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22 de Jul de 2024
Por uma restauração ecológica indígena
Encontro Indígena de Restauração Ecológica debate estratégias para recuperação ambiental e lança carta manifesto
22 de julho de 2024
Entre os dias 8 e 12 de julho de 2024, a cidade de Juazeiro, na Bahia, sediou o primeiro Encontro Indígena de Restauração Ecológica (I EIRE), reunindo povos de quarenta e uma etnias para discutir a temática da restauração ambiental em territórios indígenas. O evento, realizado como parte da 5ª Conferência da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE), promoveu debates e trocas de conhecimentos entre os representantes indígenas, técnicos de organizações e iniciativas da sociedade civil e governo, envolvidos na temática da conservação e recuperação dos ecossistemas.
Como pano de fundo para as discussões, os representantes indígenas consideraram que a demarcação de terras é a "luta-mãe" de todos os povos indígenas do Brasil, pois sem os territórios tradicionais não há como cuidar da natureza e dos recursos naturais. Nesse sentido, Iran Xukuru, da Terra Indígena (TI) Xukuru (PE), ressaltou na sua fala que a natureza é parte integrante dos seus sistemas de vida, essencial para a sobrevivência física e cultural. "Tudo que fere nosso sagrado nos degrada", afirmou.
Iran Xukuru, na abertura do SOBRE. Foto Robert Miller/Acervo ISPN
Um ponto importante discutido foi a conservação das áreas indígenas, que concentram os ecossistemas mais preservados do país. Pesquisadores presentes na SOBRE ressaltaram a importância da biodiversidade desses territórios, que são fontes valiosas de sementes para a restauração de áreas degradadas.
"A ação de degradação não é dos indígenas", reforçou Pio Tsimhoropupu Butsé, do povo Xavante da TI São Marcos (MT). Muitos territórios indígenas, quando são reconhecidos pelo governo e retomados pelas comunidades, estão devastados por atividades econômicas como monoculturas, tornando a recuperação ambiental um desafio que exige esforços conjuntos e estratégicos. Este é o caso da TI Marãiwatsédé (MT), representada no evento pela cacica Carolina Rewaptu Xavante, que falou dos desafios enfrentados para restaurar as áreas do território que por anos foram esgotadas pela pecuária e soja.
As discussões também trataram dos mecanismos de financiamento para ações de restauração, que, conforme diversos representantes indígenas, são de difícil acesso e frequentemente cobrem apenas uma parte das atividades, como o plantio. Segundo Bárbara Tupiniquim, da TI Tupiniquim (ES), a manutenção dos plantios nos anos subsequentes, essencial para o sucesso da restauração, é frequentemente considerada uma contrapartida e não é devidamente remunerada. Esse cuidado contínuo da terra é vital não apenas para a restauração, mas também para o bem-estar das comunidades indígenas, a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ambientais.
Feira de troca de sementes durante o EIRE. Foto Raissa Ribeiro/Acervo ISPN
O I EIRE foi organizado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e contou com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID), o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), The Nature Conservancy (TNC), o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Instituto Çarakura, Rede de Sementes do Xingu (ARSX) e a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE).
ISPN e parceiros indígenas no EIRE
João Guajajara relatando a experiência da brigada indígena da TI Caru. À esquerda, de boné, Roberto Miller, assessor técnico do ISPN. Foto: Jessica Pedreira/ Acervo ISPN
Na manhã do dia 10 de julho, o EIRE contou com duas mesas de debates moderadas pelo ISPN. A primeira contou com representantes de diversos setores do governo, que discutiram o atual cenário político da restauração ecológica no Brasil.
Já a segunda mesa apresentou experiências e iniciativas de coletivos envolvidos na restauração ecológica. Uma das experiências relatadas foi sobre as ações de restauração ecológica no Mosaico Gurupi, formado por seis TIs nos estados do Maranhão e Pará e uma Reserva Biológica. João Reis da Silva Guajajara, brigadista da TI Caru (MA), que recebeu apoio do ISPN, Jorge Guajajara da Silva, brigadista da TI Araribóia (MA), apoiado pela Funai, e Arlete Guajajara, da TI Rio Pindaré (MA) e integrante da equipe do ISPN, apoiada pela Aliança pela Restauração da Amazônia, compartilharam relatos sobre seus trabalhos com restauração ecológica, após uma breve contextualização dos trabalhos do ISPN no Mosaico Gurupi.
Complementando as falas, foi exibido um vídeo curto da aula prática do 4o Módulo do Curso "Do Quintal à Paisagem - Agroflorestas, Restauração e Gestão Integrada de Paisagens no Mosaico Gurupi", realizada na agrofloresta implantada pela Brigada Federal da TI Caru.
Robert Miller, assessor técnico do ISPN, destacou a importância da integração entre o conhecimento tradicional indígena e as práticas modernas de restauração. Ele observou que os povos indígenas, por meio de suas cosmovisões, cantos, rituais e reflexões, nos permitem enxergar o sagrado na paisagem e na natureza, algo que a cultura ocidental, com sua visão predominantemente utilitária dos recursos naturais, muitas vezes não permite. Jessica Pedreira, Terena Castro e Raissa Ribeiro, também assessoras técnicas do ISPN, estiveram presentes e contribuíram para o debate.
Carta Final: "Chamado para restaurar ecossistemas e cabeças com sabedoria ancestral indígena"
Leitura da carta final do I EIRE. Foto Robert Miller/Acervo ISPN
O encontro resultou na elaboração de uma carta que sublinha a importância de envolver os povos indígenas na restauração ecológica. Os principais pontos discutidos incluem:
Conhecimento Tradicional: Os povos indígenas possuem um vasto conhecimento acumulado ao longo de gerações sobre os ecossistemas locais.
Estratégias Sustentáveis: Eles desenvolvem a restauração ecológica a partir de estratégias sustentáveis de uso dos recursos naturais.
Conservação dos Ecossistemas: Mesmo ao transformar o ambiente, os indígenas mantêm os princípios ecossistêmicos de funcionamento e não colocam em risco as condições de reprodução desses sistemas.
Técnicas Eficazes: Seu conhecimento tradicional inclui técnicas de manejo da terra, seleção de espécies vegetais e práticas de conservação que podem ser altamente eficazes na restauração de ecossistemas degradados.
Acesse a carta na íntegra aqui
https://ispn.org.br/site/wp-content/uploads/2024/07/CARTA-I-EIRE_Restau…
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