasil está recebendo R$100 milhões em duas novas fábricas de equipamentos. Em outubro, a francesa Alstom inaugura a sua primeira fábrica no Brasil de aerogeradores. A planta ficará no polo de Camaçari, na Bahia. O investimento de R$50 milhões tem por objetivo marcar espaço num mercado que cresce a olhos vistos, enquanto o europeu, que ainda luta para vencer a crise econômica, parece ter arrefecido.
- É um mercado muito promissor e com alto potencial. Inicialmente, a fábrica está dimensionada para produzir 300 MW/ano. A ideia é atender ao Brasil, que ficará com dois terços do total, e alguns países da América Latina - afirmou ao GLOBO Marcos Costa, vice-presidente do setor Power na Alstom Brasil e América Latina.
Brasil deve receber R$25 bi para energia eólica
Há duas semanas, a espanhola Gamesa também inaugurou sua primeira fábrica no país, no polo de Camaçari. Um investimento de R$50 milhões com capacidade de 400 MW/ano, a unidade vai produzir equipamentos com 40% de conteúdo nacional, conforme negociado com o BNDES. A expectativa da empresa é ter um índice de nacionalização de 50% em 2012 e de 60% em 2013.
Até 2013, o país receberá nada menos que R$25 bilhões em novos recursos para a energia eólica. Este é o valor que já está contratado. Ou seja, ainda não considera os projetos do próximo leilão. Segundo Tolmasquim, o país parte de uma capacidade instalada de praticamente zero em 2003 para mais de 11 GW em 2020.
Ele explica que a revisão do potencial do país de 143 GW, como está no Atlas Eólico Brasileiro de 2001, para 300 GW se dará pelas novas tecnologias (as torres, que há até pouco tempo tinham 50 metros, agora têm 100 metros de altura), a qualidade das informações e do próprio vento brasileiro.
Outra vantagem do mercado brasileiro, segundo Tolmasquim, é o fato de a energia eólica aqui não ser subsidiada, diferentemente de alguns países europeus como Espanha e Portugal:
- O valor que está se formando é compatível com o mercado. Não é artificial como em outros países. Hoje, a energia eólica é mais cara que a hídrica, mas está no mesmo nível da térmica. (Vivian Oswald)

O Globo, 24/07/2011, Economia, p. 41

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